O ex-vereador Archimedes Lemes Soares, o “Ferrinho”, invoca seu conhecimento da vida douradense para afirmar que sabe a realidade de todos os bairros, chama as pessoas pelo nome e sabe os problemas de cada canto da cidade.
Vereador por dois mandatos (de 1983 a 1985 e de 1988 a 2000), nas duas ocasiões foi presidente da Câmara e também o substituto imediato do prefeito da época, já que nas duas ocasiões os vice-prefeitos se licenciaram para seguir carreira política.
“Ferrinho” está filiado ao Democrata Cristão, e diz contar com o aval das lideranças nacionais para ser candidato a prefeito de Dourados.
Nesta entrevista exclusiva à Folha de Dourados, o ex-vereador fala de suas impressões sobre a cidade, cita as principais deficiências e como pretende resolver os problemas que mais afligem a população douradense.
Folha de Dourados – O que o leva a retomar a vida política, colocando seu nome à disposição para disputar a Prefeitura de Dourados?
Ferrinho – Tenho uma história em Dourados. Meu pai foi político, foi presidente da Câmara, eu fui vereador durante 10 anos, fui presidente da Câmara por dois mandatos, respondi pela vice-prefeitura na administração do ex-prefeito Luiz Antônio, quando o doutor Jorge [George Takimoto] foi candidato a deputado federal, ganhou, e eu, como presidente da Câmara, passei a responder também pela vice-prefeitura. E o mesmo fato ocorreu no governo do nosso amigo Braz Melo. Quando o doutor Sebastião [Nogueira]
era o vice dele e foi eleito deputado estadual, eu, na época, era presidente da Câmara, e passei a responder também pela vice-prefeitura. Agora, andando pelas ruas da cidade e vendo as pessoas clamando por um novo modelo de administração, me vejo em condições de emprestar meu nome e minha vontade de trabalhar para atender esse anseio da população douradense.
“A primeira coisa que tem que ser feita é montar um secretariado técnico”
Como você pretende se colocar como alguém que pode mudar esse modelo de gestão?
Sou douradense, meus filhos são daqui de Dourados, o que eu tenho, tenho aqui, sou casado há 54 anos com a Dona Lídia, aqui tenho meus filhos, minha nora, meus netos. Meu filho [Mauricio Lemes] vai para o quarto mandato de vereador aqui em Dourados… Então, a primeira coisa que tem que ser feita é montar um secretariado técnico e competente. Aliado político, você acomoda. Porque você tem que cuidar de Dourados, visando o bem estar da população. Então, é preciso montar uma administração com técnicos responsáveis em cada área. Tem como mudar Dourados e tem como levar Dourados para frente.
“O prefeito tem que levantar às 4h30 e andar pela cidade. Seis horas da manhã, já tem que se reunir com os seus secretários”
O senhor que já passou por várias administrações como militante na política… na sua avaliação, Dourados evoluiu ou está parada no tempo?
Eu acredito que estamos parados no tempo. Mas se você colocar pessoas gabaritadas nas secretarias, vai fazer a mudança que Dourados necessita. E eu sou uma pessoa que levanta às quatro e meia da manhã todo dia, e vejo que o prefeito de Dourados também tem que ser assim, se realmente gostar de Dourados. Tem que gostar de ser prefeito. Tem que levantar às quatro e meia da manhã e andar pela cidade. Seis horas da manhã, tem que se reunir com os seus secretários. Tem que saber se está faltando isso, está faltando aquilo. Tem que correr. Porque se você não der esse exemplo para o secretariado, vai acabar acontecendo o que está acontecendo hoje.
“É inadmissível uma cidade de mais de 200 mil habitantes, ficar atrás de vários municípios do Estado. Temos que buscar uma educação de qualidade”
Na educação… estamos no mês de junho e ainda se fala em falta de vagas na cidade de Dourados. Isso lhe preocupa?
