Dra. Rafaela Marinho (*) –
Atrás da aura de glória e sucesso que envolve o mundo dos esportes, muitas vezes se esconde a face sombria marcada pelo ego inflado e pela busca desenfreada por poder. O narcisismo, um traço de personalidade caracterizado pela grandiosidade, pela necessidade de admiração e pela falta de empatia, tem se infiltrado no universo esportivo, corrompendo relações, minando o desempenho e, em última análise, prejudicando o esporte como um todo. Neste artigo, vamos explorar as raízes do narcisismo no esporte, as consequências devastadoras e as estratégias para construir um futuro mais saudável e ético para o mundo esportivo.
Características de Dirigente Esportivo Narcisista
- Necessidade de Admiração: os dirigentes narcisistas buscam incessantemente validação externa e elogios. Este comportamento se manifesta nas interações, onde a busca por reconhecimento se torna central. Um exemplo clássico é o dirigente que exalta as próprias realizações pessoais em detrimento do trabalho em equipe;
- Falta de Empatia: a incapacidade de se colocar no lugar do outro é uma marca registrada do narcisismo. Um dirigente que desdenha das preocupações e sentimentos de atletas, comissão técnica ou funcionários demonstra esse traço. Isso pode levar a um ambiente tóxico, onde a opinião alheia é desvalorizada;
- Exploração Interpessoal: dirigentes narcisistas muitas vezes manipulam outros para alcançar os próprios objetivos. Um exemplo pode ser o dirigente que utiliza jogadores como ferramentas para impulsionar a própria imagem, sem considerar os interesses e o bem-estar dos outros;
- Comportamento Arrogante: a prepotência e a sensação de superioridade são comuns. Este dirigente acredita ser infalível, ignorando conselhos e opiniões de especialistas e colegas. Tal atitude pode resultar em decisões desastrosas para a equipe;
- Dificuldade em Aceitar Críticas: por não tolerar feedback negativo, o dirigente narcisista reage de maneira defensiva ou hostil quando confrontado. Essa característica muitas vezes cria um clima de medo e retaliação entre os colaboradores;
- Senso de Grandeza: por fim, essas pessoas transtornadas tendem a exagerar a importância e as vitórias, frequentemente distorcendo fatos em favor de narrativas falsas. Um exemplo seria um dirigente que reivindica em público a autoria exclusiva de resultados positivos, ignorando a contribuição coletiva.
Como Lidar com Dirigentes Narcisistas
- Estabeleça Limites: é essencial que as equipes e colaboradores definam limites claros nas interações. Manter a postura profissional e assertiva pode ajudar a proteger a integridade emocional dos indivíduos envolvidos;
- Foque nos Fatos: quando necessário, é fundamental que a comunicação com indivíduos narcisistas seja baseada em dados concretos. Isso pode ajudar a reduzir a defensividade e, em alguns casos, promover a mudança de perspectiva;
- Procure Apoio Externo: em situações extremas, buscar o aconselhamento de profissionais, como psicólogos e consultores esportivos, pode ser benéfico. Eles podem proporcionar a visão imparcial e estratégias eficazes para lidar com dinâmicas difíceis;
- Promova a Transparência: criar o ambiente onde a comunicação é aberta pode ajudar a contrabalançar a dinâmica opressiva imposta por dirigentes narcisistas. As reuniões regulares e o clima de feedback são importantes para que todos sintam que têm voz;
- Avalie o Apoio à Liderança: é vital que os apoiadores internos reflitam se as ações deles reforçam comportamentos narcisistas. Muitas vezes, a manutenção de líderes prejudiciais se dá pela cultura de adulação ao redor. Ser crítico e avaliador em vez de conivente é essencial.
Perigo de Apoiar Dirigente Narcisista
Apoiar cegamente dirigente esportivo narcisista pode resultar em consequências desastrosas não apenas para a organização, mas também para os próprios atletas e funcionários. Em muitos casos, essa perpetuação da liderança pode levar a:
- Desmotivação da Equipe: com um líder que não se importa com as necessidades da equipe, a moral se deteriora, levando a um desempenho abaixo do potencial;
- Rotatividade de Talentos: atletas e profissionais poderão buscar oportunidades fora da organização, resultando em perda de talentos e aumento de custos associados a contratações e treinamentos;
- Perda de Credibilidade: uma imagem ruim pode se espalhar rapidamente, prejudicando relações comerciais, patrocínios e a percepção pública da instituição;
- Cascata de Problemas de Saúde Mental: o estigma e a pressão criados por um ambiente tóxico podem gerar problemas emocionais e psicológicos significativos, abrangendo desde o estresse até a depressão.
O narcisismo no esporte, além de ser um problema pessoal, reflete uma cultura mais ampla que valoriza a o egoísmo exacerbado e a competição acirrada e sem limites. Essa cultura, muitas vezes, desconsidera o trabalho em equipe, a coletividade e o bem-estar psicológico dos atletas. Ao cultivar um ambiente onde o sucesso próprio é colocado acima de tudo, criamos um terreno fértil para o florescimento de comportamentos narcisistas, perpetuando um ciclo vicioso de busca incessante por reconhecimento e poder.
O narcisista, na busca incessante por admiração e poder, encontra na guerra o palco perfeito para a grandiosidade. A guerra, para ele, não é meramente um conflito, mas uma obra de arte onde ele é o protagonista absoluto. Ao instigar a discórdia e a destruição, o narcisista não apenas satisfaz seu ego inflado, mas também alimenta a ilusão de ser indispensável, o único capaz de restaurar a ordem a partir do caos. A guerra, portanto, é o altar onde ele sacrifica a humanidade em nome da própria imagem, revelando a face sombria de um narcisismo exacerbado.
Em suma, o reconhecimento de dirigente esportivo narcisista e a forma como se lida com essa situação são cruciais à saúde organizacional. Entender que o apoio a esse tipo de liderança não é a estratégia benéfica pode salvar instituições esportivas de sérios danos e garantir o ambiente mais saudável e produtivo para todos os envolvidos.
*Psicanalista em São Paulo – SP.