Mariana Rocha –
Deputado federal em seu sexto mandato, o experiente Dr Geraldo Resende (PSDB) concedeu entrevista exclusiva à Folha de Dourados na última sexta-feira (30). Pela primeira vez em minha ainda jovem carreira, eu, Mariana Rocha, tive a chance de dialogar com o deputado federal
Vislumbrando as eleições de 2024, Geraldo Resende (PSDB) falou sobre o futuro do Diretório do PSDB em Dourados, sobre a construção de um consenso no partido, falou também sobre a falta de gestão de saúde em Dourados, sobre seu trabalho em Brasília, e sobre a necessidade dos eleitores de Dourados “corrigirem seus erros e construírem um projeto de cidade à altura dos cidadãos e cidadãs.”
Articulada pelo amigo Nunes (União), presidente da União Douradense de Associações de Moradores de Dourados (UDAM), a entrevista aconteceu na nova sede do “ninho tucano” em Dourados, cujo imóvel foi cedido pelo deputado estadual Zé Teixeira (PSDB).
Geraldo Resende falou sobre o apoio da família e da mãe, dona Hermenegilda Resende Pereira, que na sexta-feira (30) ainda estava internada, mas faleceu no dia 2 de julho, um dia após a entrevista. A Folha de Dourados publicou a notícia de falecimento e encaminhou nossas mais sinceras condolências aos familiares.
A entrevista:
Folha de Dourados – Deputado é um prazer estar aqui. Bem, o senhor já passou por muitos cargos eletivos, inclusive, começou como vereador em Dourados, deputado estadual, depois deputado federal e já disse que pretende ser candidato a prefeito de Dourados. No final de agosto deste ano será eleito o presidente do PSDB em Dourados o que significa o primeiro passo até 2024, o que espera?
Geraldo Resende – Bem, pode não ser eleito o presidente do PSDB em Dourados, se nós construirmos uma chapa de consenso e deixarmos a constituição da Executiva, com a indicação do presidente e os demais cargos a posteriori (posteriormente); mas eu acredito que temos que criar uma chapa de consenso, como eu disse. Afinal, nós não podemos mostrar divisões agora. O nosso projeto maior é 2024! A tese que defendo é que em Dourados a política é muito rasa e os candidatos criam projetos para si mesmos ou para seus próprios partidos e nunca visando, de fato os 243 mil moradores que aqui vivem e sonham em fazer um projeto de cidade. Em Dourados, existem narrativas falsas, nas quais, infelizmente, uma parcela da população se conduz a elas. Aqui não há projeto de candidatura onde se discuta sobre qual saúde nós queremos? qual educação nós queremos? junto com as pessoas! Dando um olhar para dourados e sua responsabilidade com outros 34 municípios que necessitam da cidade. Se Dourados vai mal na saúde da pequenina Japorã, lá no Cone Sul, sofre. Espero que o consenso do PSDB fortaleça um nome que saiba o que fazer para melhorar Dourados e a vida dos sul-mato-grossenses. Para se ter uma ideia, em Dourados existem muitos casos de pessoas que usam muletas pois ainda não conseguiram uma prótese e isso é uma crueldade! Em Dourados não se consegue um aparelho de audição e é preciso ir até Campo Grande para isso, mais uma vez, isso é uma crueldade!
Deputado, nas últimas eleições para prefeito de Dourados o senhor demonstrou hombridade e companheirismo, anunciando ao partido e a comunidade política que retirava seu nome em favor do atual vice-governador, o Barbosinha (PP) que perdeu para o jovem Alan Guedes (PP) e que por ironia da política, agora faz parte do mesmo partido. O senhor espera o apoio do Barbosinha desta vez?
Eu espero o apoio de todas as forças políticas que querem o bem de Dourados desta vez. Todas as lideranças e partidos. Sabe por que, Mariana? Porque eu me sinto preparado, em todos os sentidos. Maturidade, conhecimento, e postura política. Eu sei onde buscar recursos, tanto no estado quanto no governo federal. Acredito que a bagagem que meu mandato conseguiu em Brasília, certamente, poderá nos ajudar a fazer uma verdadeira revolução administrativa na nossa cidade. Além disso, precisamos aqui fazer um enfrentamento as corporações que tomaram conta desta cidade. Tenho conversado com lideranças do PT, tanto de Dourados quanto da Capital, com pessoas que já anunciaram seu interesse em ser candidatos, com entidades, como a Associação Médica, com a Associação Comercial e logicamente, se eu for o timoneiro¹ deste projeto, eu acredito que temos tudo para reconstruir a autoestima da população de Dourados.
Bem, o senhor falou do Partido dos Trabalhadores. Na cidade, todos sabem que o senhor já conversou com o professor e advogado Tiago Botelho que foi candidato a senador pelo PT. No passado, fez muitos enfrentamentos ao ex-prefeito Laerte Tetila (PT), inclusive acionando-o na Justiça. Tetila é um importante peça de consenso. Acha que o PT pode apoiar seu nome?