Preocupa. É um segmento no qual temos que trabalhar. Precisamos construir mais escolas. Precisamos avançar. O Estado tem que assumir o seu papel. A LDB dispõe que a educação infantil é responsabilidade do município; o ensino fundamental, do 1º ao 9º ano, é compartilhada; e o Ensino Médio fica por conta do Estado. Porém, o Estado vem deixando o fundamental por conta dos municípios… aí, a conta não fecha. Dourados não tem nenhuma escola municipal em tempo integral. Porque é inadmissível uma cidade de mais de 200 mil habitantes, ficar atrás de vários municípios do Estado. Valorização profissional é um compromisso da nossa gestão. É inadmissível Dourados ser o 61º município do Estado, quando se fala em salário dos professores. Todas as decisões da Educação, chamaremos a categoria, o sindicato para o centro das discussões. Visitarei todas as escolas e CEIM’s para melhorarmos a estrutura física e elétrica, pois a maioria das construções são antigas e como tenho andado muito, ouço a população reclamar. Temos que trocar ideias, e, com a colaboração de todos, vamos fazer uma educação no nível do que Dourados merece
“Queremos implantar o programa “Médico em Casa”, reformar o Hospital da Vida, aumentar o número de leitos, e trazer mais três UPA’s para Dourados”
E na saúde, o que o senhor propõe?
A saúde de Dourados precisa urgentemente de uma mudança de impacto, que devolva a confiança dos douradenses na saúde pública. Nós precisamos, junto ao governo federal, conseguir mais três UPA’s para Dourados. Uma para atender o Grande Ouro Verde, outra para o Grande Flórida e outra para o Grande Parque das Nações. Isso se faz necessário, essas unidades servem de retaguarda para os pacientes que aguardam vagas nos hospitais. E nós precisamos reformar o Hospital da Vida, aumentar os leitos. A Prefeitura tem que ter convênios com os demais hospitais, tem que ter vaga disponível para atender a todos os pacientes que precisam da saúde pública. É só você ter vontade de trabalhar. Juntar todo mundo, juntar os deputados estaduais, deputados federais, senadores da República, ir a Brasília, ir lá no Ministério da Saúde, ir no presidente da República e lutar para conseguir os recursos para fazer os investimentos necessários para a melhoria do atendimento da saúde pública local. Eu quero fazer igual Curitiba, onde tem o Programa “Médico em Casa”, com uma linha direta na Secretaria de Saúde para a qual o idoso ou a pessoa carente liga, e com 20 minutos a ambulância está na porta da casa para a consulta. Ele não precisa ir na UPA, nem no posto de saúde. Além disso, queremos reformular os postos de saúde e implantar o atendimento 24 horas. É inadmissível que uma criança, que esteja precisando de médico, e ao procurar a unidade de saúde, ela esteja fechada. É inadmissível a criança ter que esperar amanhecer o dia para ser atendida.
Há recursos para contratar mais médicos?
Tem dinheiro no governo federal. É só você procurar. Você tem que colocar pessoas competentes para atender. Nós temos que fazer aqui um hospital pediátrico. Temos que ter hospitais com atendimento para pessoas que sofrem queimaduras, serviço inexistente hoje em Dourados. Precisamos tornar a atenção primária mais resolutiva, minimizando demandas para a atenção hospitalar, ou seja, resolver muitos problemas já no posto de saúde, diminuindo a necessidade de ocupar vagas em um hospital. Temos que melhorar o serviço de regulação com o objetivo de agilizar os agendamentos de procedimentos, exames e cirurgias. Pretendemos, também, aprimorar, na Secretaria Municipal de Saúde, o planejamento, organização, elaboração, execução e avaliação das ações e políticas de saúde previstas no SUS, dentro do âmbito municipal. Além disso, precisamos nomear um secretário de saúde competente, que conheça a área, para poder desenvolver o trabalho que tanto se faz necessário na saúde de Dourados.
Como está sendo organizado o seu partido para sua pré-candidatura?
O partido está organizado. Estivemos essa semana em São Paulo, visitando o nosso presidente nacional, [José Maria] Eymael, que foi deputado federal, foi candidato a presidente da República, e tivemos todo o seu aval para o que for necessário em Dourados, para a gente fazer uma eleição tranquila e correta.
