Myla Meneses (*) –
Bell Hooks (1995), em texto sobre intelectuais negras, aponta como “estar à margem” produz uma forma particular de “ver a realidade”, e, assim, olha-se “tanto de fora para dentro quanto de dentro para fora”. No Brasil, a estrutura de classificação racial se dá por conta das nossas características visíveis e dos estereótipos adotados. Ou seja, vivemos o que Oracy Nogueira chamou de preconceito de marca, e a cor da pele é o centro da questão, que nos coloca ou retira de lugares, nos atribui estereótipos e estigmas sociais. Mas, vivemos num país que criou políticas higienistas e de embranquecimento, uma sociedade que não tem vergonha de admitir que quanto mais próximo do branco, melhor; quanto mais distante disso, pior. É só a gente notar como são tratadas pessoas com a pele retinta. Ter a pele escura em uma sociedade que nos classifica racialmente faz com que estejamos sempre relacionados a atributos negativos, e quem quer ser sempre o que não presta?! E vemos isso estampado até na forma como nos expressamos, por exemplo: a “lista negra”, a “peste negra”, a “fome negra”… são retratos daquilo que temos construído mentalmente e transbordamos por meio da combinação de palavras. Nenhum discurso é isolado. E sempre ideológico.
Então: é negro ou preto?
Estamos vendo pessoas PRETAS avançando realmente na sociedade? Ou são as pessoas de pele menos retinta quem estão conseguindo ocupar lugares? Existem os pretos e existem os negros. Como Abdias do Nascimento e fizeram ao resignificar o uso da palavra negro, que passou a deixar de ser pejorativo para mostrar o quanto de força pode conter quando usamos o que o opressor faz conosco a nosso favor. Passamos a assumir que somos negros e fizemos isso a nosso favor é significativo. Assim como você, branco, deixar de falar “moreno”, “mulata”, “pretinho”, “de cor” é necessário. Todos esses termos “diminutivos” refletem um racismo enraizado que precisa acabar.
Eu sou negra (parda, para o IBGE) e, para alguns próximos, sou preta, carinhosamente até. Mas se você é branco e não tem intimidade comigo, reveja se me chamar pela minha raça é cabível. Nesse caso, a nomenclatura que você deve usar é negro. Precisamos deixar claro, que não é uma questão de tanto faz e também. Não podemos ser engessados e pensar que o que vivemos com relação ao racismo no Brasil é idêntico aos outros contextos: aqui inventamos maneiras próprias de matar pessoas pretas ou negras apenas olhando para elas. Além disso: conseguimos fazer por muito tempo e infelizmente ainda conseguimos, que pessoas acreditarem que não ser branco não é importante por aqui. Mas é. E a gente vê isso todos os dias.
(*) – Professora, Consultora e Pesquisadora e Ativista do Movimento Negro- Membro da Diretoria do Grupo TEZ (Estudos Zumbi), Mestra em História (PPGH- UFGD) Especialista em Educação à Distância UCDB-MS, licenciatura em História (UniFAA-RJ Contatos: Instagran: @profamylaartigotcc/ Email: [email protected]