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InícioDouradosIdenor Machado: ‘fiz meu melhor pela educação desta cidade cintilante’

Idenor Machado: ‘fiz meu melhor pela educação desta cidade cintilante’


O professor Idenor Machado chegou na região de Dourados em 1.971, aos vinte anos, oriundo de Ribeirão dos Índios (SP). Designado logo depois para ser diretor de escola no Distrito de Panambi, naquela época denominada de Escolas Reunidas de Panambi. O amor pela educação o levou para novos voos na área. O primeiro deles foi instalar uma extensão da Escola Presidente Vargas naquele distrito Panambi, solicitada pelo então deputado Rubens Figueiró.

“Na época, foi preciso alugar salas no entorno da escola para comportar toda a turma que queria aprender, eram cerca de mil e duzentos alunos”, lembra Idenor. Naquele tempo a Colônia Agrícola Nacional (CAND) estava em pleno desenvolvimento e então, foi solicitado ao então prefeito Totó Câmara e ao governador José Fragelli a construção de uma nova escola na localidade, cujo pleito foi atendido.

Resultado: Panambi foi o primeiro distrito com o ensino para professores do então Mato Grosso. A dedicação e os resultados obtidos levaram Idenor Machado a ser convidado, em 1977, para trabalhar na Agência Regional de Educação, em Dourados, e em 1983, tornou-se Secretário de Estado de Educação, tendo o desafio de organizar toda a estrutura do setor educacional no recém-criado MS.

Em 1.989, foi convidado pelo prefeito Braz Melo a assumir a Secretaria Municipal de Educação de Dourados, período em que foram construídos os CEU’s – Centro de Educação Unificada, projeto que teve continuidade na gestão seguinte, pelo então prefeito Humberto Teixeira, também com a participação de Idenor Machado.

Em setembro de 2010, Idenor era vereador e o Prefeito/Interventor, juiz Eduardo Machado Rocha, o convidou para ser Secretário de Educação durante a intervenção, após afastamento do então prefeito Ari Artuzi. Ao final da intervenção, voltou para a Câmara e assumiu a presidência por seis anos.

Essa trajetória foi relatada no livro “Minha História em Dourados”, onde Idenor Machado conta com mais detalhes as lutas pela melhoria das carreiras dos trabalhadores em educação, pela participação dos pais e mestres no processo de organização da educação, pela vida dos alunos em contexto rural e por tantas outras pautas que travou.

Leia a íntegra deste relato histórico:

Nasci no dia 13 de março de 1950, em Ribeirão dos Índios (SP), cidade que fica a pouco mais de 400 Km de Dourados. Quando eu vim ao mundo, Ribeirão dos Índios era, administrativamente, distrito, mas, há vinte e oito anos, emancipou-se de sua cidade-mãe, Santo Anastácio. No decorrer de minha história, de uma forma ou de outra, Ribeirão dos Índios se conectou com Dourados e foi determinante para a história da educação e da política da cidade cintilante.

Minha mãe era costureira e meu pai era barbeiro e posso garantir que eles faziam de tudo para que seus nove filhos estivessem na escola, um ensinamento que, sem dúvida, tomei para a vida como educador e administrador.

Na minha época, o percurso formativo dos alunos tinha outros nomes e, em resumo, fiz o Ensino Fundamental em Ribeirão dos Índios. Para cursar o Ensino Médio, eu e meus irmãos nos deslocamos para estudar em Santo Anastácio, no Colégio Estadual e Escola Normal de Santo Anastácio (CENESA), hoje conhecido por Colégio Oswaldo Ranazzi. Por esse colégio também passou o conterrâneo Tetila, ex-prefeito de Dourados. Inclusive, me lembro bem de que o pai dele era o inspetor de alunos da escola, bastante exigente.

Então, em 1970, me formei professor para o ensino de 1ª a 4ª séries, e o sonho era vir para o sul de Mato Grosso, onde meus avós, Henrique Souza Machado e Maria Rita Machado, já moravam na Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), no distrito de Panambi, e falavam bastante do crescimento da região, da terra de oportunidades. Sem perder tempo, no ano seguinte, exatamente em janeiro de 1971, aos vinte anos, vim para essa região, que hoje faz parte do estado de Mato Grosso do Sul.

Ao chegar por estas bandas, dr. Milton José de Paula, da Delegacia de Ensino, designou-me para ser diretor de escola no Panambi, naquela época chamávamos a unidade escolar de Escolas Reunidas de Panambi; pouco tempo depois de aceitar a empreitada, fui desafiado a instalar uma extensão da Escola Presidente Vargas no Panambi, para o que chamávamos de “ginásio”. Extensão solicitada pelo então deputado Rubens Figueiró.

