Recorde de temperatura vem acompanhado das maiores emissões de dióxido de carbono registradas nos últimos anos, apesar da meta de descarbonização do Acordo de Paris
Por Anne Silva, da Revista Forum –
O mais novo relatório global sobre o clima do observatório Copernicus, uma iniciativa europeia de monitoramento ambiental em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA), publicado nesta sexta-feira (10), confirma que, além de ter sido o ano mais quente já registrado, 2024 superou o ‘teto’ de 1.5°C no aumento das temperaturas médias da Terra.
Definido como limite pelo Acordo de Paris, o aumento de 1.5°C na temperatura da Terra (em relação aos níveis pré-industriais) já indica a necessidade de adaptações para conter as consequências práticas das mudanças climáticas, como maiores e mais frequentes ondas de calor, o derretimento acelerado de calotas polares e o aumento no nível do mar (que ameaça inundar e até varrer comunidades costeiras), a insegurança alimentar — e, principalmente, a ameaça de atingir o ponto de não-retorno para o planeta, em que as alterações sejam irreversíveis.
2024 foi o ano mais quente para quase todas as regiões da Terra, com exceção da Antártida e da Ásia Austral, indica o relatório. A Europa, por sua vez, tem aquecido duas vezes mais rápido do que a média global desde a década de 1980. Ondas de calor têm sido, portanto, mais frequentes no continente europeu; e, no ano passado, países mediterrâneos, como Itália, Espanha, Portugal, Grécia e França registraram pelo menos duas dezenas de óbitos ligados à ocorrência de calor extremo, que costuma ser entre 1,7°C a 3,5°C mais quente, de acordo com dados analisados pelo World Weather Attribution (WWA).
“Extremos de calor, como foi o de julho de 2024 no Mediterrâneo, não são mais eventos raros. Espera-se agora que ondas de calor semelhantes às que afetaram Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Marrocos ocorram em média cerca de uma vez a cada 10 anos no clima atual”, afirma a WWA. Mas essa estimativa pode se acirrar caso a temperatura média continue a aumentar.
Além disso, nota o relatório anual do observatório Copernicus, a frequência e intensidade dos extremos climáticos deve aumentar nos próximos anos, com ocorrências alternadas de grandes secas e grandes inundações, além de ciclones e do aumento da temperatura média também dos oceanos, que ameaça a vida marinha e o equilíbrio de ecossistemas inteiros.
Apesar das metas de descarbonização estabelecidas pelo Acordo de Paris (que determinam a neutralidade nas emissões de carbono globais até 2050), o relatório aponta que a taxa de aumento de dióxido de carbono no mundo em 2024 foi a maior já vista nos últimos anos, pelo menos 2,9 ppm (partes por milhão) acima em relação à de 2023. Em 2024, registrou-se uma concentração atmosférica de dióxido de carbono de 422 ppm.
Em relação à temperatura, o mundo teve médias 0,12°C maiores em 2024 na comparação com o ano anterior, que também já superara o recorde de ano mais quente da história — atingindo a marca de 1,47°C.
Nos meses mais quentes de 2024, junho e julho, a média global de temperatura chegou a atingir 17,16°C, com máximas de até 48°C.
Ao longo do ano, a temperatura média global foi de 15,10°C, um aumento recorde de 1,6°C, que ocorreu durante 11 dos 12 meses do ano.
Caso a Terra alcançasse seu ponto de não retorno nas médias de temperatura, algumas das consequências incluiriam:
- Degelo do permafrost e colapso do gelo polar (na Groenlândia e Antártica Ocidental), com consequente aumento no nível do mar
- Desaparecimento de recifes de coral
- Mudança permanente nos padrões de circulação oceânica
- Colapso do sistema da Amazônia
- Secas extremas e insegurança alimentar
- Inundações e desaparecimento de regiões costeiras