Mulher negra: Afetividade e solidão
Myla Meneses (*) –
A mulher africana, afro-americana, afro-brasileira, é uma categoria analítica imprescindível para compreensão política da cultura nacional e da sociedade brasileira, voltado para o entendimento das relações sociais e de poder. Emoções, dinâmicas de identidade de relações sociais, de dominação, de estratificações, de onde partem as escolhas.
Há um fio condutor em diferentes momentos, de que as escolhas afetivas são atravessadas pela solidão, e ao mesmo tempo, o motivo é colonizador motivadas e baseadas, por racismo, sexismo e desigualdades, são ideologias e práticas socioculturais, que regulam as preferências afetivas dos indivíduos. As emoções dizem muito, sobre cultura, sobre uma sociedade, a categoria política é colocada numa atitude de pensar a solidão da mulher negra histórico-cultural, e socialmente ancorada numa sociedade profundamente marcada por racismo, preconceito e desigualdades. É na base destas estruturas, que se constroem e reconstroem as identidades resolvidas ou não descobertas produzidas e reproduzidas pela dinâmica social.
Durante muito tempo a mulher negra é vista pelo restante da sociedade a partir de dois tipos de qualificação ‘profissional’: doméstica e mulata. A profissão de ‘mulata’ é uma das mais recentes criações do sistema hegemônico no sentido de um tipo especial de ‘mercado de trabalho’, produto de exportação. Infelizmente é uma realidade recorrente a percepção recorrente no imaginário social e, em alguma medida, no imaginário acadêmico brasileiro de “branca para casar, mulata para se divertir e negra para trabalhar” acabou por levar a uma representação social baseada na raça e no gênero, a qual regula as escolhas afetivas das mulheres negras brasileiras.
Focar a dinâmica dos aspectos sociais e simbólicos das escolhas afetivas das mulheres negras (e de seus pares), sem receios os pontos de cruzamentos e distanciamentos mais significativos das histórias abordadas, é preciso discutir temas espinhosos, penetrar nas profundezas das subjetividades humanas e das relações edificadas experiências vividas concretamente, no cotidiano da nossa sociedade. Falar de afetividade, de escolhas, de solidão é colocar em xeque (desmontar) os sistemas de preferências que prescindem a ideia de brasilidade, posto que as mulheres negras aparecem como corpos sexuados e racializados, não afetivos, na construção da Nação.
(*) – Ativista do Movimento Negro- Membro da Diretoria do Grupo TEZ (Estudos Zumbi), Especialista em Educação à Distância, Especial Inclusiva e Étnico-racial e quilombola, licenciatura em História, Mestra em História ontatos: Instagran: @profamylaartigotcc/ Email: [email protected]