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Médica aborda o transtorno do estresse pós-traumático: ‘ferida que não cicatriza’

Dra. Elisabete Castelon Konkiewitz –

Castelon Konkiewitz escreve essa sobre o “Transtorno do estresse pós-traumático: a ferida que não cicatriza”. Leia a íntegra do artigo:

A maioria das pessoas ao redor do mundo será exposta a um evento potencialmente traumático pelo menos uma vez na vida. De fato, no decorrer da nossa curta existência são muitas as possibilidades de situações extremas que nos colocam à beira da morte e/ou à mercê de violência sem controle, ou saída. O risco de assaltos, sequestros, acidentes, estupros e até mesmo de ataques terroristas e execuções coletivas está sempre presente. Ainda não se entende por completo porque algumas pessoas sucumbem a essas experiências, desenvolvendo o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), não conseguindo mais restituir as suas vidas, enquanto outras as superam e ainda outras até mesmo as enxergam como um fator de crescimento pessoal.

O trauma configura um acontecimento tão extraordinário que rompe com a noção de normalidade, de cotidiano até então aceita como autoevidente. O trauma é uma transgressão do espectro das possibilidades calculáveis. Ele abala e contradiz o senso comum, não se encaixa com coerência na linha biográfica da vítima, sendo impossível determinar  a resposta que cada indivíduo específico desenvolverá. Esta última não é apenas função da natureza da violência sofrida, mas da combinação de suscetibilidades individuais que influenciam o processamento de emoções e da memória.

O TEPT é um antigo problema de saúde pública, ainda muitas vezes despercebido pela sociedade, um assunto emergente, mas que ainda carece de conhecimento e discussão. Quase metade dos indivíduos que manifestam seus sintomas não procuraram nenhuma forma de tratamento.

O quadro clínico de TEPT é complexo e pode manifestar-se de diversas formas. Os sintomas de revivescência e a persistência de memórias de conteúdo traumático são um tormento constantemente. Pode haver sonhos pertubadores e “flashbacks” de momentos devastadores, como se estes estivessem acontecendo novamente.  É possível que apenas pistas associadas ao evento traumático possam despertar reações de medo. Por exemplo, um ex combatente, ao presenciar fogos de artifício, não consegue distingui-los de uma situação de bombardeio, entra em estado de extrema ansiedade.

Outro sintoma frequente no TEPT é a dissociação, que consiste na fragmentação de elementos da consciência, normalmente integrados, levando a prejuízo de memória, identidade e percepção de si mesmo e do ambiente. Duas formas comuns de dissociação são a despersonalização e a desrealização, ambas sendo anormalidades perceptivas intimamente relacionadas, nas quais a informação sensorial não se integra. A despersonalização é um sentimento de estranheza e desconhecimento de si mesmo, a sensação de que se perdeu posse do próprio corpo, que se está divorciado de si mesmo, de seus sentimentos, emoções e identidade. Desrealização é a sensação de que se está desapegado do mundo exterior, que se tornou irreal e carece de emoção ou profundidade.

A hipervigilância se caracteriza por um estado de constante alerta, tensão e guarda. Como se estivessem em situação de ameaça, pessoas com TEPT estão sempre examinando o ambiente à sua volta. A hipervigilância pode fazer com que situações do cotidiano pareçam ameaçadoras.

A evitação se apresenta como esquiva a qualquer situação, ou estímulo que possa se relacionar às recordações traumáticas— sejam pessoas, lugares, ou situações. Isso pode limitar dramaticamente o espectro de atividades e de participação social e familiar do paciente, atingindo níveis de incapacitação.

Pessoas com TEPT frequentemente têm sintomas de depressão com sentimentos de vazio, desesperança, angústia, mas também de alienação, isolamento e incapacidade de sentir emoções profundas, ou de criar vínculos. Sua experiência é de tal forma inexprimível e incompartilhável que impede a intimidade com outras pessoas, a retomada da vida de antes e o estabelecimento de metas e aspirações para o futuro.

O tratamento do TEPT envolve intervenções psicológicas, farmacológicas e abordagens complementares. Ele deve ser individualizado, considerando a gravidade dos sintomas, as comorbidades presentes, as preferências do paciente e os recursos clínicos disponíveis.

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