José Henrique Marques e Juliel Batista –
Atualmente exercendo mandato de deputada estadual, a jornalista diplomada Lia Nogueira (PSDB) concedeu entrevista exclusiva à Folha de Dourados, onde fez um balanço de seu primeiro mandato como parlamentar estadual, falou do futuro na vida pública e analisou a política douradense.
Lia Nogueira tem 50 anos e conquistou seu primeiro mandato em 2020, quando teve 1.880 votos para vereadora. Corajosa, polêmica e determinada, no período em que esteve na Câmara Municipal de Dourados travou grandes embates com muitos de seus pares, fazendo oposição ao então prefeito Alan Guedes (PP). É presidente estadual do PSDB Mulher e vice-presidente do Diretório Municipal do PSDB.
“(…) [um dos] ponto[s] negativo[s] da gestão passada foi o autoritarismo com que conduziu o mandato, além da falta de construção com lideranças locais, estaduais e federais”
Hoje é um dos nomes proeminentes da política estadual, e embora esteja filiada a um partido de centro, tem viés especial àqueles marginalizados pela sociedade. Lia acredita ter “puxado” esse lado de sua mãe, a qual, segundo ela, “tinha um olhar humanizado, pensava mais nos outros do que nela mesma.” A deputada reconhece que essa característica de sempre querer buscar “transformações sociais”, teve e continua sendo relevante para as conquistas dela.
Conhecida como “Bichão do MS”, Lia Nogueira disse que não se sente mais uma iniciante na Assembleia Legislativa e que no palco político em está inserida é bem melhor do que aquele que viveu enquanto vereadora de Dourados. “Em um ambiente dominado por homens, sinto-me acolhida, respeitada e valorizada. Ao contrário da violência política que sofri na Câmara Municipal de Dourados, na legislatura passada (…)”.
Ao ser questionada sobre as eleições de 2026 e seu futuro político, Lia pontua que “se for salutar para o partido que eu me candidate (a deputada federal) será uma honra”, e que as decisões sobre a política devem sempre ser tomadas de forma coletiva, inclusive, para que Dourados consiga ter nomes competitivos para a Câmara e Senado Federal, e até para o Governo de Mato Grosso do Sul.
Sobre as duas lideranças que a alçaram no cenário político estadual ela disse: “Reinaldo Azambuja (ex-governador e presidente regional do PSDB) sempre será alguém a quem devo respeito, gratidão e lealdade. Já o deputado Zé Teixeira, além de amigo da minha família, é um padrinho político para mim”.
Confira a entrevista na íntegra:
Folha de Dourados – Deputada, seu nome surgiu na política douradense e do Estado de forma “meteórica”. Depois da suplência em 2016, passando pela primeira vitória em 2020, quando se elegeu vereadora em Dourados com 1.880 votos, até a eleição para deputada estadual, com 15.155 votos, o nome Lia Nogueira passou a figurar entre as referências na política estadual. Quais fatores a levaram a esse protagonismo?
Lia Nogueira – Sempre acreditei em mim, até mesmo quando ninguém acreditava! Eu acreditei sozinha e coloquei Deus à frente de tudo. Nasci em uma família muito humilde, onde as oportunidades não chegam até nós; precisamos lutar por elas. Minha mãe (Elza Pedroso) foi uma mulher incrível, uma guerreira que enfrentou grandes batalhas e venceu muitas delas, criando-me para ser tão forte quanto ela. Acredito que o que me faz ir cada vez mais longe na política é esse legado deixado por ela. Minha mãe tinha um olhar humanizado, pensava mais nos outros do que nela mesma. Ela atuou muito tempo nos movimentos sociais, já desenvolvia políticas públicas sem se envolver diretamente com a política, e eu herdei isso dela. Costumo dizer que a política só faz sentido quando serve como ferramenta de transformação social. É isso que fiz como vereadora e procuro fazer agora como deputada.
“[minha mãe] atuou muito tempo nos movimentos sociais, já desenvolvia políticas públicas sem se envolver diretamente com a política, e eu herdei isso dela”
Folha de Dourados – A senhora já está há dois anos investida no cargo de deputada estadual e é jornalista experiente. Como tem sido essa experiência de frequentar a cúpula do poder de Mato Grosso do Sul?
Lia Nogueira: Tenho aprendido muito sobre política. Convivo com homens e mulheres experientes no meio. Mesmo sendo o meu primeiro mandato como deputada estadual, não me sinto mais uma estreante. Hoje, já me sinto à vontade e com uma certa bagagem para sentar à mesma mesa que eles e debater temas que vão impactar a vida de milhares de pessoas no nosso Estado.
Folha de Dourados – Quais bandeiras tem levantado e priorizado durante o mandato de deputada estadual?
