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Impacto das escolas cívico-militares: perspectiva sob a óptica das constelações familiares

Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –

A Câmara Municipal de Dourados aprovou a instalação de escolas cívico-militares e gerou um intenso debate na comunidade. Embora alguns vejam essa iniciativa como uma oportunidade de promover disciplina e segurança, especialistas em Constelação Familiar alertam para os possíveis prejuízos que essa mudança pode trazer às dinâmicas familiares e sociais da região.

As Constelações Familiares, uma prática terapêutica que busca visualizar e resolver questões familiares a partir da compreensão das relações interpessoais, oferecem uma lente única para analisar a situação. Essa abordagem considera que todos os membros da família estão interconectados e que as decisões e alterações no sistema familiar, como a implantação de uma nova escola, podem provocar repercussões profundas.

Dinâmica Familiar e Autoridade Militar

Um dos princípios das Constelações Familiares é o reconhecimento das hierarquias dentro do sistema familiar. A introdução de escolas cívico-militares pode alterar essa hierarquia, colocando figuras de autoridade militar em posição de comando sobre as crianças e adolescentes. Isso pode gerar um ambiente onde a obediência é priorizada em detrimento da expressão individual, levando a um possível distanciamento emocional entre pais e filhos.

Além disso, a rigidez das normas militares pode resultar em um aumento da pressão sobre os estudantes, criando um clima de medo e insegurança. A família, que deveria ser um lugar de acolhimento e apoio, pode se tornar um ambiente de tensão, onde os jovens se sentem obrigados a atender expectativas externas, em vez de explorar as próprias identidades e talentos.

Conflitos e Repercussões Emocionais

As Constelações Familiares também ressaltam a importância de tratar as dores e os conflitos não resolvidos dentro da família. A adoção de uma abordagem cívico-militar pode ignorar as questões emocionais que os jovens enfrentam, como bullying, ansiedade e depressão. Em vez de promover um espaço para que esses sentimentos sejam expressos e trabalhados, as escolas cívico-militares podem suprimi-los, levando a um acúmulo de frustração e ressentimento que podem se manifestar de diversas formas, como problemas de comportamento, dificuldades de aprendizagem e até mesmo doenças psicossomáticas.

Perda da Individualidade e Conformidade

A Constelação Familiar nos mostra que cada indivíduo possui um lugar único dentro da família e da sociedade. A imposição de um modelo educacional padronizado e hierarquizado, como o das escolas cívico-militares, pode levar à perda da individualidade e à valorização da conformidade. Os jovens podem se sentir pressionados a se moldar a um padrão pré-estabelecido, em vez de desenvolver as próprias potencialidades.

Impacto nas Gerações Futuras

As consequências da implantação de escolas cívico-militares podem se estender por gerações. As experiências vividas na infância e na adolescência moldam a personalidade e as relações futuras. Jovens que crescem em um ambiente militarizado podem ter dificuldades em estabelecer relações saudáveis e autênticas, tanto no âmbito familiar quanto profissional.

Visão Alternativa

As Constelações Familiares nos convidam a buscar soluções que promovam o bem-estar de todos os membros da família. Em vez de militarizar a educação, seria mais adequado investir em escolas que:

Valorizem a individualidade: cada estudante é único e possui as próprias necessidades e talentos. A escola deve oferecer um ambiente que permita a cada um se desenvolver de forma autônoma e criativa;

Promovam a empatia e a cooperação: aprender a conviver com as diferenças e a trabalhar em equipe são habilidades essenciais para a vida em sociedade;

Cuidam da saúde emocional: as escolas devem oferecer suporte psicológico aos estudantes e às famílias, criando um ambiente seguro e acolhedor para todos;

Incentivem o pensamento crítico: a escola deve estimular os estudantes a questionar, a analisar e a formar as próprias opiniões.

Conclusão

A implantação de escolas cívico-militares em Dourados representa um retrocesso para a educação e para a sociedade como um todo. Ao invés de investir em um modelo que suprime a individualidade e a criatividade, é fundamental fortalecer a escola pública, oferecendo um ensino de qualidade que promova o desenvolvimento integral dos estudantes e prepare-os para os desafios do futuro.

As Constelações Familiares nos mostram que as decisões tomadas hoje podem ter um impacto profundo nas gerações futuras. Ao optar por um modelo educacional militarizado, a sociedade douradense está escolhendo um caminho que pode gerar sofrimento e limitações para os jovens. É urgente rever essa decisão e buscar alternativas que priorizem o bem-estar de todos.

(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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