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Gleice Jane: ‘Não aceitaremos, em silêncio, os ataques que servidores vêm sofrendo’

José Henrique Marques e Juliel Batista –

Professora especialista em educação inclusiva e parlamentar, Gleice Jane (PT), concedeu entrevista exclusiva à Folha de Dourados, onde analisou seu primeiro mandato como deputada estadual [a primeira mulher de esquerda na Assembleia Legislativa], e avaliou os cenários políticos municipal, estadual e nacional.

Novata na Assembleia Legislativa, Gleice pontuou sobre a atuação de seu mandato na vida dos sul-mato-grossenses. Para a deputada, é através da escuta ativa e de observância das demandas da sociedade, que o seu mandato vem se guiando, em um “trabalho participativo e próximo da população”.

Mesmo sendo um dos poucos nomes de esquerda na Assembleia, Gleice destacou um ambiente institucional equilibrado, e com divergências salutares para o ambiente democrático. No entanto, a parlamentar alegou que isso acaba por ser destoante no cenário político como um todo, principalmente devido ao desgaste que está sendo desmentir às fake news.

Sobre a política em Dourados, Gleice começou a sua análise com o PT, e a “expectativa legítima e desafiadora” da militância em retornar à Prefeitura de Dourados, mas mesmo com o terceiro lugar de Tiago Botelho, o partido conseguiu dobrar a bancada de vereadores, além de ter um mandato estadual “atuante”.

Na entrevista, ela lembrou dos avanços significativos do município de Dourados, através das políticas públicas petistas, como a UFGD, IFMS e as moradias populares.

No que tange ao prefeito eleito, Marçal Filho (PSDB), Gleice comentou que o início do governo está focando na fiscalização, e diz que espera que o mesmo produza soluções concretas para a cidade. Para ela, (…) [Marçal] tem uma longa experiência no parlamento e boas articulações em nível estadual e nacional. Portanto, há expectativas de que ele tenha as condições necessárias para atender bem a população.”

A deputada ressaltou para a importância da valorização dos servidores públicos, que segundo ela, vem sofrendo ataques de forma sistemática neste início do ano, principalmente da Educação e da Saúde. “Seria uma grande irresponsabilidade culpar os profissionais da saúde pelo caos no setor, quando, na realidade, o que falta são mais profissionais, insumos adequados e melhores condições de trabalho.”

Ao ser questionada sobre a bancada feminina na AL, em que apenas 3 mulheres são deputadas (Gleice, Lia Nogueira e Mara Caseiro, ambas do PSDB), a deputada comenta que apesar de existirem convergências temáticas, existem divergências estruturais, principalmente nas soluções para os problemas que as mulheres enfrentam.

Gleice diz que pretende buscar a reeleição e que durante o mandato de deputada estadual, viu as suas bandeiras aumentarem. Por ser professora e sindicalista, ela sempre esteve envolvida com essas causas, porém começou a defender ainda mais a área da saúde.

Para Gleice, a saúde e o meio ambiente estão ligados, e os casos de adoecimento tendo crescimento vertiginoso, “(…) somos parte do meio ambiente, é evidente que as agressões ao meio natural impactam diretamente nossa saúde. E essa realidade nos preocupa, porque, se nada for feito, os casos de adoecimento continuarão a crescer.”

No que diz respeito as eleições de 2026, Gleice elencou que o PT em Mato Grosso do Sul, tem objetivos muito claros, como a reeleição do presidente Lula, a eleição do deputado federal Vander Loubet ao Senado e a busca pela ampliação das bancadas federal e estadual do partido.

Ainda sobre o PT, Gleice defendeu o seu posicionamento de independência do governo Eduardo Riedel (PSDB), e ser preciso que o partido reavalie a posição de fazer parte da base governista na AL.

“Nunca fui favorável à participação do PT no governo estadual. Acredito que teríamos uma posição mais estratégica e coerente se estivéssemos na oposição (…)”

Confira a seguir a entrevista na íntegra:

Folha de Dourados – Desde abril de 2023, a senhora exerce mandato de deputada estadual e já se consolidou como um dos quadros mais relevantes da esquerda de Mato Grosso do Sul, sobretudo na política regional. Como analisa sua performance enquanto parlamentar.

