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Franklin descarta candidatura a deputado estadual; vai ajudar a reeleger Gleice Jane

“Pode esperar um mandato de muita escuta, muito diálogo e também ação. Já comecei a fazer visitas, receber demandas e denúncias e a realizar reuniões de articulação”

Juliel Batista –

Em entrevista exclusiva à Folha de Dourados, o vereador eleito, Franklin Schmalz (PT), analisou o cenário político em Dourados, o seu futuro mandato e discorreu sobre as bandeiras e lutas que pretende continuar lutando.

Com os seus 30 anos completos, Franklin foi o segundo vereador mais bem votado de Dourados nas eleições passadas, com 2.452 votos, além de ser o primeiro LGBT a assumir a cadeira no legislativo municipal.

Formado em Relações Internacionais pela UFGD, mestre em Sociologia pela mesma instituição e técnico em Marketing pelo IFMS, Franklin se mostra otimista com o posicionamento dos eleitos para o parlamento municipal: “Quero acreditar que, sobretudo os novos vereadores e vereadoras, estarão mais atentos às demandas populares”.

Na entrevista, demonstrou compromisso em reeleger Lula e a deputada estadual Gleice Jane, disse que o prefeito eleito Marçal Filho representa a “velha política”, que “muitos vereadores eleitos têm apoio de coronéis locais, que usam essa influência para seu interesse pessoal”, que não vai “permitir que atitudes preconceituosas ou campanhas difamatórias fiquem impunes” e destacou as lideranças do ex-deputado João Grandão e o ex-prefeito Tetila e das novas lideranças “que saíram fortalecidas de 2024, como Tiago Botelho e Cris Terena”.

O vereador eleito ainda salientou que o seu mandato já começou e que as demandas da população serão escutadas.

Confira a entrevista na íntegra:

Folha de Dourados – Como analisa o cenário político em Dourados pós-eleições, na qual foi eleito e muito bem votado? 

Franklin Schmalz –  A população votou por mudança, como mostra a não reeleição de Alan Guedes e a eleição de 10 novos vereadores. No entanto, tenho dúvidas se essa mudança será para melhor. Marçal Filho, por exemplo, representa a velha política, foi eleito sem plano de governo e sem participar dos debates, o que gera incertezas quanto à sua capacidade de promover as transformações esperadas. Além disso, muitos vereadores eleitos têm apoio de coronéis locais, que usam essa influência para seu interesse pessoal, o que torna os mandatos inexpressivos e omissos na Câmara. Fui o segundo mais votado e reconheço a responsabilidade que isso implica e também que existem muitas expectativas para que façamos a diferença na política local. Desde já estou trabalhando pra isso.

“Marçal Filho, por exemplo, representa a velha política, foi eleito sem plano de governo e sem participar dos debates”

O prefeito-eleito Marçal Filho (PSDB) ganhou com folga a eleição para a prefeitura de Dourados. Nesse sentido, como deverá ser a sua conduta em relação ao governo municipal?

Sou oposição qualificada desde agora. O PT, com Tiago e Tetila, apresentou o Plano de Governo mais completo durante as eleições, não ganhamos, mas saímos como a força política de oposição mais forte, porque somos a alternativa a esses grupos que têm se revezado na prefeitura desde o Ari Artuzi. Nossa tarefa será de fiscalização árdua, de denúncia daquilo que estiver errado e também de articulação para buscar soluções. Ser oposição ao projeto que Marçal e o PSDB representam, contudo, não significa que não iremos dialogar naquilo que for possível para avançar em direitos para a população.

“Ser oposição ao projeto que Marçal e o PSDB representam, contudo, não significa que não iremos dialogar”

A Câmara de Dourados passará a contar com 21 vereadores a partir da próxima legislatura, com muitos novos nomes eleitos. Como vê a nova composição? 

Quero acreditar que, sobretudo os novos vereadores e vereadoras, estarão mais atentos às demandas populares. Infelizmente, sabemos que renovar os nomes e as caras não significa renovar as práticas, mas quero provocar que os colegas atuem sem descanso para que a câmara seja mais atuante, mais presente e que faça os debates e legisle naquilo que impacta o dia a dia das pessoas. Espero que nós possamos trabalhar em conjunto, sempre que possível, e também que possamos divergir com tranquilidade dentro dos limites do respeito e da democracia.

Sobre a eleição da nova mesa diretora da Câmara. O que pensa?

Com o resultado da eleição, é quase certo que a presidência fique com algum colega do PSDB, resta saber qual conseguirá unir a base do futuro governo Marçal, ou então, conseguirá reunir votos dissidentes e dos colegas da oposição. Já fui procurado por colegas para dialogar sobre o tema, mas tenho sido cauteloso e não estou alinhado com nenhum grupo. Acredito ser importante termos uma mesa diretora que respeite cada um dos vereadores e garanta um ambiente de trabalho livre de influências externas, pois isso é muito mais eficaz do que uma câmara subordinada unicamente aos interesses do prefeito e liderada de forma autoritária. Continuarei a dialogar com aqueles que desejam construir uma Câmara transparente, autônoma e comprometida com a democracia e que busque conduzir os trabalhos com respeito e seriedade.

“Já fui procurado por colegas para dialogar sobre o tema (Mesa Diretora), mas tenho sido cauteloso e não estou alinhado com nenhum grupo”

O que Dourados pode esperar do seu mandato na Câmara Municipal pelos próximos 4 anos?

