fbpx

Desde 1968 - Ano 56

33.5 C
Dourados

Desde 1968 - Ano 56

InícioColunistaElisabete Castelon Konkiewitz: 'Ansiedade generalizada, o medo da vida e o desejo...

Elisabete Castelon Konkiewitz: ‘Ansiedade generalizada, o medo da vida e o desejo de controle’

Elisabete Castelon Konkiewitz (*) –

No fundo, no fundo, ansiedade é medo. E assim, o transtorno de ansiedade generalizada corresponde ao medo generalizado, ou seja, uma sensação desagradável de apreensão e insegurança, por vezes mais consciente, por vezes subliminar, porém sempre presente. Em alguns, a experiência é predominantemente psíquica, com preocupações contínuas, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração e memória; em outros, predominam os sintomas físicos, como sudorese fria, palpitações, “frio na barriga”, etc.

Obviamente muitos dos nossos medos são justificáveis, pois, de fato, a vida é imprevisível e em si arriscada. A qualquer momento, podemos sofrer um acidente grave, perder um ente querido, adoecer, fazer um mau negócio, ser envolvidos em litígios judiciais, ser vítimas de assédio, calúnias e difamação, etc. Tudo o que temos e com que nos identificamos pode se perder para sempre num segundo. Lidar com a transitoriedade e fugacidade da vida gera angústia em todos nós e muitas são as formas que usamos para lidar com isso.

Na maior parte do tempo, lutamos para não pensar na nossa condição e buscamos nos distrair com os vários conteúdos do cotidiano. O problema é que, apesar dessa repressão, a consciência dos perigos, riscos e vicissitudes e a consciência da morte persistem.  Nesse contexto, a manifestação da ansiedade pode ser consequência da ilusão de que se conseguirmos ter o controle de tudo, ter em mente todas as possibilidades, prevenir todos os reveses, conferir todos os detalhes, a vida deixará de ser perigosa. Assim, ansiedade generalizada se associa a um comportamento inflexível, controlador e perfeccionista.

“Tudo aquilo que tem um começo tem um fim. Faça as pazes com isso e tudo ficará bem.“                      (Gautama Buddha)

É claro que planejar e fazer o melhor de si são necessários para o sucesso dos nossos empreendimentos. O problema está na mente aprisionada pelo perfeccionismo, no medo e nas fantasias catastróficas que paralisam nossas ações e geram tanto sofrimento desnecessário.

O tratamento inclui o uso de medicação, pelo seu efeito rápido que interrompe o círculo vicioso das más experiências que vão se acumulando e aumentando cada vez mais o medo e as convicções negativas. Técnicas de respiração e relaxamento podem auxiliar muito nos momentos de crise, todavia elas precisam ser treinadas intensamente para que possam ser aplicadas quando necessárias. Ainda assim, o transtorno de ansiedade exige uma abordagem mais profunda que envolve a psicoterapia e a espiritualidade. É preciso rever os traumas pregressos, os valores e preconceitos sedimentados, a visão de si mesmo e do mundo.

Superar o transtorno de ansiedade significa aceitar-se a aceitar a vida, tendo a clara visão da transitoriedade de tudo, significa ganhar um distanciamento interno das circunstâncias, significa fazer o seu melhor no presente e entregar os resultados futuros a Deus.

“Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança”.                    (Salmo 36,3)

 “Em meu quarto, encontrei dentro de um lindo recipiente um naviozinho que trazia o Menino Jesus a dormir, com uma bolinha ao Seu lado. Sobre a vela branca escrevera Celina estas palavras: “Eu durmo, mas o meu coração está de guarda”, e sobre a embarcação, esta única palavra: “Abandono!”

(Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face – em “História de uma alma”)

(*) É Doutora em Neurologia na Alemanha e Especialista em Neurologia e Psiquiatria, atua também como professora associada na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), onde também é pesquisadora. Possui mais de 30 anos de experiência clínica e é autora de diversas obras e artigos científicos.

ENQUETE

MAIS LIDAS