Gleice Jane – Tenho trabalhado intensamente para exercer um mandato participativo e próximo da população. Nossa atuação tem sido pautada na escuta ativa e na observação atenta das demandas da sociedade, garantindo que essas pautas cheguem ao Governo do Estado e ao Governo Federal. Além disso, temos cumprido nosso papel de fiscalização, especialmente nas áreas da educação e do meio ambiente, que são fundamentais para o desenvolvimento do nosso estado. Acredito que temos conseguido construir um mandato diferenciado, justamente por priorizarmos o diálogo e a escuta qualificada da população, assegurando que suas necessidades sejam de fato representadas.

‘Nossa atuação tem sido pautada na escuta ativa e na observação atenta das demandas da sociedade, garantindo que essas pautas cheguem ao Governo do Estado e ao Governo Federal.”

Folha de Dourados – Esse é seu primeiro mandato eletivo, depois de muitos anos de militância nos movimentos estudantil e sociais. Como novata na Assembleia Legislativa, a convivência com políticos experientes de vários mandatos à direita e até mesmo da extrema direita é boa? É um ambiente harmônico?

Gleice Jane – Na política, é natural que existam divergências no debate, nas ideias e na forma como cada um entende a condução do país. Essas diferenças são essenciais para o fortalecimento da democracia e para a construção de políticas públicas mais sólidas e representativas. Uma democracia forte se consolida pelo diálogo, pela crítica construtiva e pela reflexão sobre o nosso trabalho.

“Essas diferenças são essenciais para o fortalecimento da democracia e para a construção de políticas públicas mais sólidas e representativas.”

No entanto, nos últimos anos, temos visto uma inversão preocupante desse processo: em vez de debates qualificados, passamos a gastar tempo desmentindo fake news. A extrema-direita tem adotado a estratégia de criar narrativas falsas para confundir a população e desviar o foco do debate real, o que prejudica o avanço das discussões políticas. Apesar desse cenário desafiador, é fundamental não perdermos de vista a distinção entre ideias e pessoas. Dentro da Assembleia, mesmo com diferenças ideológicas significativas, ainda conseguimos manter um ambiente institucional equilibrado, garantindo que a convivência respeitosa prevaleça, mesmo quando há embates acalorados na tribuna.

“(…) nos últimos anos, temos visto uma inversão preocupante desse processo: em vez de debates qualificados, passamos a gastar tempo desmentindo fake news.”

Folha de Dourados – Nas eleições municipais de outubro passado, a senhora teve papel importante em Dourados. Na Câmara Municipal, a bancada do PT cresceu de 1 para 2 membros, embora a expectativa fosse eleger 3 e até 4 vereadores. O que deu errado?

Gleice Jane – Não vejo que algo tenha dado errado. O que tínhamos era uma expectativa legítima dentro de um processo eleitoral, mas sempre soubemos dos desafios para ampliar significativamente nossa representação. Ainda assim, conseguimos dobrar nossa bancada na Câmara Municipal e temos um mandato estadual atuante, o que demonstra que o PT está em um momento de crescimento e retomada em Dourados.

“(…) sempre soubemos dos desafios para ampliar significativamente nossa representação. Ainda assim, conseguimos dobrar nossa bancada na Câmara Municipal e temos um mandato estadual atuante (…)”

Historicamente, o partido já teve uma presença forte na cidade, ocupando a prefeitura, cadeiras na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional, além de uma bancada mais expressiva na Câmara Municipal. Foi nesse período que Dourados viveu avanços significativos, com a implementação de políticas sociais transformadoras e grandes projetos para a cidade, como a criação da UFGD, do IFMS, a construção de moradias populares e uma profunda reformulação no setor educacional. O PT sempre deu uma grande contribuição para o desenvolvimento do município.

“Historicamente, o partido já teve uma presença forte na cidade (…) Foi nesse período que Dourados viveu avanços significativos (…)”

Agora, percebemos que a população tem reavaliado nossa trajetória e reconhecido a importância de termos voz nos espaços de decisão. Estamos fortalecendo nossos vínculos com as bases sociais e retomando um diálogo mais próximo com o povo, o que nos dá perspectivas promissoras para os próximos anos.

