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Outro país conhece seu Guaidó sem disponibilizar-lhe algum amparo similar

07/10/2019 07h54 – Por: Folha de Dourados

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Por Victor Teixeira, colaborador

Maurice Kamto, autoproclamado vencedor das eleições presidenciais do ano passado em Camarões, começou a responder judicialmente na companhia de outros membros do partido que dirige. Imprevistos com a saúde de um destes apenas deslocaram cronologicamente para um não distante futuro o desfecho da batalha do grupo contra a longeva administração do presidente Paul Biya. Aos olhos dos camaroneses e da comunidade internacional, interessada pelas tensões políticas e sociais a nível bélico que os afligem, se travará um embate entre os limites desejados por cada um dos lados às garantias jurídicas de ordem pública e os avanços na justiça social.

Alçado ao posto de chefe de Estado em 1982, Paul Biya, do partido Movimento Democrático do Povo Camaronês (RDPC), conquistou pela sétima vez a simpatia da maior parte do povo nas eleições presidenciais do último 7 de outubro. É, ao menos, no que ele acredita e quer que creiam os cidadãos sob seu jugo e os observadores internacionais conforme o que teria ordenado ao Conselho Constitucional e ao pessoal que coletou para este o saldo da eleição. Abunda o suporte à ideia de que o mandatário obtivera por meios desleais de concorrência os mais de 71% de votos que comprimiram seus adversários Maurice Kamto, do Movimento pelo Renascimento de Camarões (MRC), Joshua Osih, da Frente Social-democrata {SDF) e Cabral Libii, do PCRN (Partido para a Reconciliação Nacional de Camarões) em um espaço que puderam preencher com apenas 14,23%, 3,36% e 6,28% respectivamente.

Atiçado pelo que vê como negação de que era o preferido dos camaroneses, Kamto logo se autoproclamou novo detentor da cadeira presidencial, ainda ocupada pelo líder de sempre. Em razão dos protestos contra tal desaforo chegará no próximo dia 8 a vez de um grupo de militantes do MRC integrado por seu presidente derrotado na busca pela extensão de seu poder rumo ao aparato estatal ir a júri acusado de “hostilidade à pátria”, “rebelião” e “perturbaçào do trânsito de pessoas e bens. Sem sucesso por causa da inesperada sobreposição das necessidades de cuidados médicos para Christian Penda Ekoka, conselheiro de Kamto durante a campanha, sobre o cronograma inicial, o tribunal militar de Yaoundé, a capital nacional, tentara iniciar o trabalho no dia 6 do recém-concluído mês.

Na tentativa de insurreição esse setor oposicionista vislumbrou uma chance de propelir uma mudança no gozo do poder pelas costas de um sistema legal eleitoral sem qualquer meio para apelo contra ambíguos encerramentos de corridas por tal direito.Uma vez que não ocupara um assento no Senado para poder aspirar à sua presidência, da qual poderia ascender à chefia da República em caso de vacância, e isso só é possível, segundo a Constituição camaronesa, com Biya desocupando plenamente o posto, Kamto carece de auxílios para fugir ao que houver de abusivo nas acusações contra ele e seus partidários e emergir ante a comunidade internacional como notória alternativa para tirar seu país das crises em que está. Com sua liderança da Assembleia Nacional e os ditames da constituição da Venezuela permitindo o acesso de quem ocupa esta cadeira à presidência em caso de vácuo, Juán Guaidó atrai a maior parte da oposição interna e poderes estrangeiros para enfrentar investidas de Nicolás Maduro contra os direitos de cada cidadão à busca por suas respectivas necessidades imediatas e futuras sem ter de esperar o tirano apodrecer e cair, embora a maioria de seus apoiantes no Legislativo contrariara a Lei das Leis assumindo o protagonismo cabível ao Poder Executivo em certas decisões para privar de recursos o chavismo até o final de sua capacidade de sustentar-se e reorganizar o que o regime degradou na ordem política, econômica e social.

O potencial lesivo à ordem coletiva da resposta convocada por Kamto após Biya abortar mais um momento oportuno à alternância na chefia estatal não deverá ser admitido em uma envergadura capaz de amortecer a significância das justificativas para a conjuração. O que se prorroga é uma era de desprezo das autoridades camaronesas pelos que desejam que os recursos financeiros em sua maior parte captados de todos os cidadãos lhes retornem na forma de eficiente resolução de suas demandas econômicas, culturais, educacionais, de bem-estar e segurança. E em algumas zonas interioranas do país os padecimentos da coletividade são ampliados há três anos por retaliações bélicas partidas de grupos de influência, às quais a reação central inflige antagônicos graus de efetivo controle.

