Jandira Gorete é personagem obrigatória quando se fala em empreendedorismo e sucesso no meio empresarial sul-mato-grossense. Ela é a fundadora da Gorethy Moda Íntima, indústria de lingerie cuja história começou em Caarapó, no ano de 1997 e que sete anos depois iniciava um novo capítulo em Dourados.
Essa trajetória é narrada no livro “Minha História em Dourados”, publicado pela Folha de Dourados e 2mil Marketing Digital (à venda na Livraria Canto das Letras – Avenida Weimar Gonçalves Torres, 2440, centro – Dourados MS).
No livro, a empresária conta como foi essa trajetória, os desafios que enfrentou e os incentivos que recebeu em sua caminhada. Mais do que tudo, reconhece que a posição ocupada por Dourados foi um dos fatores primordiais para que ela pudesse crescer e se posicionar num mercado competitivo e inovador.
Leia a seguir, o relato publicado no livro “Minha história em Dourados”
Fio da meada: empreendedorismo
Minha história com o empreendedorismo começa com minha decisão de mudar minha realidade e meu futuro. É impressionante o que uma pessoa determinada a mudar é capaz de fazer. O fato de eu não ter uma profissão, estudo, qualificação me incomodava muito. E, nas tentativas de buscar emprego, as respostas eram sempre negativas, pois eu ainda não tinha trabalhado fora de casa. Mas nunca tive preguiça de trabalhar. Se o comércio e outros setores não me queriam, eu ia fazendo diárias em casas de família e ia me movimentando. Em determinado dia, tomei uma séria decisão: precisava mudar o rumo da minha vida. Eu necessitaria de muita coragem e força para erguer a cabeça e não retroceder, pois sabia que a única pessoa capaz de mudar minha vida seria eu mesma.
Posso afirmar que, além de descobrir meus pontos fortes, pude entender o quanto Deus pode fazer por meio de nós, apesar de nossas fraquezas. Escolhi agir com coragem e, apesar de toda circunstância, o resultado foi maravilhoso.
Após essa decisão, fiz um curso supletivo em seis meses; na sequência, Magistério, e, em mais quatro anos, faculdade de Letras no então Centro Universitário de Dourados (CEUD). Assim, saí de uma condição de alguém com quase nada de estudo para uma pessoa com ensino superior completo… quanto amadurecimento vivi nesses anos! Essa opção me levou a outra: eu precisava de uma fonte de renda para bancar os custos educacionais, e assim pensei: “O que fazer?”. Como eu estudava com muitas meninas, decidi vender lingeries. Fui até a uma fábrica em Caarapó, cidade onde morava, e acertei com a proprietária a condição de revendedora, mediante uma comissão de vinte e cinco por cento. As vendas foram um sucesso – com a comissão recebida, eu pagava os custos com apostilas, alimentação e ônibus e ainda poupava uma parte para o meu futuro.
Gostei tanto de efetuar vendas que decidi ampliar minha cartela de clientes. Eu saia de Caarapó, no primeiro ônibus, às 5h30, que trazia estudantes para Dourados, e ia vender. Aonde tivesse mulher, lá estava eu oferecendo os produtos. Vendia em postos de saúde, cooperativas, no serviço das amigas da faculdade e também de porta em porta. Com isso conquistei muitos clientes em Dourados e meus sonhos e projetos iam tomando forma.
O cansaço era grande! Essa rotina de sair às 5h30 e retornar para casa, por volta da meia noite, após as aulas, aconteciam de duas a três vezes na semana. Mas eu consegui me organizar, fazendo minhas vendas, estudando, cuidando da casa e da família. Quero ressaltar aqui minha gratidão aos meus sogros que, na época, cuidavam das minhas filhas para que eu pudesse ir ao encontro dos meus objetivos.
