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Morte de milhões de pessoas no mundo está associada à fumaça da queimada do Pantanal

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Adriana Gioda (*) –

Brasileiros a cerca de mil quilômetros de distância de Corumbá, no Pantanal do Mato Grosso do Sul, respiraram nos últimos dias o ar carregado pela pluma poluente dos incêndios. A fumaça foi observada em cidades paranaenses, como Paranavaí. E uma nota técnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou que ela chegou ao Sul do Brasil em múltiplas ocasiões em junho. O caso é um exemplo de como os extremos ambientais em curso podem afetar o país e sobre a necessidade de monitorar e reduzir a poluição atmosférica, frisa Adriana Gioda, do Departamento de Química da PUC-Rio e especialista em qualidade do ar.

Gioda saúda a Política Nacional de Qualidade do Ar (PNQA), sancionada em maio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E diz que a plataforma “Vigiar: Poluição Atmosférica e Saúde Humana”, lançada ontem pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, é muito bem-vinda. Mas ressalva que, ainda assim, o Brasil permanece distante dos padrões de qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Qual o impacto da poluição do ar?

A poluição afeta a qualidade do ar e o clima, acentua o calor e reduz as chuvas. Se forma um ciclo vicioso negativo, o sistema de retroalimenta, pois o calor e a seca também favorecem a amplificação e o acúmulo da poluição. É a chuva que lava a atmosfera, sem chuva, fica mais poluído. O calor afeta a saúde, a seca afeta a saúde e a poluição do ar torna tudo pior. Por isso, clima é questão de saúde.

Como o fogo que arde no Pantanal pode afetar a saúde até mesmo de quem vive longe?

A atmosfera não respeita os limites geográficos. E a vegetação queimada devolve tudo o que absorveu para atmosfera. Compostos químicos são liberados por meio de quebra pelo fogo e se tornam partículas poluentes. No caso da poluição do ar, o que importa é a circulação dos ventos.

E o quão longe vão?

Existe transporte de muito longa distância. Por exemplo, a poeira do Saara atravessa o Atlântico e vai parar na Amazônia. Acontece agora com a fumaça do Pantanal o mesmo que ocorreu nas grandes queimadas de 2020, quando isso se tornou evidente. Acompanhamos por satélite o deslocamento da pluma (a fumaça) das queimadas.

E o que tem nessa fumaça?

Ela é composta basicamente por material particulado, o principal objeto de estudo do nosso laboratório. Nos preocupamos, em especial, com os particulados mais finos, chamados de PM2.5. Eles são os poluentes com maior impacto na saúde global. Estão associados às mortes de milhões de pessoas no mundo a cada ano.

Por que essa pluma é potencialmente perigosa?

Dependendo do tamanho da partícula e da composição química, essa pluma desencadeia uma enormidade de doenças. Por que a inalamos, ela afeta primeiro o sistema respiratório, mas depois se espalha por todo o corpo e o desequilibra. Isso pode levar a uma série de outras doenças.

Qual o risco?

Como não há monitoramento e inventários necessários, não sabemos ainda o tamanho do problema. Mas devemos ter em mente que, a cada dia, uma pessoa adulta respira em média 15 mil litros de ar. Se esse ar for poluído e a exposição significativa, isso significa aumento do risco para a saúde, que podem ir de alergias e mal-estar a complicações mais sérias. Tudo depende da concentração da pluma que chega. Se for significativo, terá impacto. É por isso que o monitoramento é tão importante.

E o que as pessoas podem fazer para se proteger?

Usar máscara N93 e evitar exposição ao ar livre. Principalmente, evitar os exercícios físicos nos dias mais poluídos porque durante a prática de atividade física se inala ainda mais ar e, assim, poluentes.

A população das áreas afetadas pela fumaça das queimadas deveria estar de máscara?

Sim! Durante incêndios como os do Pantanal agora, da Amazônia no ano passado, quando há uma concentração muito alta de fumaça, a população deveria usar máscara.

E que máscara?

O ideal é a N93 porque ela filtra 99% das partículas e reduz muito o risco da exposição. Se não tiver uma N93 até as mais simples, usadas muito na pandemia de Covid-19, já ajudam. Vírus são muito menores que o material particulado que está em suspensão na pluma de incêndios.

