O advogado Fernando José Baraúna Recalde nasceu em 5 de outubro de 1963, em Ponta Porã, no então estado de Mato Grosso, vindo ao mundo em uma mistura bem conhecida: o pai, Geraldo Recalde, paraguaio, e a mãe, Neusa Catharina Baraúna Recalde, brasileira. Sendo ele e mais cinco irmãs, a família reflete uma boa junção de tradições paraguaias e brasileiras.
Na adolescência, o pai tornou-se alfaiate em São Paulo-SP. Em meados dos anos 1975, trouxe máquinas de costura e montou em Ponta Porã sua indústria de confecção, uma das primeiras do então estado de Mato Grosso.
Essa história é contada no livro “Minha História em Dourados”, publicado em abril deste ano pela Folha de Dourados e pela 2mil Marketing Digital.
Conheça um pouco mais da vida do pontaporanense que, entre idas e vindas, fixou raízes em Dourados e hoje se considera parte da maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul.
Dourados sempre me pediu para voltar
Em 30 de junho de 1980, o papa João Paulo II chegava ao Brasil e parte da minha família mudava-se para Campo Grande. Minhas irmãs mais velhas foram para lá estudar; pouco depois, eu e o restante da família também fomos morar na capital do já Mato Grosso do Sul.
O direito para mim foi um achado. Dourados, por sua vez, meu destino, na medida em que fui para longe, Dourados sempre “me pediu” para voltar.
Em 1983, com vinte anos, fui selecionado, em Campo Grande, juntamente com outros vinte e nove jovens, pelo Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR/Cavalaria). No dia da incorporação soubemos que a corporação fora transferida para a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados. Esse foi meu primeiro contato com a cidade.
Retornei para Campo Grande, fui para Bela Vista e, de lá, para Três Lagoas. De volta a Campo Grande, fiz História nas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (Fucmat), casei-me e, ali na capital, nasceu minha primeira filha, Natália. Àquela época o Brasil passava por instabilidade econômica e política depois de 21 anos de ditadura militar (1964-1985).
Em 1986, veio o Plano Sarney tentando controlar a inflação, congelando preços e salários e criando o Cruzado Novo – um desastre.
Depois de Sarney, veio o “Plano Collor”, que também não teve êxito, mesmo confiscando a poupança, congelando preços e salários, e criando nova moeda, o Cruzeiro. Nesse cenário, eu e minha família não ficamos nada bem financeiramente. Depois veio o Plano Real, vigente até hoje.
No início dos anos 90, fundamos a empresa PEG-LVE, cuja marca foi criada pelo publicitário Celso Arakaki. Tratava-se da primeira indústria de MS de confecção de bolsas, mochilas e acessórios padronizados com o logotipo de escolas, empresas, associações. Implantamos o sistema consignado e nossos produtos eram vendidos por toda Campo Grande.
Mas as más escolhas, anteriores ao Plano Real, provocaram nossa falência, em 1994. Eu estava no meu segundo casamento, e a Marilene, minha esposa, esperava meu segundo filho, João Pedro, que nasceria em 1995, em Tocantins, terra de Marilene.
Fiquei quatro anos no Tocantins, mesmo com minha mãe e minha irmã, Tânia, questionando sobre eu estar a dois mil quilômetros de casa. Alguns anos se passaram e fui convencido a voltar ao MS, junto com Marilene e João Pedro, depois de visita de minha mãe, em 1998.
Além da distância, minha mãe queria que eu estudasse e fizesse concurso público. Ela se propôs a manter-me, todo o ano de 1999, para que eu pudesse me readaptar.
Fiz um cursinho preparatório e conheci a professora Isali Dinaisa, uma das mais conceituadas mestras de português do estado. Ela e minha mãe eram amigas, o que me fez redobrar minha preocupação em estudar.
Ao me matricular no cursinho, Dona Neusa falou muito sério comigo: era para focar nos estudos e trilhar algum rumo na vida, sugerindo que eu fizesse Direito – o que eu queria.
No início de 1999, todos os concursos públicos foram cancelados pelo governo federal, e só me restou a opção de prestar vestibular. Foi quando eu soube, no cursinho, do vestibular de inverno de Direito, na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), em Dourados. Era a oportunidade de treinar para o vestibular de final de ano, em Campo Grande.
Fiz o vestibular e passei, embora eu e minha mãe não esperássemos, ainda mais para um curso ministrado no período matutino, como é até hoje, o que dificulta ao discente conseguir trabalhar.
Renunciar à vaga não era a opção, e minha mãe me deu confiança suficiente para que eu me mudasse para Dourados, ao estender o apoio financeiro de um, para cinco anos, ou seja, até a conclusão do curso. Assim me matriculei na 3ª turma de Direito da UEMS.
Então, aos trinta e cinco mudei-me para Dourados. Morei cinco anos no Hotel dos Viajantes, na rua Albino Torraca, no centro, onde fui muito bem atendido; tenho boas recordações do “Hotel”, como carinhosamente era chamado pelos universitários que lá moravam.