Tem uma boa chapa de vereadores?
Nós temos 22 pré-candidatos a vereadores, os 22 vão ser candidatos, terão condições de disputar a eleição, e eu acredito que nós vamos para o embate. Uma luta democrática, civilizada, para que vença quem vencer, mas nós queremos participar e queremos dar nossa contribuição no pleito municipal.
É possível aglutinar mais algum partido com o Democrata Cristão?
Temos que esperar o mês de julho para ver as convenções dos partidos, ver qual é a possibilidade de coligações. Porque na política, uma hora você olha para cima, está azul; e logo em seguida, com nuvens… Então, eu como mexo com política desde os 12 anos de idade, já estou mais preparado para isso. Mas eu acho que há condições de diálogo, com os partidos, seja quais forem, desde que seja de interesse, para o bem do município.
O senhor tem conversado com a população… o que você ouve, pelos bairros da cidade?
“Ganhando a Prefeitura, vou atrás da equipe do Jaime Lerner para fazer um novo planejamento urbano de Dourados”
O que Dourados precisa é o seguinte: o prefeito tem que levantar cedo e trabalhar. Para você ver: nunca faltou recurso na administração do [ex-prefeito] Zé Elias, que era um cara que vivia em Brasília. O que precisava, ele ia lá em Brasília e trazia. Ele trouxe, em sua época, o [arquiteto e urbanista] Jaime Lerner para cá, para fazer o Plano Diretor da cidade. Esse planejamento tinha que ser refeito depois de 15 anos, mas isso não aconteceu, e por isso a situação urbana da cidade é difícil. Eu, sendo candidato e ganhando a Prefeitura de Dourados, vou atrás da equipe do Jaime Lerner para vir terminar esses estudos e fazer um novo planejamento urbano para Dourados, levando em conta uma população de 400 mil habitantes, que ela terá em poucos anos.
“Conheço Dourados, rua por rua, bairro por bairro. Conheço as pessoas pelo nome. Sei o que acontece em Dourados e do que a cidade precisa”
A mobilidade urbana está atrasada?
É lógico. Eu preciso de dois anos como prefeito de Dourados, mas eu quero recapear Dourados inteiro. Eu quero ir para Brasília, brigar junto aos deputados, aos senadores da República, com os vereadores. Temos que duplicar de Nova Alvorada a Dourados e de Dourados a Ponta Porã. Precisamos melhorar a iluminação pública, o escoamento da safra, porque tem estradas que não têm condições. Você pega a região de Itahum… Tem estrada lá que não tem condições de transitar. Então, você conversa com o douradense e percebe que o que falta é o prefeito ir para a periferia e para os distritos. Gastar um dia, dois dias, três dias na semana, ir todo dia, ir a um bairro, ver o que está acontecendo lá. Ligar para o secretário: “Vem aqui, agora, para você ver isso aqui, para resolver o problema”. Não tem negócio de botar no papelzinho. Tem que ser resolvido. O povo de Dourados quer um prefeito atuante, um prefeito que conheça Dourados, e nenhum dos atuais pré-candidatos conhece Dourados como eu conheço. Rua por rua, bairro por bairro, converso com todos. Conheço as pessoas pelo nome, conheço todo mundo. E sei o que acontece em Dourados e o que precisa na cidade. Então, eu estou aqui, amo Dourados, quero trabalhar, quero deixar um legado para os meus filho, como um dos melhores prefeitos que já passaram por Dourados.
Como seria um secretário ideal, hoje, para fazer parte de sua equipe?