Lia Nogueira – A bandeira dos meus mandatos será sempre a mesma: olhar para os mais vulneráveis e procurar fazer por eles tudo o que estiver ao meu alcance, seja no Legislativo ou, quem sabe, um dia no Executivo. Tenho como marca registrada deste mandato a defesa dos direitos das mulheres, o que inclui ações de combate à violência e incentivo ao empoderamento feminino. Além disso, luto em defesa das famílias atípicas, pois, como mãe de um autista, sinto na pele as dificuldades que vivenciamos no dia a dia.
“Tenho como marca (…) a defesa dos direitos das mulheres, o que inclui ações de combate à violência e incentivo ao empoderamento feminino”
Folha de Dourados – Como é seu relacionamento com os demais deputados? O que aprendeu?
Lia Nogueira: Uma das coisas que me deixa muito feliz e à vontade é o meu relacionamento com os colegas de parlamento. Tenho uma relação de carinho e respeito com todos. Mesmo sendo de um partido de centro, dialogo muito bem com os representantes da direita e da esquerda. Trava-se alguns debates em temas polêmicos e, muitas vezes, divergimos, mas sempre prevalece o respeito! O parlamento é essa pluralidade de linhas de pensamento e posicionamentos. A relação entre todos nós é de muito respeito e cordialidade. Sinto-me muito à vontade ocupando uma das 24 cadeiras da ALEMS e convivendo com os mais experientes e com os novatos, assim como eu.
“A relação entre todos nós é de muito respeito e cordialidade. Sinto-me muito à vontade ocupando uma das 24 cadeiras da ALEMS”
Folha de Dourados – Quais critérios utiliza para destinar as emendas parlamentares aos municípios?
Lia Nogueira – Priorizo minha cidade, Dourados, onde nasci, onde comecei na política e onde, na eleição para deputada, tive quase 13 mil votos. É como se eu tivesse uma dívida com a minha cidade, com as pessoas que confiaram em mim, e preciso honrar essa confiança. Contudo, também tenho um olhar de cuidado com os demais municípios que compõem a Grande Dourados, o Conesul e com a capital de Mato Grosso do Sul, onde morei e trabalhei por um bom tempo no jornalismo e onde me sinto em casa. Nada passa despercebido aos meus olhos. Presto atenção em todas as demandas das cidades do Estado, mas muitas delas já recebem emendas de outros colegas deputados que atendem suas respectivas regiões. Por isso, procuro identificar onde ainda não chegaram emendas parlamentares para que mais cidades e regiões sejam beneficiadas.
“Priorizo minha cidade, Dourados (…).Contudo, também tenho um olhar de cuidado com os demais municípios que compõem a Grande Dourados, o Conesul e com a capital”
Folha de Dourados – Dos 24 mandatários com assento na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul há apenas três mulheres: a senhora, Mara Caseiro (PSDB) e Gleice Jane (PT). Como é a convivência em uma casa dominada por homens? Cá, entre nós, há machismo?
Lia Nogueira: A convivência é tranquila. Eu, a Mara e a Gleice somos muito parceiras; não existe rivalidade entre nós. Em um ambiente dominado por homens, sinto-me acolhida, respeitada e valorizada. Ao contrário da violência política que sofri na Câmara Municipal de Dourados, na legislatura passada, pelo fato de ser uma mulher polêmica e por fazer parte do seleto grupo de oposição ao então prefeito Alan Guedes (PP), na Assembleia Legislativa fui recebida com dignidade e respeito por todos.
“Ao contrário da violência política que sofri na Câmara Municipal de Dourados, na legislatura passada (…) na Assembleia Legislativa fui recebida com dignidade e respeito por todos”
Folha de Dourados – Quanto a Eduardo Riedel, como avalia os dois primeiros anos de seu governo?
Lia Nogueira – Assim como foi Reinaldo Azambuja, o governador Eduardo Riedel tem sido muito bem avaliado, pois traz em seu DNA a gestão pública eficiente e focada em resultados por meio de um governo municipalista. Nosso partido, o PSDB, tem essa característica de aliar gestão técnica a um olhar humanizado. Como o governador sempre diz: “Governar para todos, sem deixar ninguém para trás.” Penso que esses dois anos foram de muitos avanços para o nosso Estado, e ainda temos muito a realizar. Não tenho dúvidas de que Riedel será um dos maiores gestores da história de Mato Grosso do Sul.
“esses dois anos foram de muitos avanços para o nosso Estado. Não tenho dúvidas de que Riedel será um dos maiores gestores da história”
Folha de Dourados – A senhora foi a principal crítica do ex-prefeito Alan Guedes (PP), cujo desgaste político nos primeiros dois anos da administração é atribuído à sua performance na Câmara Municipal. Mas a vitória avassaladora do candidato de seu partido, Marçal Filho, a surpreendeu?
Lia Nogueira: Me surpreenderia se Marçal Filho não fosse eleito. A gestão passada foi muito ruim, uma das piores que já tivemos em Dourados. Nossa cidade tem um potencial gigantesco, é referência para mais de 30 municípios da região, possui uma arrecadação anual que se aproxima de R$ 2 bilhões, mas continuamos com problemas primários, como se estivéssemos nos arrastando. E por que isso? Falta de gestão, falta de seriedade no trato da coisa pública, falta de alguém que realmente olhe por Dourados, que faça pela coletividade e não somente em benefício próprio e de seus aliados.