Folha de Dourados – Ainda sobre as eleições municipais: o candidato petista a prefeito de Dourados, Tiago Botelho, terminou em terceiro lugar, com 17.845 votos – 14,78% dos votos válidos. A senhora e o PT ficaram satisfeitos com o resultado?

Gleice Jane – Com certeza! A votação do Tiago Botelho demonstra que o PT está crescendo em Dourados e retomando, gradativamente, sua força na cidade. Esse resultado é ainda mais significativo quando consideramos que nossa campanha foi feita sem o mesmo poder econômico das outras candidaturas, especialmente da que venceu a eleição. Dentro das condições que tivemos, considero que nosso desempenho foi excelente.

“Com certeza! A votação do Tiago Botelho demonstra que o PT está crescendo em Dourados e retomando, gradativamente, sua força na cidade.”

Tivemos uma votação expressiva, fruto de um trabalho muito bonito e dedicado. Tiago Botelho fez uma campanha comprometida, esteve nos bairros, conversou diretamente com a população e trouxe para o PT as demandas e anseios do povo. Esse contato próximo foi essencial para fortalecer nossa relação com as bases e reafirmar nosso compromisso com a cidade. Diante desse cenário, avaliamos que o resultado foi bastante positivo, tanto para mim quanto para todo o partido. Foi um passo importante no processo de reconstrução do PT em Dourados, e seguiremos firmes nessa caminhada.

Folha de Dourados – Dourados está “sob nova direção”, com Marçal Filho (PSDB) na chefia do Executivo Municipal. Qual é a perspectiva da senhora para com o novo prefeito? A deputada acredita em mudanças positivas para a cidade ou não?

Gleice Jane – Torço por Dourados e, por isso, espero sinceramente que o novo prefeito consiga enfrentar e solucionar os problemas que a cidade enfrenta, especialmente na área da saúde. Ele começou seu mandato com um forte trabalho de fiscalização e agora esperamos que essa atuação se traduza em soluções concretas para os desafios que tem identificado.

“Ele começou seu mandato com um forte trabalho de fiscalização e agora esperamos que essa atuação se traduza em soluções concretas (…)”

Marçal Filho é de Dourados, tem o apoio do governo do estado, conhece a cidade e passou muitos anos ouvindo a população através da rádio. Além disso, tem uma longa experiência no parlamento e boas articulações em nível estadual e nacional. Portanto, há expectativas de que ele tenha as condições necessárias para atender bem a população. Essa não é apenas uma esperança minha, mas algo que tenho ouvido de muitos douradenses. Ele recebeu a confiança de grande parte da cidade e, agora, precisa corresponder a essa responsabilidade.

“Portanto, há expectativas de que ele tenha as condições necessárias para atender bem a população.”

Espero que sua gestão valorize o que há de mais importante no serviço público: as pessoas que estão na linha de frente do atendimento à população. Também é fundamental que não se tente transferir para os servidores da saúde e da educação a culpa pelos problemas estruturais herdados de gestões anteriores. Seria uma grande irresponsabilidade culpar os profissionais da saúde pelo caos no setor, quando, na realidade, o que falta são mais profissionais, insumos adequados e melhores condições de trabalho.

“Seria uma grande irresponsabilidade culpar os profissionais da saúde pelo caos no setor, quando, na realidade, o que falta são mais profissionais, insumos adequados e melhores condições de trabalho.”

Não aceitaremos, em silêncio, os ataques que esses servidores vêm sofrendo neste início de ano. O que esperamos é um olhar responsável e comprometido para o serviço público, com respeito e valorização dos trabalhadores e trabalhadoras que dedicam suas vidas ao bem-estar da população.

Folha de Dourados – Dourados nunca teve duas deputadas estaduais na mesma legislatura como na atual, onde tem como colega Lia Nogueira (PSDB). Mara Caseiro, também tucana, completa a bancada feminina na Assembleia Legislativa. Há conflitos de ideias na defesa de política públicas para as mulheres, já que estão em campos políticos opostos?