Eu tenho um olhar para todas as frentes políticas. Além do PT eu tenho conversado muito com a direita de Dourados. Eu defendo um projeto amplo, que vá da esquerda à direita. Todos sabem que eu ajudei a conquistar a mandato do PT na Prefeitura de Dourados, na época eu militava no PPS (atualmente Cidadania) e fomos parceiros, mas tive que romper por conta de compromissos não cumpridos. Tive um desgaste político na época com meu próprio partido. Hoje, não tenho como fazer reparos às ações que propusemos, pois todas elas vieram de princípios que o agente político deve ter, independentemente de ser de direita ou esquerda.
O senhor fala que a regionalização da saúde não é compreendida e que o município tem importância fundamental nisso. Hoje, em Dourados, qual seria a melhor narrativa para o maior problema da saúde para sua ampla regionalização?
Olha, o problema de Dourados é gestão! E não é só desta administração, das outras que passaram, Dourados não viu uma gestão sequer com competência e conhecimento prático e administrativo em saúde. Nenhum prefeito ou prefeita que passou aqui nos últimos anos tinha vocação para resolver os problemas da saúde de Dourados e dos outros 34 municípios que dependem da nossa cidade. Posso te dizer que mais da metade dos prefeitos e dos secretários de Saúde das cidades que dependem de Dourados estão inconformados com a falta de compromisso e de posicionamento da gestão em saúde na cidade, pois somos a referência da alta-complexidade no sul do estado. Da minha parte, eu tenho dado todo meu apoio através do meu mandato e também da minha atuação como secretário Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul.
Deputado, sua esposa mora em Campo Grande, outra parte de sua família em Dourados. Mesmo assim, Geraldo Resende vai ter o apoio da família?
Minha família sempre me hipotecou o mais amplo e irrestrito apoio. Todas as vezes a minha família foi a primeira parte da minha vida a concordar com meus projetos. Hoje (30 de junho) minha mãe encontra-se em um leito de UTI em Dourados, mas ela, aos 96 anos, durante a última eleição, ainda botava a bolsinha no braço e pedia voto para o filho dela. Quando eu perdi a eleição para a ex-prefeita Délia Razuk, eu esperava que ao chegar em casa eu tivesse que consolar ela, mas foi ela quem me consolou, Dona Gilda disse “Meu filho, quem perdeu não foi você, quem perdeu foi Dourados“. Ela estava certa, Dourados pagou um preço altíssimo. Mas eu não serei candidato de mim mesmo, tudo depende do partido. Se tiver outro nome no PSDB que encarne todo esse projeto eu não vou ter dificuldade em apoiar, mas minha família vai apoiar. Até lá eu ficarei na ponte, entre Dourados e Campo Grande. Mas sei que meus familiares sabem que posso ser a liderança que preenche o vazio de Dourados para a esfera estadual e federal.
“Meu filho, quem perdeu não foi você, quem perdeu foi Dourados”
O senhor começou a vida política como vereador em Dourados em 1991. Hoje o PSDB tem a maior bancada da Câmara de Vereadores. Para o ano que vem, até porque o prefeito não se elege sozinho, qual é a grande pretensão do PSDB para o Legislativo Municipal, em 2024?
Acho que vamos construir uma chapa boa e que vamos ampliar nossa bancada. Hoje mesmo eu vou conversar com parlamentares do legislativo municipal, como é o caso da vereadora Tânia Cristina (PP), atualmente, uma importante voz feminina no Palácio do Jaguaribe. Já fiz o convite para o vereador Jânio Miguel (PTB) também, um nome muito bem votado na cidade. Inclusive, outros também podem nos deixar e sei de muitas outras pessoas que sonham em ser candidatos e candidatas no ninho tucano. Quem sabe podemos ter de 8 a 10 eleitos e eleitas. Inclusive, sobre o número de vereadores, acho que ao exemplo de Três Lagoas, não devemos ampliar o número de cadeiras na Câmara de Vereadores, não há necessidade deste gasto. O que precisamos é melhorar a qualidade da legislatura municipal. Sem fazer nenhuma referência à atual legislatura, mas a população de Dourados está ávida por uma composição forte na câmara de vereadores, na minha época estávamos eu, João Grandão e outros nomes que tiveram prospecção.
Atualmente, a Câmara de Vereadores vive um escândalo milionário. A obra de reforma do prédio está parada após ser avaliada em 17 milhões de reais. Em uma licitação muito nebulosa, onde documentos supostamente falsos inabilitam a empresa que venceu a licitação. Em pouco tempo, eles estarão no shopping, pagando um aluguel de R$ 63 mil reais. O que o senhor enquanto deputado federal e postulante ao cargo de prefeito, acha disso?
Eu acho que cada um tem que defender a sua área. A questão da Câmara Municipal de Vereadores de Dourados precisa ser resolvida pelos próprios vereadores. Se houve de fato um processo licitatório que teve falhas que os próprios vereadores, através dos instrumentos que possuem, que apontam os erros. Já a população deve acompanhar e fazer o julgamento do trabalho do legislativo municipal no veredito das urnas em 2024. Fica difícil me meter em assuntos da esfera municipal, enquanto deputado federal. Mas acho de bom termo a suspensão e cancelamento deste procedimento licitatório, afinal, estava gerando muitas suspeitas de malversação de recursos públicos.
¹ Aquele que controla o timão de uma embarcação.