“Me surpreenderia se Marçal Filho não fosse eleito. A gestão passada foi muito ruim, uma das piores que já tivemos em Dourados”
Folha de Dourados – Na sua avaliação, qual foi o erro capital que impediu o ex-prefeito de se reeleger?
Lia Nogueira – Ao meu ver, foi uma série de erros. Não soube administrar, não soube compor uma equipe técnica, não soube dialogar com categorias como Saúde e Educação e não foi presente ou participativo. Prefeitos que se mantêm em seus gabinetes, sem ouvir as demandas da população e buscar soluções conjuntas, estão fadados ao fracasso. Outro ponto negativo da gestão passada foi o autoritarismo com que conduziu o mandato, além da falta de construção com lideranças locais, estaduais e federais. Ninguém administra nada sozinho!
“Não soube administrar, não soube compor uma equipe técnica, não soube dialogar com categorias como Saúde e Educação e não foi presente ou participativo.”
Folha de Dourados – O que espera da administração de Marçal Filho e como pretende ajudá-lo?
Lia Nogueira – Espero dele o que espero de qualquer gestor: que seja excelente, priorizando as necessidades reais da população, especialmente nas áreas de Saúde e Educação. Saúde é uma necessidade contínua, pois lida com vidas que precisam ser preservadas. Já a Educação transforma realidades difíceis; é uma mola propulsora. Já venho ajudando, com muitas emendas destinadas a Dourados, que fazem toda a diferença na vida das pessoas, especialmente as mais vulneráveis. Sou a deputada estadual que mais destinou emendas para Dourados nesses dois anos, e vou continuar. As nossas emendas atendem hospitais, unidades básicas de saúde, escolas, entidades e associações. Vou continuar trabalhando por Dourados e pelo nosso povo!
“Espero dele (marçal) o que espero de qualquer gestor (…) priorizando as necessidades reais da população, especialmente nas áreas de Saúde e Educação”
Folha de Dourados – O que falta para Dourados eleger, pela primeira vez, um senador ou um governador, já que é polo de uma região com quase 1 milhão de habitantes?
Lia Nogueira – Acredito que falta união da classe política. É preciso pensar em um projeto de protagonismo político para Dourados de forma coletiva, e não em projetos individuais ou pessoais. Temos todas as condições de eleger um senador e, por que não, um governador? Mas, para isso, precisamos de construção, diálogo e deixar as diferenças e a soberba de lado!
“Acredito que falta união da classe política. É preciso pensar em um projeto de protagonismo político para Dourados de forma coletiva (…)”
Folha de Dourados – A senhora pertence a um partido hegemônico em MS, que elegeu, nas eleições de 2024, 44 dos 77 prefeitos. Durante a campanha, como trabalhou para ampliar sua base eleitoral, visando um novo mandato na Assembleia Legislativa?
Lia Nogueira – Trabalhei muito. Fiz campanha para prefeitos e vereadores em mais de 20 cidades e tive a honra de ver eleitos 12 prefeitos e dezenas de vereadores que abracei. Gostaria de ter abraçado mais candidatos, mas não foi possível. Fiz o que estava ao meu alcance e saio do processo eleitoral de 2024 com a certeza do dever cumprido.
“Fiz o que estava ao meu alcance e saio do processo eleitoral de 2024 com a certeza do dever cumprido.”
Folha de Dourados – Como está numa crescente político-eleitoral, existe a hipótese de se candidatar a deputada federal já nas eleições do ano que vem?
Lia Nogueira – Existe essa hipótese, entre outras, mas não tomo decisões sozinha. Política se faz em grupo. Se for salutar para o partido que eu me candidate, será uma honra. Caso contrário, ajudarei outros nomes aliados.
“Existe essa hipótese, entre outras, mas não tomo decisões sozinha. Política se faz em grupo”
Folha de Dourados – No estado, o ex-governador Reinaldo Azambuja e o deputado estadual Zé Teixeira, ambos tucanos, foram os principais entusiastas da sua eleição como deputada estadual. O relacionamento com ambos continua bom?
Lia Nogueira – Reinaldo Azambuja sempre será alguém a quem devo respeito, gratidão e lealdade. Já o deputado Zé Teixeira, além de amigo da minha família, é um padrinho político para mim.
“Reinaldo Azambuja sempre será alguém a quem devo respeito, gratidão e lealdade. Já Zé Teixeira, além de amigo da minha família, é um padrinho político para mim
Folha de Dourados – Suas considerações finais…
Lia Nogueira – Estamos numa transição municipal de governo em Dourados, e estou ansiosa para ver nossa cidade se desenvolvendo e melhorando a qualidade de vida do nosso povo. Quero estar junto nesse processo, como sempre estive. Meu mandato é de cada um que soma forças para construir um Estado melhor. Trabalharemos sem descanso pelo desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, priorizando Dourados e região.