Gleice Jane – Na pauta das mulheres, há pontos de convergência em muitas demandas, mas também há divergências importantes, especialmente na forma como cada campo político enxerga as raízes e as soluções para os problemas que enfrentamos. Para nós, da esquerda, o combate à violência contra as mulheres passa necessariamente por mudanças estruturais nas relações de poder que perpetuam a cultura da violência e da desigualdade de gênero. Já para a extrema direita e parte da direita, muitas vezes há uma tentativa de conservar modos de vida que, historicamente, exploram e desvalorizam as mulheres.

“(…) há pontos de convergência em muitas demandas, mas também há divergências importantes, especialmente na forma como cada campo político enxerga as raízes e as soluções para os problemas que enfrentamos.”

Recentemente, vimos uma declaração pública de uma parlamentar da extrema direita que naturalizou comportamentos de homens casados que buscam sexo fora do casamento. Isso nos leva a questionar: as esposas desses homens recebem o mesmo tratamento social? Nós, da esquerda, entendemos que esse tipo de pensamento, que reforça privilégios masculinos à custa dos direitos das mulheres, contribui para a manutenção da desigualdade e, consequentemente, para a normalização das violências. Toda relação desigual de poder entre homens e mulheres fortalece um ciclo de desvalorização feminina que precisa ser rompido.

Portanto, embora sejamos todas mulheres, nossas ideias e práticas políticas não convergem em tudo. A diferença central está justamente no olhar sobre a raiz do problema: enquanto algumas defendem apenas Gleice Jane s paliativas, sem enfrentar as estruturas que sustentam a desigualdade, nós acreditamos que só haverá uma verdadeira mudança quando transformarmos a base das relações de poder na sociedade.

“(…)embora sejamos todas mulheres, nossas ideias e práticas políticas não convergem em tudo.”

Folha de Dourados –  Quais são as bandeiras de lutas que seu mandato prioriza?

Gleice Jane –  Sou professora, servidora pública e sindicalista, então é natural que minhas principais bandeiras sejam a educação, o serviço público e a valorização profissional. No entanto, ao longo do mandato, tenho escutado atentamente a população e percebido a necessidade urgente de debater a saúde.

“Sou professora, servidora pública e sindicalista, então é natural que minhas principais bandeiras sejam a educação, o serviço público e a valorização profissional.”

Tenho me questionado constantemente: o que está nos adoecendo? Nos últimos anos, observamos um aumento expressivo de doenças raras, autoimunes, alergias e intolerâncias alimentares a produtos que sempre fizeram parte da nossa dieta. O que está mudando no mundo que afeta diretamente a nossa saúde?

“No entanto, ao longo do mandato, tenho escutado atentamente a população e percebido a necessidade urgente de debater a saúde.”

Pesquisas apontam que nossa água está contaminada por agrotóxicos, que a pulverização aérea carrega substâncias tóxicas no ar, e que os agricultores que trabalham de forma orgânica enfrentam enormes dificuldades para produzir sem veneno, devido ao avanço da pulverização aérea e da contaminação dos rios e até da chuva. Além disso, nossos rios estão secando, muitas nascentes foram desmatadas, e o fogo tem devastado as florestas que ainda restam.

Se somos parte do meio ambiente, é evidente que as agressões ao meio natural impactam diretamente nossa saúde. E essa realidade nos preocupa, porque, se nada for feito, os casos de adoecimento continuarão a crescer, e o sistema público de saúde pode não ter capacidade suficiente para atender toda a população.

Essas questões têm guiado nosso trabalho e reforçado a necessidade de um debate sério sobre saúde, meio ambiente e qualidade de vida. Precisamos agir agora para garantir um futuro onde as pessoas possam viver com mais dignidade, acesso à saúde de qualidade e um ambiente equilibrado.

Folha de Dourados – A senhora pretende ampliar a abrangência de seu mandato como estratégia de buscar a reeleição, ou o que vem construindo é suficiente para sair vitoriosa em 2026?

