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Roberto Razuk: ‘Fico feliz em retribuir o carinho que a cidade sempre teve conosco’

O ex-deputado e empresário foi um dos historiados no livro “Minha História em Dourados”

O ex-deputado Roberto Razuk nasceu em 7 de março de 1941, na cidade de Campo Grande, mas seu registro consta o nascimento no dia 26 de março. “Acho que meu avô foi ao cartório para me registrar alguns dias depois do nascimento, e, com medo da multa que poderia existir pelo “atraso” no registro civil, afirmou ao cartorário que eu havia nascido naquele mesmo dia”, explica.

Razuk morou em Campo Grande até os onze anos; de lá, foi estudar no Instituto Americano de Lins, em São Paulo, onde fez o então “ginásio” e depois foi para o último ano, naquela época chamado de “científico”, no Internato São José, de onde acabei “fugindo” e voltando para Campo Grande.

A vida levou o ainda jovem Roberto Razuk para outras opções e quando completou 18 anos, foi para o interior de São Paulo, onde o curso de piloto, e, anos depois, virou caminhoneiro. Em 1968, quando cursava engenharia no Rio de Janeiro, teve os estudos interrompidos como consequência do Ato Institucional 5 (AI-5) instituído pela ditadura militar, quando foi preso por razões políticas.

Razuk foi perseguido pelo regime militar, porém, depois de alguns anos, deu a volta por cima e chegou em Dourados em 1.976, onde, por meio de algumas amizades, Ingressou na política, sendo eleito deputado estadual entre os anos 1987 a 1994, vindo a ser, inclusive, legislador constituinte.

Como Presidente da Comissão de Sistematização da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul de 1989, reafirmou, nas Disposições Gerais, a Instituição de Ensino Superior (que seria a UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) com sede em Dourados,

Essas e outras histórias são contadas em detalhes no livro “Minha História em Dourados”, publicado em abril pelo jornal Folha de Dourados e agência 2mil Publicidade cuja íntegra você pode ler na sequência.

Minha história em Dourados

Nasci no dia 7 de março de 1941, na cidade de Campo Grande, mas a primeira curiosidade sobre mim é que em meu registro consta que nasci no dia 26 de março. Acho que meu avô foi ao cartório para me registrar, alguns dias depois do nascimento, e, com medo da multa que poderia existir pelo “atraso” no registro civil, afirmou ao cartorário que eu havia nascido naquele mesmo dia.

Morei em Campo Grande até meus onze anos; de lá, fui estudar no Instituto Americano de Lins, em São Paulo, fiz o ginásio e depois fui para o último ano, naquela época chamado de “científico”, no Internato São José, de onde acabei fugindo e voltando para Campo Grande.

Piloto, caminhoneiro e resistente

Os estudos formais ficaram de lado. Quando completei dezoito anos, fui para Marília, ainda em São Paulo, para fazer o curso de piloto; depois disso passei a trabalhar para o Dr. Renê Neder, dono da “Gleba Angélica”.

Nessa época a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) proporcionou enorme crescimento para a região, a partir de Dourados. Na fazenda de Renê Neder, ele e um sócio árabe abriram vários lotes, de onde nasceu o município de Angélica. O primeiro prefeito de Angélica foi um grande amigo de Renê Neder, o Sr. Ediberto Celestino de Oliveira; lembro-me até hoje do dia em que vi Ediberto em um trator que fazia a abertura do primeiro lote e da primeira rua da cidade.

Cansei-me de trabalhar como piloto e resolvi comprar, com meu irmão, um caminhão. Nele, eu transportava gasolina para a Texaco, abastecíamos Dourados, Fátima do Sul (Vila Brasil). Mas, naquele tempo, ser caminhoneiro era muito sofrido, uma viagem de Campo Grande a Cuiabá, por exemplo, levava de dez a doze dias, então, foi melhor deixar aquilo e voltar a estudar. Fui para o Rio de Janeiro e, em Niterói, fiz o Madureza, nome que se dava, na época, ao ensino de jovens adultos, hoje chamado de EJA.

Passei no vestibular para o curso de engenharia em uma faculdade que ficava em Barra do Piraí/RJ, mas meus estudos foram drasticamente interrompidos, em 1968, em razão da ditadura militar e de seu AI-5.

Fui preso no quarto ano da faculdade. Em um primeiro momento, fui prisioneiro no Batalhão da Polícia do Exército que fica na Tijuca, depois fui transferido para Ilha Grande, onde centenas de estudantes também eram prisioneiros. Foram três intermináveis anos de minha vida; depois que saí de lá, não foi possível retomar os estudos por, pelo menos, cinco anos, em razão do que previa o AI-5. 

Em 1972 voltei para estas bandas, mas não era possível ficar em Campo Grande, a repressão seguia – toda vez que eu conversava com alguém na rua, eu era interpelado por algum membro da ditadura. Daí, resolvi ir para Ponta Porã, onde tinha muitos parentes. Trabalhei como croupier em um cassino; um tempo depois me tornei gerente no mesmo local.

Em Ponta Porã, conheci minha esposa Délia, devo dizer que, em um primeiro momento, o pai de Délia não quis autorizar nosso casamento, mas eu fui em busca dela; levei-a para longe e disse a todos que ninguém nos impediria de ficar juntos, convencidos de minhas intenções, em 1973, nos casamos.