Pode esperar um mandato de muita escuta, muito diálogo e também ação. Já comecei a fazer visitas, receber demandas e denúncias e a realizar reuniões de articulação. Estaremos lado a lado com a sociedade civil, os movimentos sociais e o Governo Lula para defender direitos, aprovar projetos relevantes, buscar soluções e recursos para Dourados. Também usaremos a tribuna para denunciar, expor e indicar sobre temas relevantes.

Quais bandeiras estarão no centro dos debates legislativos, por parte do senhor?

Apesar de termos muitos problemas na cidade e uma plataforma política ampla, após muito diálogo durante a campanha acredito que daremos destaque para a defesa da educação pública, dos direitos sociais e humanos, da cultura, da mobilidade urbana e da pauta ambiental.

O senhor foi o mais votado pelo PT de Dourados. Enquanto jovem e LGBT, quais são as suas perspectivas para esse mandato?

Acredito que estamos num momento de retomada de espaços pela esquerda. Faço parte de um grupo de novas lideranças que está conduzindo um processo de renovação dos quadros do PT, isso é muito importante, sobretudo para que possamos dialogar com setores da sociedade para além da “nossa bolha”. Penso que esse mandato é mais uma oportunidade, junto do colega Elias Ishy, de mostrarmos que o PT tem projeto para Dourados e que também temos novas pessoas, novas ideias e formas de dialogar e fazer política. Quero contribuir para que as pessoas vejam que a política pode ser melhor do que é.

“Faço parte de um grupo de novas lideranças que está conduzindo um processo de renovação dos quadros do PT”

Desde o término da campanha, inúmeros ataques homofóbicos foram direcionados ao senhor, inclusive partindo de vereadores com os quais terá que conviver na Câmara. Nesse sentido, de que forma vem se posicionando e agindo quanto a isso. Ainda nesse aspecto, acredita que isso se perpetuará durante o seu mandato?

Como LGBTfobia é crime, tomei as providências legais e registrei ocorrência na polícia, e sempre farei o mesmo em situações semelhantes, dentro ou fora da Câmara. Não vou permitir que atitudes preconceituosas ou campanhas difamatórias fiquem impunes. No mais, tento não perder tempo com quem ataca, produz fake news e espalha ódio para chamar atenção. Minha maior resposta pra isso sempre será mais trabalho e compromisso com a população.

“Não vou permitir que atitudes preconceituosas ou campanhas difamatórias fiquem impunes”

A mudança de partido, do PSOL para o PT, no início deste ano, viabilizou sua eleição. Como foi e está sendo a recepção na nova legenda, seja por parte da militância do PT, e até mesmo das lideranças locais e regionais?

A mudança de partido permitiu mais estrutura, mais condições de aproximar pessoas do projeto e mais visibilidade, porém não atribuo a vitória apenas a isso. Tenho uma trajetória de lutas sociais que começaram bem antes da filiação partidária, assim como um capital político acumulado, e, na minha opinião, uma capacidade de dialogar com temas e setores fora do petismo tradicional. Dito isso, sempre fui muito bem recebido pela militância do PT, e agora tenho contribuído para formar novos militantes, pessoas que se aproximaram e estão se filiando. Desde antes eu já cultivava ótimas relações com as lideranças petistas e agora não seria diferente. O compromisso com um projeto de transformação social e uma trajetória atestada de militância e coerência, sempre serão os maiores critérios para a construção de boas relações políticas.

Diante da expressiva votação que conquistou, existem rumores de que seu grupo político vinculado ao PSOL trabalha para sua candidatura a deputado estadual ou federal, em 2025. É candidato daqui dois anos?

Eu não tenho grupo político vinculado ao PSOL. Meus projetos políticos são construídos no PT e seguem sendo dialogados com os movimentos sociais e com as pessoas dispostas a contribuir. Entendo que, por conta da votação expressiva, algumas pessoas queiram que eu dispute as eleições de 2026, é normal e agradeço pela confiança. A minha prioridade agora é construir o mandato e trabalhar para corresponder a essa confiança. O PT terá eleições internas ano que vem e muitos debates sobre 2026. Tenho certeza de que cumprirei alguma tarefa nesse processo, mas ela não precisa ser como candidato. Temos a campanha da reeleição de Lula para fazer, assim como ajudar a reeleger a deputada Gleice Jane, ampliar nossas bancadas estadual e federal. Além disso, o PT Dourados tem outras lideranças muito capacitadas para nos representar no pleito, como o ex-deputado João Grandão, o ex-prefeito Tetila e as novas lideranças que saíram fortalecidas de 2024, como Tiago Botelho e Cris Terena.

“Temos a campanha da reeleição de Lula para fazer, assim como ajudar a reeleger a deputada Gleice Jane”

Para fechar, suas considerações finais?

Estou sempre à disposição da população de Dourados para dialogar e contribuir na construção de uma cidade melhor para todos. As eleições deste ano evidenciaram o fortalecimento da direita e do centrão nas prefeituras e câmaras municipais, enquanto o bolsonarismo segue ativo, tentando retomar espaços. O desafio é significativo para o progressismo e para a esquerda, mas estou comprometido em fazer minha parte aqui em Dourados, enfrentando essas adversidades e mobilizando mais pessoas para fortalecer um projeto de sociedade baseado na justiça social e em uma democracia mais ampla e participativa.

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