Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
A prática da reeleição de prefeitos municipais, embora possa ser vista como um aspecto da democracia, merece uma análise cuidadosa em relação ao seu impacto na saúde pública das cidades.
Um dos fenômenos que pode ocorrer é a chamada “acomodação administrativa”, que pode ser entendida como um processo que, ao longo do tempo, pode dificultar a implementação de novas políticas. A continuidade prolongada de um prefeito pode criar uma resistência a inovações necessárias para enfrentar os desafios dinâmicos da saúde pública.
Além disso, a reeleição pode contribuir para uma situação de “estagnação municipal”. Essa condição, em que a eficácia das políticas de saúde diminui, ocorre quando a falta de renovação no poder impede a introdução de novas ideias e abordagens. Isso é especialmente relevante em um contexto onde problemas de saúde emergentes requerem respostas rápidas e adaptativas.
Outro ponto a ser considerado é o que se pode chamar de “concentração de poder”. A permanência prolongada de um único indivíduo à frente do executivo pode resultar em um desequilíbrio na distribuição de recursos e atenção às diversas áreas da saúde pública, potencialmente levando a subatendimentos em setores críticos.
Ademais, a reeleição pode gerar uma “miopia administrativa”, onde a ênfase em resultados imediatos para a próxima eleição pode prejudicar a implementação de políticas de saúde de longo prazo. Essa visão limitada pode ser particularmente nociva, uma vez que muitas intervenções em saúde necessitam de tempo para mostrar resultados efetivos.
Ainda, a continuidade no poder pode levar a uma diminuição da responsabilidade, já que os mecanismos de controle e fiscalização podem se tornar menos eficazes com o tempo. Isso pode permitir que práticas inadequadas em saúde pública persistam sem o devido monitoramento.
Por fim, é relevante considerar o fenômeno do “desengajamento cívico”. Assim como profissionais de saúde podem sofrer de exaustão, uma população pode se tornar apática diante da mesma liderança por longos períodos. Esse desinteresse é preocupante, especialmente em questões de saúde pública, onde a participação da comunidade é fundamental para o sucesso das iniciativas.
Em suma, ao refletirmos sobre os efeitos da reeleição de prefeitos na saúde pública, é evidente que a rotatividade no poder pode ser benéfica para o bem-estar das comunidades. A mudança na liderança não deve ser vista apenas como uma questão política, mas como uma estratégia para garantir a vitalidade e resiliência das cidades. É essencial que consideremos essa dinâmica ao pensarmos sobre o futuro da gestão pública municipal.
(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.