Eu ainda seguia sob os olhos da repressão e fui avisado de que não poderia trabalhar em casas noturnas. Então tivemos de ir para Campo Grande, no entanto, lá a situação estava bem difícil, e, para buscar algumas possibilidades, nos mudamos para Rondônia, onde ficamos por quase dois anos. Depois da extinção da pena, retornamos a Campo Grande, mas não ficamos muito, pois as portas estavam fechadas por lá. Por intermédio de alguns amigos, Délia, eu e as crianças viemos para Dourados, no dia 26 de março de 1976. Aqui, o falecido prefeito João da Câmara, também conhecido por Totó, foi um grande braço amigo.

Potencial político

Foi com minha participação na comunidade que me juntei à campanha de meu primo, Gandi Jamil, eleito  deputado estadual de Mato Grosso do Sul  para a legislatura de 1983 a 1987. Em Dourados, eu e meu grupo político fizemos algo impressionante: angariamos mais de três mil votos para Gandi, o que para a época era um número muito significativo.

A eleição de Jamil provocou algumas reflexões, tanto para mim quanto para meu grande amigo, Dr. George Takimoto, e, como consequência, em 1986, fui um dos braços de apoio à candidatura de Marcelo Miranda ao governo de Mato Grosso do Sul, com Takimoto como vice. Uma das condições impostas por Takimoto para que ele entrasse na política era a de que eu também fosse candidato, e todos logramos êxito nas empreitadas eleitorais.

Dentre os legados que atravessam a história da minha participação política no estado, estão meus mandatos de deputado estadual, que se perfizeram entre os anos de 1987 a 1994, e me deram a possibilidade de ser um legislador constituinte. Assim, como Presidente da Comissão de Sistematização da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul de 1989, reafirmamos, nas Disposições Gerais, a Instituição de Ensino Superior com sede em Dourados e garantimos a ampla participação popular nas cento e vinte e nove audiências públicas realizadas para ouvir as pessoas.

Tenho orgulho em dizer que fui peça fundamental na construção da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), cujo projeto foi gestado na elaboração da Constituição Estadual, da qual o saudoso deputado Ricardo Bacha era o Relator Geral. O então deputado estadual, Walter Carneiro, ao fazer a revisão do texto, inseriu na carta a obrigação de o Governo do Estado implantar a sede da UEMS em Dourados.

O governador da época, meu saudoso amigo Pedro Pedrossian, tinha sido o político responsável pela criação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e, em determinada encontro que tivemos, me perguntou sobre o porquê de se criar mais uma instituição de ensino superior. Eu, para lhe responder, disse-lhe que ele poderia se tornar o único governador do país a implantar três universidades, o que acabou acontecendo.

No dia seguinte a esse encontro, muito cedo, Maurício Vanderlei, que pertencia ao quadro efetivo de docentes da UFMS e que, posteriormente, foi conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ligou-me para avisar que Dourados ganharia sua universidade e que eu precisaria chegar à governadoria o quanto antes. Chegando lá, Pedrossian, engenheiro de formação, já estava desenhando os croquis para a UEMS.

O Leão da Fronteira e a Natureza de Dourados

Apesar de Jorge ser o único dos meus filhos a nascer em Dourados, todos foram criados aqui na cidade. Eu, sinceramente, tenho este lugar como parte da minha história; por isso, passei a me envolver com trabalhos comunitários, buscando promover ações sociais que se aproximassem de uma Dourados digna para todos.

Em 1987, quando eu era deputado estadual, um novo desafio surgiu: presidir e recuperar a situação do Ubiratan Esporte Clube. O Leão da Fronteira estava quase falido, então, Alaor Marques, presidente da época, convidou-me para encarar o desafio, e lá fui eu. Uni-me a Décio Rosa Bastos e a Ilton Santos Sabala, juntos promovemos a recuperação do Ubiratan por meio da realização de sorteios e grandiosos bingos. Aliás, tamanha era a credibilidade dos bingos que, das poucas vezes que o estádio Douradão ficou lotado, foi para acompanhar e participar desses momentos.

Outro fato histórico foi a revelação de Antônio Carlos Zago, o Tonhão, pelo Ubiratan. Ele jogou como centroavante e foi artilheiro do campeonato estadual, depois foi para o São Paulo Futebol Clube e chegou à Seleção brasileira (como zagueiro), fato que engrandeceu a história do clube douradense. Na minha gestão o Ubiratan foi campeão estadual.

Além do futebol, outra paixão que eu trouxe para Dourados foi o carnaval, por intermédio da fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Natureza de Dourados, em 1989. Apesar da falta de apoio, foi um movimento expressivo na história da cidade, mas não o suficiente para despertar as pessoas para o carnaval de rua.

Vi Dourados crescer, acompanhei a cidade como empresário e parlamentar e também assisti à minha esposa, Délia Razuk, ser eleita prefeita (2017 a 2020), depois de ter sido vereadora por dois mandatos, como a mais votada, e de ter assumido a Prefeitura, interinamente, no momento mais difícil da história política de Dourados, em 2010. Também pude testemunhar meu filho, Neno, ser reeleito deputado estadual. Fico feliz em retribuir o carinho que a cidade sempre teve conosco, aqui eu me sinto bem e aqui quero morrer, Dourados é uma cidade incrível para criar filhos, netos e viver bem!

Roberto Razuk: ‘Fico feliz em retribuir o carinho que a cidade sempre teve conosco’

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