Tem que ser técnico. Uma vez eu fui na fazenda do [ex-governador] Pedro Pedrossian, eu morava em Miranda, e eu fui almoçar com ele lá na fazenda. E conversando, eu falei: “E o fulano, que é nosso companheiro, não é secretário de Estado…” Ele falou assim: “Ferrinho, no meu governo, eu trabalho com técnicos; companheiros políticos, eu acomodo”. Então, eu quero trabalhar com técnicos, com pessoas que gostam de Dourados, tenham vontade de trabalhar, conheçam a secretaria onde vão atuar. E eu vou ser o fiscal. Eu vou ser um prefeito de andar cedo em Dourados, de norte a sul, de leste a oeste, conversar com os secretários, o que tiver que ser feito vai ser feito, não tem papelzinho. O que tiver que acontecer tem que acontecer. Queremos ir para Brasília, queremos, por intermédio do Ministério da Saúde, construir a farmácia municipal. Esses remédios difíceis, que demandam ação judicial, nós vamos trazer, a farmácia municipal vai ter. Porque não é admissível para um aposentado, uma pessoa de idade, ir ao médico, pegar uma receita, e ter que gastar 400, 500, 600 reais de remédio. Como é que ele vai sustentar a família? Não consegue. Então, nós temos que fazer isso, nós temos que lutar. E lutamos de que jeito? Com os vereadores, com os deputados estaduais, deputados federais, senadores, indo para Brasília. Porque não adianta ficar falando: não fiz porque não tinha dinheiro. Não adianta, tem que procurar, tem que atrair recursos. E se você tiver uma boa equipe, faz uma revolução em Dourados.
“No momento que ganhar, tem que chamar a todos sentar à mesa e dizer: pessoal, a situação é essa; vamos trabalhar, todo mundo junto, por Dourados”
Tem alguma cidade como exemplo de que isso tenha ocorrido?
Veja Naviraí: quando entrou um prefeito empresário lá, você viu o que que virou Naviraí? Três Lagoas… veja Ponta Porã. Veja a transformação de Caarapó. Por que Dourados está parado? Então, nós temos que ter prefeito com vontade de trabalhar. E que tenha um projeto, não é projeto individual não, de político, não. É um projeto para Dourados. É um projeto com toda a classe política. O nosso projeto é o de fazer com a classe política inteira, porque todo mundo tem que ter compromisso com Dourados. No momento que ganhar, tem que chamar todo mundo, sentar à mesa e dizer: pessoal, a situação é essa, essa e essa; vamos trabalhar com todo mundo. Vamos lá no governador. Vamos lá no presidente da República. É isso tem que ser feito.
“Acabou o coronelismo. Não adianta mais dizer: sou dono disso e daquilo; eu compro isso, eu compro aquilo”
Muitas pessoas dizem que sua pré-candidatura é para “valorizar o passe” …
Sou pré-candidato a prefeito, já estive essa semana em São Paulo, conversei com o presidente nacional do meu partido, o qual deu um aval à minha pré-candidatura. Se precisar ele vem aqui, me acompanhar, na minha campanha. E o partido tem interesse na Prefeitura de Dourados. Então, sou pré, e vou ser candidato.
Temos hoje nove pré-candidatos a prefeito em Dourados. Por que isso? É uma desunião da classe política ou isso faz parte do jogo político, ou seja, quanto mais candidatos, melhor para a população?
Enquanto não tiver um projeto político para Dourados vai acontecer isso. Enquanto houver projeto individual, vai acontecer isso. Um diz: eu não concordo; outro fala: não concordo; não concordo, e vai se lançando pré-candidato. O que nós temos que entender é que acabou o coronelismo. “Eu sou dono disso, sou dono daquilo; eu tenho voto, eu compro isso, eu compro aquilo, e vou fazer”… Acabou isso! Dourados não admite mais isso. Na época em que Zé Elias foi prefeito, Dourados elegeu cinco deputados estaduais. Elegemos quatro deputados federais. Porque todo mundo estava num projeto. Mas se um quer mandar mais que o outro, quer ser mais líder que o outro, acontece isso, acontece essa briga. Dourados tem que acabar com isso: “eu vou indicar o prefeito, eu vou fazer esse prefeito”. Não é ele não, quem vai fazer é o povo. Quem vai fazer eleição do prefeito de Dourados, hoje, é o povo, não é o dinheiro de ninguém, não. Você entendeu? Esse tipo de negócio não adianta fazer mais, porque o povo não aceita.
“Se você tiver uma boa equipe, faz uma revolução em Dourados”