A mão de obra em educação era escassa e, por isso, foi necessário ir até Santo Anastácio buscar doze jovens, professores e professoras, interessados na missão, incluindo minha irmã Isabel Machado. Então, vieram comigo: Teresa Carvalho, Júlio Defendi, Ivanda Molina, Ângelo Alves de Oliveira, João Alves de Oliveira, Ângelo Alves (Alemão), Claudinet Fernandes, Dalila Lasmar, Valdenir Machado, Lazaro Gomes, Sonia Queiroz, Maria de Lourdes Mendes e outros.

Em uma escola com apenas quatro salas, começamos a trabalhar, em turnos alternados, o Ensino de 1º Grau e o Ensino de 2º Grau (hoje denominados, respectivamente, de Ensino Fundamental e Ensino Médio). Nós nos dividíamos para garantir a educação para as crianças que estavam na zona rural; na época, foi preciso alugar salas no entorno da escola para comportar toda a turma que queria aprender, eram cerca de mil e duzentos alunos.

Naquele tempo a CAND estava pulsando, então, reivindicamos um novo colégio ao Totó Câmara (prefeito) e ao governador José Fragelli; felizmente, nosso pedido foi atendido. Na inauguração do colégio, aproveitei para me dirigir ao Secretário de Educação, Sr. Loremberg Nunes Rocha, e, na condição de diretor, pedi a ele que pudéssemos também ser uma escola de 2º Grau, o que significava a possibilidade de sermos uma escola que também poderia formar novas levas de professores.

Revolucionamos o ensino por aquelas bandas, fizemos do Panambi o primeiro distrito com o ensino para professores do então Mato Grosso; a dedicação dos mestres, nos anos 70, muitas vezes envolvia não apenas o ensino em si, mas também um comprometimento com a transformação social e com o desenvolvimento humano.

Em 1972, casei-me com Laís Aparecida Cardoso, minha companheira de vida, que passou a levar o “Machado” não só no nome, mas também me apoiando na labuta diária. Em 1975, nasceu meu primeiro filho, Alessandro Renê Machado, e, em 1979, nasceu minha filha, Lizziane Thaís Machado; o nascimento deles foi como um combustível para que eu me dedicasse ainda mais à educação das crianças da região; um tempo depois, meus filhos me consagram avô do Antônio e da Maia.

Em 1977, nos mudamos para Dourados, momento em que passei a lecionar e a dirigir o Colégio Oswaldo Cruz, onde muitos profissionais sonhavam em ministrar aulas; isso, porque o colégio era referência em ensino de qualidade. Em 1980, concomitante ao trabalho desenvolvido no Oswaldo Cruz, colaborei na administração da Escola Estadual Armando da Silva Carmelo.

Nasce o MS, a organização escolar do novo estado e o Piso do Magistério

Em 1977, pouco antes da lei que deu origem ao Mato Grosso do Sul, tive a felicidade de receber convite do delegado Teotônio Alves de Almeida para trabalhar na Agência Regional de Educação, a qual atendia a demandas de Dourados, Maracaju, Rio Brilhante, Caarapó, Juti, Naviraí e Nova Alvorada do Sul. Fizemos um trabalho muito minucioso para organizar os quadros do funcionalismo público em educação, uma vez que a lei de divisão do estado afirmava que todo servidor que estivesse atuando até 31 de dezembro daquele ano passaria a figurar na condição de servidor estável.

Em razão da enorme pressão sofrida pela gestão em educação, com greves e reivindicações salariais, Leonardo Nunes da Cunha resolveu sair do comando da educação estadual e me indicou para assumir o posto; então, em setembro de 1983, tornei-me Secretário de Estado de Educação. Nesta função, certamente, o primeiro desafio, e um dos grandes legados da época, foi instituir, no governo do estado, o piso salarial do magistério, o que apaziguou os ânimos para a gestão educacional.

Ao lado de Teotônio, andei quase mil quilômetros de Fusca até chegar a Cuiabá, o esforço era para trazer a documentação relativa ao Mato Grosso do Sul, pois foi preciso documentar e organizar tudo que estávamos fazendo pela educação do estado, que acabara de nascer; a responsabilidade era muito grande.

Outro legado de minha gestão como Secretário de Estado de Educação foi trazer escolas para o município de Dourados, como a Escola Municipal Maria da Rosa Antunes da Silveira Câmara, “Rosa Câmara”, a Escola Ramona Pedrozo; assim como dar uma sede para a Escola Estadual Pastor Daniel Berg que, até então, funcionava em um prédio alugado.

Exerci a função de   Secretário de Estado de Educação até 1987, já com Ramez Tebet no Governo e, em outubro do mesmo ano, assumi a presidência do Conselho Estadual de Educação.

A vitória de Braz Melo, os CEU’s e os 13 mil futuros

Em janeiro de 1989, Braz Melo assume, pela primeira vez, a cadeira de prefeito de Dourados, e o respeito pela bagagem profissional adquirida por mim, até ali, levou Braz a me convidar para ser Secretário Municipal de Educação.