Quase na metade do curso de Letras, tive a certeza de que não tinha vocação para o Magistério. Porém, sabia da importância e da necessidade de uma formação superior. Por isso não desisti e concluí meu curso no final de 1996. Ainda na faculdade, pude ver que havia um mercado para roupas íntimas, pois as pessoas me pediam opções que eu não tinha para oferecer, e, no meu coração, nasceu o desejo de ter minha própria fábrica. Com a conclusão do curso, dei início ao meu novo projeto e desafio: a Gorethy Moda Íntima. Com minhas economias comprei duas máquinas de costura usadas, uma overloque semi-industrial e uma máquina caseira com pedal. Contratei, no início, duas pessoas que já trabalhavam com confecção, decisão que me ajudou no começo dessa jornada. Eu fazia a modelagem, cortava e vendia as peças, pois vender era meu talento.
No início de 1997 abri a minha confecção em Caarapó, num pequenino salão de bairro, sem ter conhecimento e habilidades necessárias. Sabia, contudo, que, para um negócio dar certo, seria preciso buscar conhecimentos. Fui então atrás das informações necessárias. Conheci o Sebrae e o Senai, que ajudaram muito na minha trajetória. Onde soubesse de um curso, lá estava eu.
Vi minha empresa prosperar, minhas vendas aumentarem, e, em 1998, mudei-me para um salão maior, já no centro da cidade. Movimentar-me era minha estratégia: participava de feiras, exposições, de tudo, a fim de divulgar meu produto e empresa. Novos clientes iam aparecendo e, com isso, ganhos e aprendizagens também… lembro-me de um cliente que apareceu como um presente, comprava uma quantidade expressiva, me dando ótimos lucros. As compras eram pagas por meio de cheques pré-datados; e um certo dia os cheques pararam de ser compensados pelo banco… só não quebrei naquele momento porque não tinha dívidas, eu comprava sempre à vista.
Por trás de uma tempestade tem sempre uma oportunidade. Uma amiga que morava em Dourados me convidou para sermos sócias em uma loja: minha primeira loja em Dourados. O empreendimento ia muito bem. Contudo, depois de seis meses, minha amiga e sócia me trouxe a notícia de que seu marido, bancário, tinha sido transferido para o estado do Mato Grosso e que a parte dela precisaria ser vendida para mim. Mas eu não tinha dinheiro para comprar. Daí a gente faz o quê? Negociamos. Paguei uma parte em mercadorias para ela vender lá na sua nova cidade, e o restante fui pagando, de modo parcelado, aos poucos. A escolha por empreender deve estar associada a um propósito bem maior, pois os desafios são muitos e intensos.
Mudança para Dourados
Com a loja em Dourados e as vendas indo muito bem, veio outro grande desafio na minha vida: meu casamento de dezoito anos, que nunca fora bom, chegou ao fim. Com a separação, meu ex-marido ficou com a casa e eu fiquei com a minha pequena fábrica e um carro usado, bem velho. Naquele momento, eu me mudei para Dourados com minhas filhas. Aluguei um apartamento aqui, mas continuei com a fábrica em Caarapó, pegando a estrada diariamente. Esse trajeto durou quatro anos, até eu conseguir organizar uma vinda definitiva.
Com minha mudança para Dourados, ajudei a fundar o Sindicato das Empresas do Vestuário Industrial da Região Sul de Mato Grosso do Sul (o Sinvesul), o que fortaleceria nosso setor e nos ajudaria a buscar apoio na Secretaria de Indústria e Comércio do município, no Sebrae e no Senai.
O que poderia ter sido o fim do meu negócio, na verdade, foi a superação de um obstáculo e o início de uma avenida de oportunidades. Agora, a mudança da fábrica para Dourados se iniciava e com ela novos desafios: aqui não havia mão de obra e nem a cultura de confecção; além disso, de certa forma, estava eu começando tudo de novo.
Em abril de 2004, após os quatro anos fazendo o percurso Dourados-Caarapó, Caarapó-Dourados, diariamente, acontecia a inauguração da fábrica da Gorethy na cidade de Dourados. Para que essa mudança pudesse acontecer, contei, naquele momento, com o apoio da prefeitura da cidade, que, além de me encorajar, me deu grande suporte para que isso ocorresse. Nesse recomeço bastante difícil, contei também com o Senai para a capacitação de costureiras; conforme novas pessoas vinham trabalhar com a Gorethy, íamos capacitando, treinando, e dia após dia era uma vitória diferente.