Dr. Baraúna
O novo ciclo de minha vida, em Dourados, me obrigou a pacificar-me acerca de qual sobrenome eu usaria para construir minha carreira profissional.
Baraúna tem vários significados, mas gosto da versão em que a palavra dá nome a uma planta, a mais alta da Caatinga brasileira. A Baraúna tem uma madeira muito dura, conhecida como aquela que “enverga, mas não quebra”. Há muita poesia neste significado.
Desde muito jovem, minha mãe pedia para que eu usasse o sobrenome do meu avô materno, José Baraúna, militar do Exército, que saiu da Bahia para servir no 11º Regimento de Cavalaria, em Ponta Porã.
Concordei em parte, revelando que adotaria Fernando Baraúna Recalde. Para nossa surpresa, após o primeiro dia na faculdade, meus colegas passaram a me chamar de Baraúna; e outros, mais íntimos, de “Bará”, apelido que também era atribuído ao meu avô. O destino mostrou que o acaso não existe, e assim foi durante todo o curso: Baraúna!
Na época precisei explicar para minhas irmãs que não estava “renunciando” ao Recalde para me diferenciar delas. Foi uma escolha que Dourados fez para mim e foi aqui que, de fato, nasceu o Dr. Baraúna.
Na universidade fui alçado a líder, mesmo sem minha vontade, em vista da responsabilidade inerente à função. Pretendia concluir o curso o mais rápido possível e voltar para Campo Grande. A liderança, decerto, aflorou pela experiência adquirida no movimento estudantil, na década de 80, na Fucmat.
Na liderança convivi com professores e professoras do curso. Logo no primeiro ano conheci um “veterano” da primeira turma da faculdade – o hoje meu sócio, amigo e irmão, José Oscar Pimentel Mangeon Filho.
Muito pressionado pelos colegas a me candidatar à presidência do Centro Acadêmico XXVII de Agosto, topei a parada depois de o Oscar aceitar ser meu vice e a Magda Cristina Franco ser a secretária. Vencemos e assumimos a diretoria provisória, já que a entidade não estava formalizada.
Criamos e aprovamos o estatuto do CA, providenciamos a burocracia necessária e logo em seguida fomos eleitos por aclamação. Durante o mandato realizamos várias atividades, entre elas a 1ª Semana Jurídica “Expectativas e Perspectivas do Ensino Face ao 3º Milênio”, a Semana Acadêmica com Concurso de Oratória e o I Ciclo de Palestras “Ética Pública e Direito em Evolução”.
Dentro da universidade fui me identificando com Dourados, participando de momentos importantes para a sociedade douradense, como o do projeto de iniciação científica “Avaliação Ambiental Estratégica Natural”, que me levou a palestrar no II Congresso de Direito Tributário, Constitucional e Administrativo.
Também participei ativamente do Movimento Passe Livre, cujo benefício havia sido revogado, em 2002, pelo então prefeito Laerte Tetila. A conquista foi consolidada em 10 de fevereiro de 2003.
Concluído o curso, decidi contribuir para o desenvolvimento de Dourados e de MS com a monografia “A função Social dos Contratos de Distribuição na Indústria de Gás Natural”, abordando essa matriz energética no estado.
Assim, depois de cinco anos, e eu já com quarenta anos, chegava ao fim, com sucesso, o ciclo de estudos e o projeto de minha mãe para minha vida.
Retornei a Campo Grande, prestei e passei no exame da OAB. Lá, eu e minha mãe decidimos que iríamos morar juntos em Dourados, o que aconteceu nos dez anos seguintes; em 2015, ela retornou à capital.
Com a ideia consolidada de construir carreira em Dourados, era hora de iniciar a caminhada. O Oscar já estava com escritório montado e eu, iniciando. Decidimos criar o Escritório de Advocacia BARAÚNA, MANGEON e Advogados Associados, com ênfase no Direito Eleitoral e Administrativo, com especialização em Contratações Públicas. Assim o desejo da Mãe se concretizou, sendo BARAÚNA o nome que identificaria o Fernando José Baraúna Recalde.
Não demorou muito para que começássemos a captar clientes; fomos nos fixando por meio do bom trabalho prestado.
Em 2008, assessorei a campanha eleitoral vitoriosa, do então deputado estadual Ari Artuzi, à Prefeitura de Dourados. Integrei o secretariado municipal na Procuradoria Geral do Município, onde fui um dos responsáveis por grande parte das desapropriações das áreas para construir a perimetral norte ou anel viário.
Pouco antes da Operação Uragano (que prendeu o prefeito, o vice, o presidente da Câmara, vereadores e empresários) fui convidado a assumir a Assessoria Especial, onde fiquei até a posse do prefeito interino, o então presidente do Fórum de Dourados, o juiz e hoje desembargador, Eduardo Machado Rocha. Despedi-me da função pública pela mesma porta que entrei – a da frente.
Por fim, posso afirmar que Dourados me escolheu e continua, ao longo de todos esses anos, me dando provas de que sou mais que bem-vindo, sou parte daqui.