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‘Minha história em Dourados’: Entre relatos felizes, Adiles fala sobre a morte de Weimar Torres

Redação Folha de Dourados-

A jornalista e advogada Adiles do Amaral Torres foi uma das pioneiras do jornalismo em Dourados, muito mais pela força do destino do que por ter sonhado com essa missão. Na condição de viúva do fundador de “O Progresso”, jornal lançado no início de 1.951, teve que assumir, junto com o pai Wlademiro Müller do Amaral, as rédeas do veículo após o falecimento do marido, o deputado federal Weimar Gonçalves Torres.

No livro “Minha história em Dourados”, lançado no final de abril pela Folha de Dourados e 2mil Marketing Digital, Dona Adiles, como é conhecida, relata a história da fundação de “O Progresso e de uma predição recebida na infância: de que teria uma missão especial em sua vida. Anos depois, já diretora do veículo de comunicação, considerou que ficar à frente da empresa foi o cumprimento da profecia.

Adiles conta muitas passagens felizes da sua infância e juventude. Ela conta como conheceu o então advogado Weimar Torres, na saída de uma missa da Igreja Católica com menos de quinze anos e que casou ele aos dezessete anos, mesmo com a desconfiança inicial do pai, “Seu” Amaral, pelo fato de ela ser considerada por ele, na época, ainda “uma criança”.

Douradense “da gema” (nasceu em 29 de dezembro de 1.933) Adiles Torres fala do trabalho que o pai exercia como agrimensor e de seu espírito de liderança, que lhe fazia uma liderança sempre ouvida em momentos importantes da vida da cidade.

Acidente aéreo

Porém, uma das passagens mais triste de sua vida, também foi relatada pela jornalista: a morte do então marido Weimar Torres, que exerceu o mandato de deputado federal por Mato Grosso entre os anos 1.967 e 1.969. O episódio teria sido, também, o cumprimento de outra premonição do próprio parlamentar: a de que iria morrer cedo.

De fato, o então deputado faleceu em 14 de setembro de 1.969, com apenas 48 anos. Detalhe: em um dos retornos de Dourados para Brasília, em uma escala do avião em Londrina-PR, o avião começou a pegar fogo na hora da decolagem. Weimar Torres pulou do avião, tendo sua cabeça atingida pela hélice da aeronave, vindo a falecer. Os demais passageiros, conta Dona Adiles, morreram carbonizados.

Leia, a seguir alguns trechos do livro “Minha história em Dourados”:

Meu pai era viúvo e minha mãe também. Minha mãe tinha uma filha e um filho: a Nilda, que morreu com catorze anos, afogada no Rio Dourados e o Eduardo, o Dadai. E meu pai tinha o Celso e o Miguel. Ele chegou aqui em 1.930, vindo de Palmeira das Missões.

Eu nasci em Dourados no dia 29 de dezembro de 1.933. Sou a única filha dos dois. Meu pai era agrimensor. Trabalhava muito na demarcação de terrenos, chácaras, (…). E ele era meio líder aqui, todo mundo era amigo, ele gostava muito de falar sobre política e tal. Foi vereador uma vez só, em Dourados. Às vezes ia fazer medição em Cuiabá, em Corumbá… Chegou a ser diretor do Departamento de Terras em Cuiabá, quando o Estado era uno.

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O Weimar se formou em Direito no Rio de Janeiro. Lá ele trabalhava na [empresa[ Mate Laranjeira. Trabalhava o dia inteiro e estudava à noite. E naquela época era obrigatório os estudantes de Direito irem de terno e gravata.

Ele era um menino que não tinha boas condições financeiras. Tinha um terninho só, e ele me falou que quando o terno estava meio sujo, ele ia na lavanderia, ficava só com a roupa íntima estudando num quartinho, enquanto lavavam o terno a seco. Então, com o dinheiro que ele recebia do trabalho, pagava um quartinho e a comida… chegou a passar fome.

Já formado, veio a Dourados para fazer um serviço de advocacia. Foi o primeiro advogado a estabelecer moradia aqui em Dourados. Veio pra cá e a gente acabou se conhecendo na saída da Igreja. Casei com dezessete anos.

*******

Certa ocasião, o Weimar foi convidado a ser vereador. E ele acabou aceitando. Naquele tempo, os vereadores não eram remunerados, porque a cidade era pequena, não tinha remuneração.

Depois convidaram-no para ser deputado estadual. Foi. Depois para federal. Foi. E então, quando ele era deputado federal, nós mudamos para Brasília. E a gente só vinha nas férias. (…). Certa noite, já no ano de 1969, numa das vindas do Weimar a Dourados, quando estava voltando, o avião caiu em Londrina (…)

Ele tinha uma premonição de que ia morrer cedo. Naquela época já tinha um voo uma vez por semana aqui. E quando ia voltando de Dourados para Brasília, na hora em que o avião estava levantando o voo [na escala em Londrina], gritaram: “Fogo!”, e o Weimar arrancou a janela de emergência e pulou. Mas na hora em que ele pulou, a hélice bateu na cabeça dele, e ele morreu. E os outros morreram queimados.

'Minha história em Dourados': Entre relatos felizes, Adiles fala sobre a morte de Weimar Torres
O casal Adiles e Weimar Torres, ladeado por June e Weimar Júnior (Nico); Blanche está no colo da mãe
'Minha história em Dourados': Entre relatos felizes, Adiles fala sobre a morte de Weimar Torres
Adiles entre as filhas Blanche e June; ao fundo, reprodução da primeira capa de O Progresso, em Dourados
'Minha história em Dourados': Entre relatos felizes, Adiles fala sobre a morte de Weimar Torres
Adiles e o esposo Carlos Alberto Farnesi

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