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História: em livro, viúva e filhas reverenciam memória do empresário Odécio Cuenca

Contar uma história é abrir um baú de lembranças, repleto de nostalgia, aprendizados e superações. É visitar o passado, reencontrar pessoas, lugares, sentimentos e lições. É entrar na casa da memória pelas portas da frente. E, hoje, vamos passear pela vida de um comerciante que fez história em nossa cidade.  

Odecio Cuenca Sotero, natural da pequena Piquerobi (SP), nasceu em 1947. Filho de João Cuenca Postigo e Maria Sotero de Lima. Foi esposo, pai, avô, irmão, amigo, empreendedor e comerciante nato. “Seu Cuenca” ficou conhecido em toda Dourados e região, e é comum ouvir, até hoje, nos corredores do Supermercado Cuenca, seus clientes e amigos comentando o quanto ele foi autêntico e trabalhador.

O texto acima, faz parte de um trecho do livro “Minha História em Dourados”, publicado em abril desse ano pela Folha de Dourados em parceria com a Agência 2Mil Publicidade, com o objetivo de registrar a história de importantes personagens da vida douradense.

Leia, na sequência, texto dedicado ao comerciante conhecido como “Seu Cuenca”, relatado pela viúva Luiza José de Melo Cuenca e pelas filhas Lucimara de Melo Cuenca Durigon e Tânia Maria de Melo Cuenca Rossin.

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Seu Odecio tinha gênio forte e coração profundamente honesto. Era um homem que amava casa cheia, mesa farta, amigos por perto e sua família unida, especialmente, unida. Sempre com sua camisa branca, de manga curta (feita pela própria esposa), e visão pioneira sobre o comércio.

Conheceu sua esposa e companheira de uma vida inteira – dona Luiza José de Melo Cuenca – em Piquerobi, começando ali uma família, de maneira simples e corajosa. Tornou-se pai de quatro filhos: Lucimara, Tânia, Carlos e Odécio. Foi exigente, presente e comprometido, preocupado com o futuro de cada um deles. Exigia que as meninas estudassem e não ficassem em casa, queria independência para cada uma delas, desejava que fossem empresárias, donas de si e senhoras da própria história. Com os meninos não foi diferente, tanto Carlos quanto Odécio seguiram os caminhos do pai: são empresários e donos de dois supermercados em Nova Alvorada do Sul (que estão entre os maiores do município); além disso, são parceiros das irmãs na administração do Cuenca Supermercado em Dourados. 

Dona Luiza, 77 anos, nos conta – com absurda lucidez e clareza – que ela e o marido vieram para Mato Grosso do Sul com a cara, a coragem e duas meninas. “Nossa caçula ainda engatinhava. Não foi fácil, mas foi preciso arriscar”, comenta. A matriarca ainda relata que a ajuda do seu Miguel Cuenca foi fundamental na época: “O convite e o apoio do tio Miguel foi um divisor na nossa história”, explana. A esposa também conta que “seu Cuenca” tinha um talento natural para lidar com pessoas e negócios: “Ele sempre teve discernimento para o comércio”, elucida. “Foi no Travessão Maria Curandeira, por volta de 1971, que tivemos nosso primeiro negócio, mas tivemos que mudar para Douradina, porque a rede de energia passou em cima do nosso mercadinho”, compartilha.

Em Douradina passaram por lutas e adversidades: “Uma seca muito grande acabou com as lavouras dos nossos clientes, o que por consequência levou à falência do nosso empreendimento. Naquele momento nós fomos obrigados a buscar novos horizontes”, recorda dona Luiza. Foi então que um farmacêutico amigo ofereceu um ponto em Dourados para locação, o então “Canta Gallo”. Dona Luiza aponta que seu esposo buscou crédito com um vendedor do Paraná, Silvio Lopes (que depois se tornaria compadre do casal), o qual interveio e colaborou com a empresa do marido, fornecendo mercadorias para então dar início ao projeto. Desse modo, nascia, no dia 05/10/1978, o Cuenca Supermercado, no Jardim Flórida, arredores da Vila Popular.

“Chegamos em Dourados em 78, as meninas – ainda pequenas – ficaram em Douradina, aos cuidados dos nossos compadres José Felix de Souza e dona Irene Félix. Elas nos visitavam nos finais de semana, foi um desafio pra gente”, conta dona Luiza.