Gleice Jane – Nosso mandato tem sido construído com muito trabalho e compromisso, sempre pautado na escuta ativa da população. Acredito que a principal missão de um mandato parlamentar é justamente estar próximo do povo, entender suas demandas e atuar de forma concreta para transformar essa realidade.

Temos trabalhado com dedicação e, naturalmente, pensamos na reeleição em 2026. No entanto, quem deve avaliar esse trabalho é a própria população. Acredito profundamente na democracia, e são os eleitores que terão a palavra final sobre a continuidade desse projeto. Seguiremos firmes, fortalecendo essa conexão com o povo e lutando por um mandato cada vez mais representativo e transformador.

“Temos trabalhado com dedicação e, naturalmente, pensamos na reeleição em 2026. No entanto, quem deve avaliar esse trabalho é a própria população.”

Folha de Dourados – E as pretensões do PT de Mato Grosso do Sul nas eleições do ano que vem?

Gleice Jane – O principal objetivo do PT em Mato Grosso do Sul para as eleições do ano que vem é a reeleição do presidente Lula, garantindo a continuidade de um projeto que tem trabalhado para reconstruir e fortalecer o Brasil. Além disso, buscamos eleger o deputado Vander para o Senado, ampliar nossa representatividade na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa, consolidando uma bancada mais forte e atuante no estado.

“O principal objetivo do PT em Mato Grosso do Sul para as eleições do ano que vem é a reeleição do presidente Lula (…)”

Outro grande desafio é o combate às fake news, que têm sido utilizadas para distorcer o debate público e enfraquecer a democracia. Seguiremos firmes na defesa da verdade e na construção de um diálogo político transparente, que priorize os interesses da população e o fortalecimento das instituições democráticas.

Folha de Dourados – A base de sustentação política de Eduardo Riedel na Assembleia é bem consolidada. Como é o relacionamento de seu mandato com o Governo do Estado?

Gleice Jane – Sim, a base do governo Riedel na Assembleia é bem consolidada, e o PT faz parte dessa base. No entanto, tenho mantido uma posição de independência. Desde o início, fui contra a participação do partido no governo e, por isso, sigo fiel à minha linha de atuação autônoma. Meu compromisso é com a população e com os princípios que me trouxeram até aqui. Sempre votarei a favor de propostas que tragam benefícios reais para o povo, independentemente de quem as apresente. Por outro lado, qualquer medida que vá contra meus valores e os ideais que defendo será questionada e combatida. Para mim, a política deve ser feita com coerência e responsabilidade, e essa é a postura que seguirei mantendo ao longo do mandato.

“Desde o início, fui contra a participação do partido no governo e, por isso, sigo fiel à minha linha de atuação autônoma.”

Folha de Dourados – Algumas lideranças petistas andam se manifestando pela saída do PT do governo estadual, onde o partido comanda postos de segundo e terceiro escalões em áreas caras para a esquerda, como agricultura familiar, indígenas, quilombolas e pautas identitárias. O que pensa sobre isso?

Gleice Jane : Nunca fui favorável à participação do PT no governo estadual. Acredito que teríamos uma posição mais estratégica e coerente se estivéssemos na oposição, apresentando um contraponto claro e demonstrando as diferenças do nosso projeto para o estado.

Por isso, vejo com bons olhos essa discussão sobre a possível saída do partido do governo. Estar fora desse arranjo permitiria um debate mais sério e aprofundado com a população, fortalecendo nossa identidade política e nossa capacidade de apresentar alternativas concretas. Hoje, percebo um discurso muito unificado no estado, o que, a longo prazo, pode ser prejudicial para a democracia e para o próprio desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. Um ambiente político mais plural, com diferentes visões e propostas, aumenta as chances de construirmos soluções mais eficazes para os desafios do estado. No entanto, essa ainda é uma discussão interna dentro do PT, e seguimos acompanhando o debate para entender os próximos passos do partido nessa questão.

“(…)vejo com bons olhos essa discussão sobre a possível saída do partido do governo. Estar fora desse arranjo permitiria um debate mais sério e aprofundado com a população (…)”

Folha de Dourados – Como analisa o governo Lula e a expectativa para os próximos dois anos de gestão petista no Planalto?