E para pessoas expostas à pluma em lugares mais distantes?

A recomendação é a mesma se o nível de poluentes for alto.

E para quem está exposto à poluição causada por veículos, nas cidades?

Em dias de grande concentração de poluição ou em áreas muito afetadas, vale a mesma recomendação.

E os gases presentes na fumaça?

Eles estão presentes. Mas o principal problema para a saúde é o material particulado PM2.5. A OMS mapeia a poluição do mundo e avalia os riscos a partir do PM2.5, não é por causa do ozônio ou outro gás. Os particulados compõem a maior parte do problema.

E como está o monitoramento da qualidade do ar no Brasil?

Ainda distante do necessário. Não sabemos o quão poluídos de fato somos. E não conhecemos o ar que estamos respirando porque só aproximadamente 7% dos municípios brasileiros, quase todos no Sudeste, possuem estações governamentais de monitoramento da qualidade do ar. A Amazônia e o Cerrado, onde acontecem grandes queimadas, praticamente não são monitorados.

E a nova plataforma de poluição e saúde?

A nova plataforma lançada esta semana mostra os níveis de poluição por PM2.5 no Brasil, inclusive por município. Mas são estimativas, dados aproximados, feitas por dados satélites, medem os aerossóis na atmosfera. O que de fato respiramos aqui em terra quase não é medido. Isso só vai ser conhecido quando tivermos estações de monitoramento em solo em todo o país. Mas, claro, esperamos que a nova Política Nacional de Qualidade do Ar traga avanços.

Quais?

Ela prevê melhorias no monitoramento, inventários e medidas de controle. Mas ainda vai levar um tempo. Só que a poluição segue. Veja que hoje não chegamos nem perto de atender os padrões sugeridos pela OMS em 2005 e que foram atualizados em 2021. Em 2005, a emissão de poluentes era cerca de quatro vezes menor. Tivemos avanços na redução da emissão de poluentes, mas o caminho é longo. Não temos, por exemplo, séries históricas. Isso é fundamental para medir inclusive o êxito de medidas de controle. Mas temos avanços, por exemplo, em tecnologia.

Que avanços?

O aumento do uso de carros elétricos, por exemplo. Eles também impactam positivamente na redução da poluição. Ainda engatinham, mas é importante porque os veículos a combustão são os maiores emissores nas cidades. Nos municípios de São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, respondem por entre 60% e 70% da poluição do ar. E frota velha é a mais poluente de todas.

(*) Departamento de Química da PUC-Rio e especialista em qualidade do ar.

A poluição do ar e a saúde em dados

MAIS PERIGOSOS: Os particulados finos, chamados PM2.5, são os poluentes com o maior impacto na saúde no mundo, segundo a OMS. São perigosos porque devido ao tamanho ínfimo têm maior facilidade de penetração em órgãos e tecidos.

TAMANHO: Essas partículas têm diâmetro igual ou menor a 2,5 micrômetros, o que é 30 vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo.

COMPOSIÇÃO: A fumaça com particulados pode conter numerosos elementos, como chumbo, cádmio, cromo, arsênio, mercúrio, além de cloretos, sulfatos dentre outros.

ORIGEM: Esses poluentes são gerados a partir de queima de combustíveis fósseis e de biomassa. Eles são liberados, por exemplo, pela combustão dos motores de veículos, por setores da indústria e por grandes incêndios florestais.

MORTES: A poluição do ar é associada a uma em cada oito mortes no mundo. Dados de 2021 estimam em 8,1 milhões as mortes causadas pelo ar sujo no planeta. Destas, 58% são relacionadas aos PM2.5, de acordo com o relatório “Estado do Ar Global/2024”, do Unicef.

EXPECTATIVA DE VIDA: O ar poluído é o segundo fator de risco de morte precoce. Está atrás somente da hipertensão. Se estima que respirar ar poluído reduza a expectativa de vida de uma pessoa, em média, em 1 ano e oito meses.

DOENÇAS: A poluição do ar pode agravar e servir como gatilho para uma série de males, como doença pulmonar obstrutiva crônica, isquemia cardíaca, derrame, câncer do pulmão e diabetes do tipo 2.

(Com informações OGlobo)

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