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Agronegócio: contradição à fé católica?

Dr. Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –

Em meio à crescente crise ambiental e social, surge a necessidade de questionar o modelo de desenvolvimento agropecuário dominante no Brasil: o agronegócio. Sob a ótica da fé católica, surgem diversas contradições que merecem profunda reflexão. Eis algumas delas, segundo um Cardeal católico:

  1. Desmatamento e devastação ambiental: a expansão desenfreada das monoculturas e a pecuária intensiva causam desmatamento desenfreado, desertificação e perda de biodiversidade. A Doutrina Social da Igreja (DSI) é clara: a terra é um dom de Deus a ser cuidado e protegido para as futuras gerações. O Papa Francisco, na CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI’
    DO SANTO PADRE FRANCISCO
    SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM, adverte sobre a “cultura do descarte” que coloca o lucro acima da vida e da natureza. Como conciliar a fé com um modelo que devasta o meio ambiente e compromete o futuro do planeta?;
  2. Concentração de terras e desigualdade social: o agronegócio brasileiro é marcado pela concentração de terras nas mãos de poucos, enquanto milhões de camponeses e indígenas são marginalizados e excluídos. A DSI denuncia a injustiça social e a necessidade de uma distribuição mais justa da terra e dos recursos. Como podemos professar a fé em um Deus de amor e justiça enquanto milhões de pessoas vivem na miséria e são privadas de seus direitos básicos?;
  3. Uso abusivo de agrotóxicos e impactos na saúde: o agronegócio depende do uso intensivo de agrotóxicos que contaminam o solo, a água e os alimentos, causando graves problemas de saúde à população. A DSI defende a promoção da saúde e do bem-estar integral da pessoa humana. Como conciliar a fé com um modelo que coloca em risco a saúde de milhões de pessoas, especialmente das crianças e comunidades mais vulneráveis?;
  4. Exploração trabalhista e condições precárias: os trabalhadores do agronegócio, muitas vezes migrantes e indígenas, são frequentemente submetidos a condições precárias de trabalho, jornadas exaustivas e baixos salários. A DSI proclama a dignidade do trabalho humano e a necessidade de garantir condições justas e dignas para todos os trabalhadores. Como podemos nos considerar seguidores de Cristo enquanto milhares de trabalhadores são explorados e privados de seus direitos básicos?;
  5. Monoculturas e perda da biodiversidade: a monocultura extensiva, característica do agronegócio, diminui a biodiversidade, ameaça a segurança alimentar e contribui para as mudanças climáticas. A DSI reconhece a importância da biodiversidade para o equilíbrio ecológico e o bem-estar da humanidade. Como podemos defender a fé em um Deus criador da vida enquanto um modelo de produção ameaça a riqueza e a variedade da criação?

Diante dessas contradições, cabe aos católicos refletir sobre o papel do agronegócio na sociedade brasileira e buscar alternativas mais justas e sustentáveis. A DSI oferece princípios e valores que podem inspirar a construção de um modelo agropecuário que respeite a natureza, promova a justiça social e garanta a dignidade humana. É urgente buscar um diálogo entre fé, ciência e sociedade para construir um futuro mais justo e sustentável para todos.

O debate está aberto. É hora de questionar o modelo do agronegócio e buscar alternativas que estejam em consonância com os valores do Evangelho.

(*) É Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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