Gleice Jane – O governo Lula tem feito um trabalho extraordinário na reconstrução do país. Retomou com força os projetos sociais, tem olhado com atenção para a educação, o meio ambiente e a saúde, além de priorizar políticas voltadas para a população mais pobre. A economia melhorou, o desemprego caiu e há um esforço contínuo para combater as desigualdades sociais que historicamente limitam o desenvolvimento econômico do Brasil.

“O governo Lula tem feito um trabalho extraordinário na reconstrução do país.”

O governo Lula voltou com a missão de atender às necessidades do povo brasileiro e de enfrentar os retrocessos deixados pela gestão anterior, marcada por uma política genocida e negligente. Recentemente, vimos um exemplo claro da diferença entre governar com humanidade e governar com descaso: enquanto a extrema direita nos Estados Unidos demonstrou total indiferença com a população vulnerável, aqui, temos um governo progressista que prioriza o cuidado com as pessoas.

Mesmo diante desses avanços, Lula enfrenta ataques constantes de setores extremistas ligados ao grande poder econômico, que não aceitam dividir suas riquezas e não toleram a ideia de um povo pobre exigindo respeito e dignidade. O desafio para os próximos dois anos é seguir avançando e, ao mesmo tempo, proteger a democracia, que ainda enfrenta ameaças de grupos que não aceitam um Brasil mais justo e inclusivo.

” (…) Lula enfrenta ataques constantes de setores extremistas ligados ao grande poder econômico, que não aceitam dividir suas riquezas e não toleram a ideia de um povo pobre exigindo respeito e dignidade.”

Folha de Dourados – Como vislumbra as eleições presidenciais de 2026, com a extrema direita turbinada pelo retorno de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos?

Gleice Jane –  As eleições de 2026 serão desafiadoras, especialmente diante do avanço da extrema direita e da crescente influência das mídias digitais internacionais na disseminação de fake news. Hoje, enfrentamos uma grande máquina de desinformação global que opera sem regulamentação adequada no Brasil, ao contrário das mídias nacionais, que seguem normas estabelecidas. Isso cria um ambiente perigoso, onde mentiras são propagadas livremente, manipulando a opinião pública e minando a democracia.

“As eleições de 2026 serão desafiadoras, especialmente diante do avanço da extrema direita e da crescente influência das mídias digitais internacionais na disseminação de fake news.”

O próprio Donald Trump foi eleito nos Estados Unidos impulsionado por essa máquina de desinformação da extrema direita. Agora, com sua volta ao poder, estamos vendo, na prática, o impacto desse tipo de governo no tratamento das populações mais vulneráveis. O que acontece lá nos serve de alerta. Trump tem dado um recado claro ao mundo sobre como a extrema direita enxerga e trata as pessoas, e espero que o povo brasileiro observe isso atentamente para evitar que esse cenário se repita aqui.

Além disso, desde a vitória de Trump, temos visto gestos simbólicos que remetem ao nazismo – um sinal perigoso que não pode ser ignorado. A história já nos mostrou até onde movimentos políticos com essas bases podem chegar, e não podemos permitir que esse ciclo se repita.

Acredito que as eleições de 2026 serão duras, mas também confio que o povo brasileiro não permitirá que a democracia seja colocada em risco. Seguiremos lutando e, mais uma vez, vamos vencer.

“Acredito que as eleições de 2026 serão duras, mas também confio que o povo brasileiro não permitirá que a democracia seja colocada em risco.”

Folha de Dourados – O PT admite que tem problemas na comunicação no governo federal. Com Trump, as fakes news serão potencializadas. O que fazer?

Gleice Jane – O problema das fake news não afeta apenas o governo, mas ameaça democracias em todo o mundo. A desinformação tem sido usada como uma ferramenta poderosa para manipular a opinião pública e enfraquecer instituições, e o Brasil não está imune a isso. O governo federal tem sofrido diretamente com essas consequências, como vimos recentemente no caso do PIX. No entanto, o maior prejuízo não foi apenas político, mas para toda a população, que perdeu a oportunidade de ampliar sua margem de movimentação sem controle da Receita Federal devido a uma onda de desinformação.

