CASO BRUNO – 09/07/2010
Mecanismo na área do cérebro responsável pela emoção causa total ausência de culpa e incapacidade de se colocar no lugar de quem sofre.
A frieza de Bruno nos primeiros dias de investigação sobre o desaparecimento da ex-amante Eliza Samudio deixou o País perplexo.
Sorridente, ele chegou a treinar por três dias em Vargem Grande, como se estivesse alheio às graves acusações.
Quarta-feira, ao se entregar na Polinter do Andaraí, sua reação surpreendeu novamente os que acompanham estarrecidos uma história que mais parece um roteiro de filme de terror. Preso, o acusado de seqüestro, homicídio e ocultação de cadáver tinha uma preocupação inacreditável: o risco de não participar da Copa do Mundo de 2014.
Segundo especialistas, não só o crime, como também as reações do atleta indicam a postura de um possível psicopata. “Não há dúvida de que esse crime foi premeditado e de uma frieza ímpar. Não é possível que não tenha sido idealizado por um psicopata. O criminoso psicopata não só mata: mata, manda tirar unha, esquarteja. Ele sabe o que faz. O psicopata é 100% razão e zero emoção”, disse a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro ‘Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado’.
A racionalidade dos psicopatas é tão forte que eles mentem com naturalidade. Segundo estudo realizado pelos neurologistas Jorge Moll e Ricardo Oliveira, o cérebro dos psicopatas é diferente. O distúrbio acontece no sistema límbico, parte responsável pelas emoções. Nessas pessoas, a atividade cerebral na região funciona menos do que deveria e, por isso, as emoções não afloram.
O cérebro dos psicopatas reage de forma igual, por exemplo, quando exposto tanto à imagem de um pôr do sol quanto à de criança espancada. “A área do cérebro responsável pelo julgamento moral, em que a pessoa avalia suas atitudes pensando no que isso representa para os outros, não é desenvolvida. Por isso, ele não sente culpa. O psicopata não tem empatia, ou seja, não tem a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando mata não pensa no sofrimento do outro: quer é se livrar do problema. E acha que cometeu o crime perfeito”, explica Vera Lemgruber, chefe do serviço de psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia.
Herói do Flamengo nos Cariocas de 2007 e 2009, quando o time foi campeão nos pênaltis, Bruno tinha num dos momentos mais delicados para um goleiro a mesma frieza que demonstra fora de campo. Mas “não se pode confundir capacidade de concentração com psicopatia”, diz a psicóloga Andréia Calçada.
Eliza Samudio está desaparecida desde o dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno.
No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado à polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a teria agredido para que ela tomasse remédios abortivos para interromper a gravidez.
Após o nascimento da criança, Eliza Samudio acionou a Justiça para provar a suposta paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza Samudio teria sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte.
Durante a investigação, testemunhas confirmaram à polícia que viram Eliza Samudio, o filho e Bruno na propriedade.
Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estaria lá.
A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade.
No entanto, durante o depoimento dos funcionários do sítio, um dos amigos de Bruno afirmou que ela havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Por ter mentido à polícia, Dayanne Souza foi presa, mas logo conseguiu a liberdade.
Na manhã desta quarta-feira, ela foi detida dentro de casa, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
O bebê foi entregue ao avô materno.
O goleiro do Flamengo e a mulher negam as acusações de que estariam envolvidos no desaparecimento de Eliza Samudio e alegam que ela abandonou a criança.
Fonte: Folha de Dourados