Em 2011 inicia-se nossa produção de roupas fitness, que veio a somar-se ao nosso portfólio de produtos, sempre mantendo o compromisso com a qualidade e beleza nas peças, utilizando matérias primas dos melhores fornecedores do país. Na verdade, em todos os nossos produtos temos o compromisso de encantar os olhos dos clientes com beleza e conforto, sobretudo, oferecendo uma peça confiável, que fazemos questão de entregar, com respeito e responsabilidade, a cada um que escolhe nossa marca. Não vendemos lingerie ou fitness, vendemos autoestima. Entregamos um produto maravilhoso para as pessoas se sentirem bem, confiantes e felizes.
Atualmente, nossa marca está presente em todo o Mato Grosso do Sul, com lojas em Dourados, Campo Grande, Naviraí e Ponta Porã. Temos também uma representante em Sinop (Mato Grosso), além de uma loja virtual, também com bons resultados.
Mulher Empreendedora
Em 2005 ganhei o “Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora”, o que representou o reconhecimento do meu trabalho e a valorização da minha história de lutas. Nem preciso dizer que isso me fez transbordar de alegria por ver uma recompensa por tudo o que tinha passado até então.
O prêmio do Sebrae incluía uma viagem para a Suíça durante dez dias. Foi um sonho, porque, aliado ao passeio turístico, participei de um congresso mundial de empreendedorismo, realizado numa parceria entre o Sebrae e a Associação de Mulheres de Negócios (BPW), com a presença de mais de setenta países. Levei minhas peças, participei de exposições e troquei experiências. Essa premiação ajudou-me a divulgar melhor os negócios da Gorethy, levando nossa marca a ultrapassar as fronteiras de Dourados, a virar moda no estado e a atrair consumidores até fora do país.
O reconhecimento que veio do Sebrae me faz refletir e agradecer às pessoas que estiveram ao meu lado, ajudando-me com as responsabilidades da empresa, contribuindo para o desenvolvimento da Gorethy, e a tantas outras que confiam em nossos produtos e fazem com eles uma renda extra para suas famílias, trabalhando e construindo conosco nosso sucesso.
A pandemia e as vendas
A pandemia da Covid-19 foi um acontecimento muito ruim e marcante para toda a humanidade e exigiu de muitas empresas um reposicionamento no mercado. Quem soube enxugar os custos e se adequar à nova realidade, saiu-se até melhor do que no começo daquela tragédia. Por causa da pandemia tivemos que reorganizar o quadro de colaboradores e também enxugar custos e despesas. Essa decisão foi muito importante para manter a empresa aberta. Tínhamos uma equipe grande e fomos obrigados a reduzir o quadro de colaboradores. Foi um choque, pois não sabíamos até quando ia durar aquela situação. Porém, como sempre, não desistimos. Felizmente, a pandemia passou e conseguimos contratar novas pessoas para seguirmos nossos projetos. Foi uma superação e um aprendizado significativo.
O potencial de Dourados
Dourados é uma cidade que atende a toda região sul de Mato Grosso do Sul. Seu potencial econômico e seu constante desenvolvimento são razões que atraem cada vez mais investimentos e novos moradores. A cidade dá acesso à região Sul e Sudeste do país, sendo referência; é também a segunda maior cidade do estado. Sempre foi uma cidade que deu suporte à minha vida, aqui eu trabalhei, estudei, fiz amigos, me formei e foi o lugar do reconhecimento do meu trabalho. Aqui colhi muitos bons frutos.
Quando a Gorethy lingerie se mudou para cá, as máquinas e tecidos e tudo o que a fábrica possuía coube numa Ford F-4000. Hoje, nossa fábrica possui prédio próprio, com dois mil metros quadrados, onde confeccionamos uma completa linha de lingerie e fitness. Trabalhamos com aproximadamente cento e doze colaboradores diretos e com centenas de revendedoras, que ajudam a levar nossos produtos para todos os estados do Brasil.
Por isso, sou muito grata por tudo o vivido nesta cidade, que me acolheu, me apoiou e onde pude colher os frutos do meu trabalho e esforço. Dourados foi um lugar que Deus preparou para mim, aqui tenho vivenciado muitos ganhos e aprendizados. Tenho a certeza de que crescerei ainda mais junto com esta próspera cidade, que tanto potencial tem a oferecer.