“O problema das fake news não afeta apenas o governo, mas ameaça democracias em todo o mundo.”

A eleição de Trump e seus movimentos políticos ao lado dos grandes monopólios das mídias sociais acendem um alerta global. Estamos vendo gestos simbólicos que remetem ao nazismo, acompanhados de uma enxurrada de fake news e um imenso poder econômico investido na comunicação para moldar a narrativa da extrema direita. O mundo precisa debater isso com seriedade.

O que Trump está fazendo com os imigrantes, aliado a sinais de apologia ao nazismo, nos leva a questionar: há uma semelhança com a ideia de “limpeza étnica” promovida por Hitler? Esse é um debate que precisa ser feito internacionalmente, pois o risco é real.

A regulamentação das mídias digitais é uma urgência global, não apenas um desafio para o governo brasileiro. Sem um controle adequado sobre a disseminação de desinformação, seguimos expostos a manipulações que colocam em risco o equilíbrio democrático. A luta contra as fake news deve ser uma prioridade de todos que defendem a verdade, a justiça e a democracia.

“Sem um controle adequado sobre a disseminação de desinformação, seguimos expostos a manipulações que colocam em risco o equilíbrio democrático.”

Folha de Dourados – No campo pessoal, a senhora enfrenta problemas de saúde desde o início do mandato. Está tudo bem?

Gleice Jane –  Assumi o mandato em um momento muito delicado da minha saúde, talvez o maior desafio pessoal que já enfrentei em toda a minha vida. Descobri que seria deputada apenas 11 dias depois de estar com o corpo paralisado em um leito hospitalar. Lembro que, durante a fisioterapia, um dos exercícios era simplesmente fazer bolinhas e risquinhos em um papel para exercitar meu raciocínio, porque a Síndrome de Guillain-Barré afeta todos os músculos, inclusive os do cérebro.

“Assumi o mandato em um momento muito delicado da minha saúde, talvez o maior desafio pessoal que já enfrentei em toda a minha vida.”

Foi um período intenso. Precisei cuidar da saúde, fazer fisioterapia, aprender sobre os processos legislativos, montar equipe, estudar, trabalhar e viajar ao mesmo tempo. No dia da minha posse, minha principal preocupação era se conseguiria ficar de pé durante os minutos necessários para tomar posse e fazer meu discurso. No dia seguinte, os desafios já estavam todos à mesa, esperando por mim. Apesar das dificuldades, esse foi também um tempo de muito aprendizado. Hoje, me sinto mais preparada para equilibrar trabalho e saúde. Preciso praticar exercícios físicos pelo resto da vida, mas não vejo isso como um fardo—pelo contrário, encaro como parte do meu compromisso comigo mesma. Então, sim, estou muito bem. Seguirei firme, cuidando da saúde e enfrentando os desafios que vierem.

“Hoje, me sinto mais preparada para equilibrar trabalho e saúde (…) Então, sim, estou muito bem.”

Folha de Dourados – Considerações finais:

Gleice Jane –  Quero agradecer pela oportunidade desta entrevista. É sempre um prazer dialogar com veículos de comunicação que têm compromisso com a cidade e com a verdade. A Folha de Dourados desempenha um papel fundamental ao promover a informação com responsabilidade e combater as fake news, e acompanho esse trabalho com muito respeito. Parabéns por essa nova fase!

Nosso mandato segue firme, trabalhando pelos ideais que nos trouxeram até aqui. Dourados tem sido prioridade em nossas ações, seja por meio de emendas, articulações ou iniciativas voltadas ao bem-estar da população. Convido você, que nos acompanhou até aqui, a seguir nosso trabalho pelas redes sociais (@gleicejanept) e a utilizar esses canais para dialogar conosco e contribuir com nossa caminhada.

Agradeço a cada pessoa que tem caminhado ao nosso lado, ajudando a construir o sonho de um Mato Grosso do Sul mais justo e desenvolvido. Muito obrigada e contem sempre comigo!

“Nosso mandato segue firme, trabalhando pelos ideais que nos trouxeram até aqui.”

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