Com suas populações profundamente ligadas à lingua inglesa (um dos idiomas estrangeiros oficiais de Camarões, além do francês, por conta de sua pretérita partição colonial entre a França e o Reino Unido), o Noroeste e Sudoeste são o objeto de cobiça de combatentes secessionistas movidos pela consternação geral advinda da recusa do poder central em admitir que esta fração demográfica utilize o primeiro idioma ao recorrer aos serviços públicos. Ao destruir casas, hospitais, escolas e locais de trabalho de que o povo usufrui, sequestrar estudantes em alguns colégios e lideranças religiosas, matar milhares de civis e agentes das forças estatais de segurança em seus confrontos com estes e, no dia das eleições, matar dois cidadãos por terem registrado suas escolhas nas urnas, os pretendentes a futuros mandatários soberanos da área fizeram vazar involuntariamente ao público o grau de diferenciação a se erguer sobre o modo como o governo nacional distingue os méritos de seus interesses privados e dos clamores comuns para amparo estatal e a figura que a situação pode adquirir num eventual futuro controle total dos territórios pelos independentistas. No extremo norte, por sua vez, o papel de vilão foi assumido, com eficazes reveses oriundos de ações militar ordenadas de Yaoundé, pelo Boko Haram, tal cimo o fazem há mais tempo na vizinha Nigéria.

Caso deixem evidências de que os protestos de Kamto e seus aliados resultaram em distúrbios públicos servirem de baliza para suas decisões de possível apoio ao MRC, os poderes políticos e mercantis internacionais influentes sobre Camarões têm o próprio presidente ainda em exercício como mandatório destinatário de cobranças de eficazes respostas a essas crises inibidoras da vitalidade socioeconômica. Por quanto tempo se estenderão as aventuras de empreendedores que afirmarem disposição para fazer negócios nas áreas explosivas, atraídos por uma isenção tributária referendada no recente dia 2 por um decreto do primeiro-ministro Joseph Dion Gute,enquanto faltarem ações de combate às animosidades que não excluam suas causas como alvo?

Reservar montantes em dinheiro para a reabilitação da ordem em Camarões terá sido um mísero passo inicial dado pela ONU e pelo Banco dos Estados da África Central (BEAC). As intenções cabíveis a esses organismos para o país serão atestadas se as instituições não temerem posturas no mínimo reticentes do governo quanto à profundidade com que se há de monitorar a aplicação dos fundos, conduta indispensável para o caso da “crise anglófona”, dada a clareza de suas raízes. A aniquilação ou o desarmamento e captura penal de rebeldes dependem, para emanar plena eficácia, da concomitância de efeitos do empenho para que as língua inglesa e francesa coexistam na vida pública sendo usadas por seus respectivos grupos de falantes e ensinadas a seus opostos a fim de que juntem forças construtivas à sua pátria. A rendição de Biya e seus subordinados a esses novos princípios também há de despertar a consciência da agrupação para a toxicidade do posicionamento que, a despeito do perfil de seres tão mortais quanto os demais, adotam no tocante à acessibilidade da vida política a indivíduos capazes de lidar com muitos problemas públicos em consonância com as atuais facilitações e empecilhos.

Com seu renovado êxito em ficar no pódio, a força dominante macerou ainda mais os sentimentos coletivos atrelados à espera pelo atendimento às necessidades de cada indivíduo e grupo. Desta vez Biya e seus correligionários driblaram um partido adversário mais viril para servir de representante dos descontentes com o saldo eleitoral, a ponto de reclamar seu direito sobre a gestão central com uma convicção maior do que o suportável legalmente. As mobilizações partidas tanto de dentro quanto de fora do Estado africano por uma libertação contra a falta de respeito à alternância no governo e renovação dos métodos de exercício de autoridade, se convenientemente evitarem uma aliança com tais opositores, hão de ser comemoradas pelos mandatários em virtude do simples fato de envolver o azar de seus maiores rivais, até perderem a imunidade às pressões que então restarem como recurso para sanar as agonias da nação.

Victor Teixeira

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