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Eduardo Martins: ‘Adolescência’, Jamie Miller e João Kumaruara entre dois mundos

Eduardo Martins, docente adjunto 4, curso de História, (UFMS-CPNA) –

Eduardo Martins: 'Adolescência', Jamie Miller e João Kumaruara entre dois mundos

Montagem do autor (2025)

Acabei de ver um vídeo postado no Instagram pelo jovem indígena João Kumaruara, gravado da sua aldeia Muruary, no território Kumaruara, no baixo rio Tapajós, município de Santarém, Pará. Link: https://www.instagram.com/reel/DHs8uueO-8-/?igsh=eTNyYzllZ2djNWZ1. (acessado em 14 abril, 2025).

O vídeo é didático de como o adolescente indígena encara o mundo, revelando o Bem Viver Indígena representado pela noção de ecologia plena, meio ambiente total de simbiose entre os seres vivos; humanos e não humanos. Onde inexiste a noção hierarquizada ocidental entre as pessoas e outros seres vivos, que visa classificar os entes da floresta inferiormente, enquanto justificativa para a sua eliminação, em clara demonstração de superioridade.

Nas cosmologias dos povos indígenas encontramos a origem da Terra e da vida, em perfeita sintonia entre os seres, mas também o antropomorfismo e a metamorfose entre homens e mulheres em seres não humanos como cobras, onças, tatus, gaviões, araras, etc, em suas reencarnações. Ou os espíritos e seres guardiões da floresta e das águas, como Curupira, Saci, Iara mãe d’água, Boto, Boitatá, histórias indígenas de valor inestimável para explicar e dar sentido ao funcionamento da vida nas matas, enquanto um organismo potente, pulsante e vibrante; vivo na acepção mais genuína dessa palavra.

O que a série “Adolescência”, tem a ver com tudo isso?

O vídeo revela o tempo integral indígena, o tempo de longa duração e muito lento, quase imóvel, o tempo do rio que mansamente vai para o mar, no seu ritmo cadenciado, tempo ancestral, sem data de nascimento ou de morte, sem o tempo do calendário euro-cristão. Onde mais importante do que saber de onde vim e para onde vou é saber quem eu sou. Essa é a questão existencial indígena, quem eu sou? Eu sou um adolescente. E o que você vai ser quando crescer? Vou ser velho, ancião, sábio, como o meu avô.

Uma cena e um cenário ancestral, narrada na literatura indígena, por escritores e escritoras indígenas, nas crônicas e relatos por eles/as contados dessas terras brasilis, terra de Pindorama, nas narrativas de envolvimentos entre as vidas. Não é que ela se repete, é que ela nunca cessou de existir é contínua onde os seres vivos e a natureza coabitam e coexistem nessa harmonia e fraternidade umbilical mediado pela floresta, rios, e a terra, fontes da vida, que a todos e a tudo generosamente provê e é provido.

O vídeo do jovem indígena João pertencente ao povo Kumaruara é um excelente material para ser utilizado como uma ferramenta didático-pedagógico para fins de letramentos indígenas, sobretudo às crianças e adolescentes, enquanto cumprimento da Lei Federal 11.645/08, que obrigou as escolas a inserir nos seus Currículos os estudos da história e da cultura indígena. O que o vídeo nos revela é a cosmologia indígena do tempo em que os seres humanos e não humanos não se diferiam preconceituosamente, pois educa para uma vida plural, vidas entre as vidas; afagos, afetos e amores.

Ah, eu não falei da série “Adolescência”, (netflix) correto? Acredito que você assistiu e ficou tão chocado quanto eu. Convido, então, a refletir e comparar o adolescente indígena João Kumaruara, (con)vivendo com a floresta, com o da série “Adolescência”, o personagem Jamie Miller, sobrevivendo no meio urbano, (família, escola e redes sociais). Qual a sua opinião sobre o modo de vida dos dois adolescentes?

Por fim, o vídeo tem um valor, beleza e pureza inestimável enquanto palavras e imagens que vem nos presentear por um adolescente indígena no seu dia a dia, no cotidiano habitual da vida com a floresta em as vidas que vivem juntas, sem separação; por gaiolas, cordas, “zoológicos”, tampouco comércio de “pet”.

Finalmente. Os Kumaruara são um povo indígena que vive na região do Baixo-Tapajós, no oeste do Pará. A palavra Kumaruara vem de Cumaru, uma planta que os Kumaruara consideram a essência da cura e da identidade.

Protagonismo dos Kumaruara

• Os Kumaruara lutam contra a pesca predatória no rio Tapajós, especialmente em áreas protegidas.

• Mobilizam-se para defender a floresta e combater incêndios.

• Lutam pela demarcação de seu território indígena e por seus direitos.

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