Ela ainda se lembra de que foi justamente a forma decidida e correta do seu Odecio no enfrentamento à vida e seus percalços que a encantou: “Ele tinha muitas qualidades, e, claro, como qualquer pessoa, seus defeitos – mas era muito honesto e trabalhador. Era correto nos negócios, com os combinados, não gostava de nada errado. E eu admirava muito isso”, enfatiza.

A família toda foi crescendo e amadurecendo nos corredores do supermercado, que se desenvolvia e acompanhava a cidade de Dourados. “Seu Cuenca” sempre acompanhado da sua caderneta. As filhas revelam que o sofá da casa era tomado de notinhas: “Nosso pai sempre vendeu para quem precisava, confiava nas pessoas. Atendíamos fazendeiros, lavoureiros, moradores dos bairros da região, Corpo de Bombeiro, Sindicato dos Bancários, Correios, Sindicato dos Professores… muita gente mesmo!”, afirmam. Elas ainda citam que um dos maiores orgulhos foi descobrir que o pai ajudava inúmeras pessoas: “Após o falecimento do nosso pai, descobrimos que, por trás de um homem sistemático, rigoroso, existia alguém com o coração muito bom”, partilha um dos filhos. “Ouvimos muito, após sua partida, que ele fornecia mercadorias para aqueles que não podiam pagar, principalmente, para as famílias que estavam passando por necessidade. Ele ajudava as pessoas e nunca fez isso para aparecer, e é, justamente, isso que tanto nos orgulha hoje”, declara.

Os filhos também compartilham conosco o momento triste de sua partida: “Nosso pai teve COVID 19. Internamos ele em janeiro de 2021, foram onze dias de UTI. Quando fomos buscá-lo no mercado para levá-lo ao hospital, ele desceu e subiu as escadas do nosso escritório do mercado quatro vezes. Ia e voltava pra olhar cada canto do lugar.  Hoje nós entendemos que era uma despedida”, relembram.

Apesar da dolorosa partida, seu Odecio nunca foi sinônimo de tristeza, pelo contrário, era divertido, disposto e batalhador. Acordava às 5h da manhã, tomava café com a esposa e passava o dia em função do seu estabelecimento, retornando pontualmente às 19h40 para o seu lar. Era sistemático com sua rotina, suas escolhas e projetos. Sabia fazer dos sonhos a sua realidade. Um deles – talvez o maior – foi celebrar seus 50 anos de matrimônio, com sua tão estimada companheira.

“Nossas bodas de ouro, fecharam sua passagem em nossas vidas do jeito que ele mais gostava. Foi ali que ele reuniu seus amigos de adolescência, de escola. Foi ali que se viu realizado profissionalmente, porque pôde oferecer a mesa farta, a risada solta, o seu terno com abotoaduras douradas, a música raiz, que mais amava, para todos ao seu redor”, descreve dona Luiza. “Quando casamos, as condições financeiras eram difíceis, foi nas bodas que ele realizou o sonho de ter um casamento com requinte, com os frutos de quem trabalhou arduamente todos os dias de sua vida”, confidencia dona Luiza. 

Seu Odecio Cuenca – personagem e cidadão atuante na sua comunidade, na sua cidade – deixou esposa, quatro filhos, dois genros (Dilcar e Francisco) uma nora (Danielly) e seis netos, profundamente amados: Luan, Sophia, Miguel, Daniel, Maria Valentina e seu xodó, a preciosa Luiza.

Seus quatro filhos assumiram o supermercado e as propriedades da família, fazendo questão de manter todos os funcionários. “Reinventamos e aprimoramos seu legado, sempre lembrando e agradecendo pelo pai que tivemos. Alguém que, incansavelmente, nos ensinou, por meio do exemplo, o poder do trabalho e da dedicação”, finalizam. 

Seu Odecio Cuenca continua vivo na memória e no coração de todos os clientes e amigos que passaram pelo seu supermercado. É símbolo do trabalho, da honestidade, mas, principalmente, reflexo de um homem esforçado, brasileiro, pai de família, que fez do comércio uma extensão do próprio abraço, do seu próprio coração.

História: em livro, viúva e filhas reverenciam memória do empresário Odécio Cuenca

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