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Desde 1968 - Ano 56

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Incompatibilidade das escolas cívico-militares com a visão católico-humanista: reflexão

Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –

A proposta de implementação de escolas cívico-militares em Dourados, Mato Grosso do Sul, suscita um debate que vai além das questões pedagógicas e sociopolíticas, envolvendo também uma reflexão teológica e filosófica. Ao confrontar essa proposta com a rica tradição da Igreja Católica, especialmente as contribuições de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, torna-se evidente uma incompatibilidade fundamental.

Educação como Formação Integral: Perspectiva Agostiniana

Para Santo Agostinho, a educação transcende a mera transmissão de conhecimentos; essa abrange a formação integral do ser humano nas dimensões intelectual, moral e espiritual. O objetivo educacional é guiar o indivíduo na busca pela verdade e pela plena felicidade, que só podem ser encontradas em Deus. A imposição da disciplina militarizada, que enfatiza a obediência cega e a hierarquia, contraria a visão agostiniana de um ser humano livre, capaz de buscar a verdade por si mesmo e de cultivar a relação pessoal com o divino.

Além disso, a violência inerente à ordem militar opõe-se radicalmente à proposta agostiniana de uma sociedade pacífica e justa, alicerçada no amor ao próximo. Para Agostinho, a educação deve promover tanto a paz interior quanto a exterior, fomentando virtudes como humildade, caridade e justiça.

Razão e Fé: Síntese Tomista

São Tomás de Aquino, por sua vez, desenvolveu uma síntese harmoniosa entre fé e razão, demonstrando que a razão, quando utilizada adequadamente, conduz à verdade divina. Para Tomás de Aquino, a educação deve estimular o desenvolvimento das capacidades intelectuais, permitindo ao indivíduo compreender a ordem natural e divina.

A imposição de um modelo educacional militarizado, que restringe a liberdade de pensamento e a capacidade crítica, contraria a visão tomista da educação como um processo de libertação. A fé, para Tomás de Aquino, não é oposta à razão; pelo contrário, ela a complementa e ilumina. Assim, a educação militarizada, ao priorizar a obediência cega, impede o desenvolvimento do raciocínio crítico e da capacidade de discernimento.

Inviabilidade do Modelo Militarizado

A proposta de escolas cívico-militares em Dourados reflete uma concepção equivocada de educação, que confunde disciplina com autoritarismo e conhecimento com adestramento. Essa abordagem ignora a complexidade do ser humano e a importância de um ambiente educativo que promova autonomia, criatividade e o desenvolvimento integral da personalidade.

A educação católica, fundamentada nos ensinamentos de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, apresenta a alternativa mais humana e eficaz. Ao valorizar a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a razão e a espiritualidade, essa abordagem educacional contribui para formar cidadãos conscientes, críticos e comprometidos com o bem comum.

Conclusão

A proposta de implementar escolas cívico-militares em Dourados é incompatível com a visão católica da educação. Ao reduzir o processo educativo a um mero adestramento e ao desconsiderar a importância da liberdade, da razão e da espiritualidade, esse modelo viola os princípios fundamentais da doutrina católica.

É urgente que a sociedade se mobilize em defesa do modelo educacional que respeite a dignidade humana, promova a formação integral dos estudantes e contribua à construção do futuro mais justo e humano.

(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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