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Myla Meneses: ‘O Brasil é uma Mulher Negra cheia de Axé!’

(*) Myla Meneses –

25 de JULHO – Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha

O Brasil é uma Mulher Negra cheia de Axé!

O Brasil está, segundo a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 7º lugar na lista de países com mais empreendedores do mundo. Deste número, 51% são empreendedoras mulheres e 47% delas são mulheres pretas. É sempre a mesma história de que eu não me encaixava no perfil. “Na teoria ninguém é racista, mas na prática é diferente”

Se por um lado podemos testemunhar o crescimento de empresas fundadas por mulheres no Brasil, por outro também podemos perceber que ainda existe um abismo que se estende entre mulheres negras empreendedoras e as brancas, por conta da desigualdade, preconceito ou acesso à investimentos, empréstimos ou estudos, por exemplo. O racismo estrutural também constrói muros no empreendedorismo feminino e nos mostra que ainda há um longo caminho. As pesquisas afirmam que as mulheres negras estão à frente da maior parte dos negócios gerenciados por pessoas pretas.

Estamos nos referindo à nossa herança ancestral africana, onde, em muitas culturas, as mulheres africanas eram responsáveis por grande parte do comércio, a fim de sustentar as suas famílias. Mesmo que, o termo afroempreendedorismo ou empreededorismo feminino negro sejam termos recentes no nosso vocabulário, esta atividade já vem sendo exercidas pelas mulheres africanas desde o e herdado às mulheres brasileiras.

“O Diário de Notícias do Rio de Janeiro, em sua edição do dia 10 de janeiro 1851, comenta a importância de Sabina para os alunos de medicina: Para os médicos formados na faculdade desta corte, nestes últimos vinte e tantos anos, a Sabina era uma verdadeira celebridade. Todos os dias postava-se à porta da escola com um tabuleiro de frutas, algumas facas, e uns banquinhos. ”

A personagem central dessa notícia, sem dúvida nenhuma, uma quitandeira, que apenas vendia suas laranjas para os tais estudantes de medicina. As quitandeiras eram uma classe de comerciantes composta majoritariamente por mulheres negras, escravas ou livres, que vendiam uma variedade de produtos alimentícios como, frutas, legumes, peixe seco ou fresco, angu e outras comidas preparadas. Eram as principais fornecedoras de alimentos da cidade e de suma importância para o negócio de escravos, pois abasteciam os navios negreiros para a travessia atlântica. Nas praias e portos guarneciam os milhares de negros que aqui chegavam, e também o restante da população que era atendido pelas quitandas, tendas, tabuleiros e cestas das negras africanas em outros espaços da cidade.

O comércio de rua praticado pelas “negras ganhadeiras” era extremamente lucrativo, pois figurava em um ambiente no qual apenas elas podiam cumprir certas funções, úteis para os escravos e trabalhadores livres, para seus senhores (que se apropriavam do lucro das vendas) e para o Estado (que arrecadava impostos e resolvia o problema do abastecimento básico). Embora seja um objeto social que sofre a opressão patriarcalista, a mulher também é agente de resistência, seja por meio da luta ou da subversão.

 Trabalhavam   como   quitandeiras, lavadeiras, costureiras ou taverneiras, e tinham orgulho de sua autonomia financeira. A maioria delas eram libertas, pois tinham conseguido sua própria carta de alforria com o suor de seu próprio trabalho. Porém após a abolição, as dificuldades mudaram, se inserir na sociedade, num contexto de racismo e embranquecimento era complicado para qualquer pessoa negra, mas principalmente para a mulher preta, pois além do preconceito de cor, ainda enfrentam o forte sexismo, que atravessa a nossa sociedade até os dias atuais.

Entendemos, que infelizmente ainda permanece, a manutenção da ideia de que a mulher negra   é   a   serviçal, a   que   desempenha   as   funções   do   lar   e   a   que   recebe   a   menor remuneração. Dentro dos cargos de chefia, ela não figura com frequência. Uma questão pertencente ao âmbito raça-classe, sendo o gênero apenas um realce dessa marginalização.

Hoje é urgente que o olhar seja de algo sistêmico de antirracismo nas políticas públicas, que permeiam mais da metade da população brasileira, que é a população negra num projeto de desenvolvimento para o Brasil. Dar voz às mulheres negras inseridas nas organizações, garantindo o seu protagonismo para analisar e avaliar o impacto do racismo na sua vida profissional e social.

(*) Mestrado em História pela UFGD, especialista Educação e ensino em EAD pela UCDB, Educação Especial e Educação em Direitos Humanos e Educação para Relações Étnico-raciais e Sociais e Licenciatura em História pela Uni-FAA-RJ. Consultoria, Pesquisa em Educação étnico-racial, Feminismo Negro, História-Identidade-Memória, Lei 10.639/03. Professora do Ensino Básico, Técnica Educacional na Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul – pasta da Educação para Relações Étnico-raciais. Membro da CADARA (Comissão Nacional de Educação para Relações Étnico-raciais) e CONEEQ (Comissão Nacional da Educação Quilombola) do MEC. Membro da Diretoria do Grupo TEZ e militante ativa do Movimento Negro Feminista Negro e Movimento Quilombola de MS, Presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro -MS (CEDINE-MS).

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