Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
Nos últimos anos, a ausência do Carnaval de rua em Dourados tem deixado um vazio cultural e econômico na cidade. O que antes era a celebração vibrante da diversidade, da criatividade e da identidade local transformou-se no silêncio ensurdecedor, marcado pela falta de políticas públicas que reconheçam o valor dessa manifestação popular. Em 2025, é imperativo que o Poder Público Municipal retome a organização do Carnaval de rua, não apenas como uma festa, mas como um compromisso com a cultura, a economia e a democracia.
Patrimônio Cultural em Risco
O Carnaval não é apenas uma festa; é uma expressão profunda das tradições e da identidade brasileira. Desde os blocos de rua até as escolas de samba, essa celebração é um espaço de inclusão social e cultural, onde diferentes grupos podem se manifestar livremente. Em Dourados, a ausência desse evento nos últimos anos tem empobrecido culturalmente a cidade, alienando-a de suas raízes e de sua capacidade de promover a convivência entre diferentes culturas e comunidades.
A cidade, conhecida pela rica diversidade étnica e cultural, precisa resgatar o Carnaval como uma oportunidade de fortalecer esses laços. É no Carnaval que se celebram as influências indígenas, afro-brasileiras e europeias que moldaram a identidade douradense. Negligenciar essa festa é ignorar a pluralidade que define nossa sociedade. Para quem defende o nacionalismo, é fundamental apoiar manifestações que exaltam a cultura brasileira. Ser coerente nesse discurso significa abraçar o Carnaval como parte inegociável de nossa herança.
Impacto Econômico: Oportunidade Perdida
Além do valor cultural, o Carnaval é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento econômico. Nos últimos anos, a ausência dessa festa impactou negativamente diversos setores da economia local. Bares, restaurantes, hotéis e ambulantes viram suas receitas despencarem durante o período carnavalesco, que tradicionalmente atrai visitantes de outras cidades e estados.
Segundo estudos realizados em outras regiões do País, o Carnaval pode injetar milhões na economia local, gerando empregos temporários e movimentando pequenos negócios. Em Dourados, a retomada do evento poderá revitalizar o comércio e o turismo, além de atrair investimentos para infraestrutura e serviços. A prefeitura, ao investir na organização do Carnaval, promove um ciclo virtuoso de crescimento econômico, beneficiando diretamente a população.
Compromisso Político com a Democracia
O Carnaval também é uma expressão política. É no espaço público, nas ruas e nos blocos, que as pessoas exercem sua liberdade de expressão e manifestação. Ao cancelar ou negligenciar essa festa, o Poder Público está, mesmo que involuntariamente, restringindo um dos direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal: o direito à cultura e ao lazer.
Politicamente, a realização do Carnaval é um gesto de reconhecimento da importância da participação popular na construção da cidade. É uma oportunidade para que a gestão municipal demonstre que está alinhada com os anseios da população e comprometida com a promoção de políticas públicas inclusivas. Além disso, o Carnaval pode ser uma plataforma para discutir temas urgentes, como igualdade racial, direitos LGBTQIA+ e preservação ambiental, amplificando vozes que muitas vezes são marginalizadas.
Aspectos Jurídicos: Direito Constitucional
Do ponto de vista jurídico, a realização do Carnaval é uma obrigação do Estado. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 215, determina que o Poder Público deve garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional. O Carnaval, como uma das maiores manifestações culturais do Brasil, deve ser tratado como prioridade pelas administrações municipais.
Além disso, a Lei Orgânica do Município de Dourados prevê o incentivo à cultura e ao turismo como responsabilidades do poder público. Negligenciar o Carnaval seria, portanto, um descumprimento dessas normas legais, além de um desrespeito ao patrimônio imaterial da cidade.
Convocação à Coerência
Para aqueles que pregam o nacionalismo e a defesa da identidade brasileira, é fundamental que o discurso seja acompanhado de ações concretas. Não há como falar em amor ao Brasil sem reconhecer e apoiar manifestações como o Carnaval, que são intrínsecas à nossa cultura. Defender o Carnaval de rua em Dourados é defender a própria essência do que significa ser brasileiro.
Em 2025, o Poder Público Municipal tem a oportunidade de corrigir um erro histórico e devolver à cidade o brilho e a alegria do Carnaval de rua. É hora de unir esforços, envolver a sociedade civil e os empresários locais, e construir um evento que reflita a riqueza cultural e a força econômica de Dourados. Que essa decisão seja tomada não apenas por conveniência política, mas por um genuíno compromisso com o futuro da cidade e de seus habitantes.
Dourados merece o Carnaval que celebre a diversidade, fortaleça a economia e reafirme o lugar como uma cidade vibrante e acolhedora. Chegou a hora de dançar novamente!