Na época, Marcelo Miranda era governador de MS e, em Dourados, tínhamos treze mil crianças fora da sala de aula, segundo levantamento da Federação dos Professores de Mato Grosso do Sul (FEPROSUL)[1]

Diante do grande número de crianças fora da sala de aula e, em razão da lei que determinou a responsabilidade dos municípios para com o Ensino Fundamental, observamos os impactos das medidas positivas implementadas por Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, por meio dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP’s). Assim, criamos, em Dourados, os Centros de Educação Unificada (CEU’s).

Em 1993, participei ativamente da implementação do Plano Decenal de Educação, uma iniciativa de reordenamento da gestão educacional que conferiu à escola a importância estratégica e fundamental no combate ao analfabetismo a partir da reconstrução do sistema nacional de Educação Básica.

Os CEU’s foram construídos com estrutura suficiente e adaptada para alunos da pré-escola até o último ano do Ensino Fundamental. Apesar da construção em pré-moldado, uma forma mais rápida e segura de resolver o déficit de vagas, as estruturas perduram até hoje, alguns foram ampliados e melhorados; outros dispõem da edificação inicial.

Com Braz fizemos dez CEU’s nas áreas periféricas de Dourados, formando um arco, um trabalho incrível, mantido e ampliado pelo prefeito Humberto Teixeira, eleito para o comando de Dourados de 1993 a 1996. Durante a gestão de Humberto Teixeira, um outro feito transformou a história da educação infantil em Dourados.

Outro momento muito importante para a educação municipal foi o relativo ao RECRIANÇA, projeto coordenado pelo Primeira Dama, Anete Silva Melo, que também representava a pastas da assistência social por meio do “Pró-Social”. No RECRIANÇA eram ofertados acompanhamento escolar, aula de reforço e aula de artes. Nosso investimento e dedicação à educação escolar infantil foi tão grande que o Benedito Cantelli (Benê Cantelli), dono de uma escola particular muito famosa à época, viu a melhoria do ensino e passou a gratificar com bolsas de estudo os melhores alunos.

Ainda quanto à educação, vale acrescentar que o então deputado federal Waldir Guerra, muito influente no governo de Fernando Collor, colaborou e muito com a viabilização do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC), em Dourados. Além dele, o Prefeito Humberto Teixeira foi importante líder em todo o processo. Lembro-me de que a luta foi grande para que o CAIC fosse construído aqui, pois muitos queriam a unidade na cidade de Miranda. Acompanhado de Waldir Guerra, encontrei-me com o então Ministro da Educação Carlos Chiarelli, por duas vezes, para justificar a necessidade de Dourados ser a escolhida.

A implementação dos CAIC’s em todo o Brasil foi o resultado de um programa em que escolas eram construídas com recursos federais, em terreno doado pelos municípios; após a construção, as unidades eram entregues às prefeituras.  Foi uma conquista fantástica para a cidade, faz parte da minha história em Dourados.

Nesse período em que trabalhei nas gestões Braz e Humberto em Dourados, o compromisso foi garantir a qualidade de vida das pessoas, principalmente das crianças, com foco na educação infantil, pois é com boa referência e cuidado que a criança desenvolve habilidades sociais, coopera no seu dia a dia e desenvolve empatia.

Por fim, mas não menos importante, semeei uma colaboração com a sociedade, na medida em que atuei, ao lado de Braz, na construção da sede da Pestalozzi Dourados, instituição que, em todo o Brasil, promove educação de alta qualidade para o desenvolvimento das potencialidades dos alunos especiais.

Minha história em Dourados evoca lembranças do passado e, de uma forma muito especial, me deixa muito contente, posto que, mais do que meros relatos, projetos como este tornam-se veículos para transmitir sabedoria e conhecimento sobre aquelas e aqueles que construíram a história de nossa cidade e impactaram na vida de milhares de famílias.

Em setembro de 2010, durante a maior crise política da história de Dourados, eu era vereador da cidade e o Prefeito/Interventor, dr. Eduardo Machado Rocha, que à época era juiz de direito, me convidou para ser Secretário de Educação durante a intervenção. Aceitei a empreitada, mas, ao final da intervenção, voltei para a câmara e assumi a presidência da Câmara de Vereadores por seis anos.

Fui vereador por dez anos, presidi a Câmara de Vereadores e me uni também às lutas pela melhoria das carreiras dos trabalhadores em educação, pela participação dos pais e mestres no processo de organização da educação, pela vida dos alunos em contexto rural e por tantas outras pautas que travei.

Parafraseando Sêneca, um importante filósofo: “Feliz é o homem que pode fazer os outros melhores, não apenas quando ele está em sua companhia, mas mesmo quando ele está em seus pensamentos!”. Fazer parte da construção do arranjo educacional de Dourados me deixou a certeza de que, sendo professor, gestor e político, fiz o meu melhor para a educação da cidade cintilante.

Idenor Machado: ‘fiz meu melhor pela educação desta cidade cintilante’

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