Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
O agronegócio, pilar fundamental da economia brasileira, enfrenta um novo desafio em Dourados, Mato Grosso do Sul. A recente aprovação pela Câmara Municipal da implantação de escolas cívico-militares representa uma ameaça significativa para o setor, que depende da mão de obra qualificada e preparada para os desafios do campo.
Enquanto o agronegócio busca constantemente inovações tecnológicas, práticas sustentáveis e profissionais altamente capacitados, o modelo de escola cívico-militar proposto põe em risco esse avanço. Ao priorizar um currículo rígido, com ênfase em disciplina e hierarquia militar, essas instituições ignoram as necessidades específicas do setor agrícola e prejudicam a formação dos futuros profissionais.
Embora a experiência brasileira com escolas cívico-militares ainda seja recente, estudos internacionais apontam à correlação entre a militarização da educação e o declínio no desempenho acadêmico, especialmente em áreas como ciências e matemática, fundamentais à inovação no agronegócio. Além disso, pesquisas indicam que egressos de escolas com forte viés militar tendem a ter menor mobilidade social e menor participação em atividades cívicas, o que pode limitar a capacidade de liderança e adaptação necessárias para enfrentar os desafios complexos do setor.
O agronegócio precisa de indivíduos com habilidades diversas, capazes de lidar com as complexidades do setor, desde o manejo de máquinas e equipamentos avançados até a compreensão de práticas de gestão e logística. Entretanto, o modelo cívico-militar privilegia a abordagem padronizada, deixa pouco espaço para o desenvolvimento de competências técnicas e especializadas.
A militarização do ambiente escolar pode criar o clima de tensão e medo, afasta os estudantes da aprendizagem significativa e estimulante. Isso é crucial em um setor que demanda criatividade, iniciativa, coragem e capacidade de resolução de problemas.
Além das implicações imediatas, a imposição do modelo educacional militarizado no campo pode gerar consequências de longo prazo que minam a sustentabilidade do agronegócio. A padronização do ensino e a restrição à autonomia intelectual podem inibir a inovação e a criatividade, essenciais para enfrentar os desafios do setor cada vez mais complexo e globalizado. A médio prazo, essa falta de adaptabilidade pode levar a uma escassez de profissionais capazes de desenvolver novas tecnologias e soluções para os problemas do campo, compromete a competitividade do Brasil no mercado internacional.
Diante desse cenário, o agronegócio de Dourados e da região deve posicionar-se com firmeza contra a implantação desse modelo de escola. É necessário que os líderes do setor se unam, juntamente com a comunidade local, para defender a educação que atenda às necessidades reais do campo, forme profissionais capazes de impulsionar o crescimento e a inovação do agronegócio.
O futuro do agronegócio depende da educação de qualidade, voltada para o desenvolvimento de habilidades técnicas, tecnológicas e de liderança. As escolas cívico-militares representam o retrocesso nesse sentido, colocam em risco a competitividade e a sustentabilidade do setor em Dourados e no País.
(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.