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O festival de besteiras e burrice que assola o Brasil

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Márcio Chaer (*) –

A imprensa brasileira tem raiva de escolas, cursos, intercâmbios e eventos acadêmicos. É uma neurose. Um grande empresário brasileiro, o publisher Octavio Frias de Oliveira, dirigindo-se a jornalistas da Folha, desabafou, certa vez: “Eu não entendo uma coisa. Com tanta coisa errada neste país, por que vocês perdem tanto tempo azucrinando escolas e pessoas com conteúdo que tentam compartilhar conhecimentos com seus semelhantes?”

No próximo dia 15, o Grupo Globo, com o jornal Valor Econômico à frente, promove em Nova York o “Summit Valor Economico Brasil-EUA” com autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. O folder do evento não informa quem são os patrocinadores. Mas, naturalmente, os convidados serão custeados pela organização.

A Folha de S.Paulo e o portal UOL, igualmente, promovem eventos com autoridades públicas — sempre patrocinando passagens e hospedagens — mas sem dizer de onde saiu o dinheiro.

O Grupo Globo, há quase vinte anos, promove um evento elogiável: o Prêmio Innovare. Evidentemente, os ministros que participam da premiação têm passagens e hospedagem pagas pela organização. Como em Londres. Igual a Nova York.

Medíocres e hipócritas

Veículos de comunicação fazem isso. Promovem eventos patrocinados, aproximam empresários e autoridades e não há nada de errado. Diferentemente do jornalismo, o Judiciário brasileiro se profissionaliza, tem órgãos de supervisão.

Na semana que passou, em Londres, a Consultor Jurídico participou da organização de um Fórum em Londres. Assim como já fizemos em Lisboa, Roma, Berlim e Stresa (Itália) e ainda queremos promover em muitos países. Até na Rússia e China. Motivo de orgulho.

Jornalistas medíocres e hipócritas resolveram lançar suspeitas sobre esse evento, que foi promovido por algumas das empresas que pagam seus salários. Falsos moralistas, demagogos e populistas. A dois jornalistas que tiveram a cara de pau de me perguntar acusatoriamente sobre a honestidade do Fórum, disse-lhes que não lhes devo satisfação alguma, mas que toparia falar de patrocinadores se eles revelassem quem patrocina os seminários (iguais aos de Londres) de suas empresas.

Claro que pode haver fundada suspeita quando houver indícios, provas ou elementos que demonstrem haver coisas erradas. No caso, contrapartidas. Nos anos 90, o empresário Mario Garneiro criou um Instituto de Estudos Jurídicos para promover grandes eventos. Por uma não coincidência todos os juízes, desembargadores e ministros convidados eram, exatamente os julgadores escalados para julgar suas encrencas.

A mesma prudência não se vê hoje. Pelo critério torto de jornalistas de araque, quando os eventos acadêmicos não são promovidos por suas empresas, padecem, inapelavelmente, de presunção de desonestidade. Se um juiz participa de um seminário é porque ele está “comprado”.

Joio e trigo

Não importa se no evento o presidente de Portugal identifica no governo francês o grande obstáculo para que o Brasil exporte seus produtos agrícolas. Nem se, na conferência, constata-se que as big techs devem ser desmembradas por haver conflito de interesses na sua genética.

Se o evento constrói um modelo inteligentíssimo de presidencialismo com ferramentas parlamentaristas ou, como agora, que Tony Blair lance a fórmula de colocar países árabes na mesa de negociação de paz com Israel. Não. O que importa é se os convidados ficaram em hotéis caros ou se no jantar os ministros fumaram charutos. É o Festival de Besteiras que Assola o País…

Supor que patrocínios implicam, automaticamente, favorecimentos ilegítimos, deixa jornais, sites, emissoras e revistas numa situação delicada. Se a suposição vale para empresa de eventos — ou para outros veículos de comunicação — então vale para todos. Esse jornais estão admitindo a presunção de que os patrocínios que recebem se respondem com favorecimentos espúrios. É matéria para CPI, investigação do Ministério Público ou, quem sabe, para o inquérito do Xandão.

Prova dos nove

Com o advento da internet é fácil conferir se anunciantes e patrocinadores são poupados no noticiário. Isso pode ser objeto de seminário, como o que o Estadão promoveu com o patrocínio da Odebrecht. Ou empresas que passaram a patrocinar camarotes da Globo ou merchandising em novelas. O evento de Londres teve pelo menos um patrocinador do grupo Globo. Pôde-se dizer que o dinheiro para um foi limpo e outro, sujo, como supôs a colunista social Malu Gaspar?

Essas fantasias e delírios não se encerram em si próprias. Existe um contexto. Foram essas artimanhas que deram à luz o esquema “lava jato” e que só serviram para enganar desavisados e eleger Jair Bolsonaro. A jogada consistia em desmoralizar e emparedar os ministros do STF que tinham o poder de brecar as práticas jurídicas corruptas da organização criminosa que germinou em Curitiba.

Em vez de pedir desculpas pelo que fizeram ao Brasil, a canalhada que apoiou essa página infeliz da nossa história, quer revanche. E a vingança consiste em perverter e desacreditar os ministros do Supremo e do STJ. Como? Simples: Aduzir que ministros são desonestos porque participam de eventos acadêmicos. Claro. Deveria existir um artigo no Código Penal: é crime participar de seminários. Exceto se os seminários foram promovidos pela Folha, Estadão, Globo, UOL e Valor.

Convenhamos. Seo Frias tinha razão. Com tanta coisa errada neste país, como o saneamento básico crônico, um Estado deficiente nos seus papéis básicos, criminalidade sem controle, entre outras desgraças, jornalistas desqualificados — que jamais leram um processo ou assistiram a um julgamento — acham que eventos acadêmicos são atos de corrupção.

(*) É diretor da revista Consultor Jurídico e assessor de imprensa.

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