Ilson Boca Venâncio –
A ideia de escrever sobre a nossa feira livre veio a partir de uma conversa com o Sr Valdemar Zacarias de Macedo, natural de João Pessoa na Paraíba, nascido em 25/05/24 e sua esposa Dona Geralda Nunes de Macedo, nascida 03/09/25 em Natal-RN, de quem fui vizinho e freguês por muito tempo.
Eles vieram ainda jovens para Dourados, e trabalharam na feira até o tempo em que a idade lhes permitiram.
Ele me contou que vieram da Paraíba para Goiás casados e que só tinham a filha Fátima e trabalharam na lavoura, indo depois para São Paulo, Mirante de Paranapanema, onde plantaram amendoim em terra arrendada, cultivando a terra com arado e ali nasceram mais dois filhos.
Em um período de seca perdeu a lavoura e aí venderam o que sobrou partindo rumo à Dourados com os filhos que tinham na época dois anos de idade. Trouxe somente um cavalo branco com nome de Figueiro e aqui quando chegou comprou uma carroça e começou a negociar. Comprava porco e galinha, na colônia abatendo e vendendo a carne, tanto na rua quanto na feira livre.
Depois deixou a carne e partiu para as frutas, lembra saudoso dos amigos feirantes, João Pernambuco e Zé Cearense, eles combinavam e iam as três carroças, cada uma com dois ou três meninos para subir nas árvores e colher as frutas, para venderem na feira.
Assim percorriam em comboio vários lugares da colônia onde tinham pomar buscando laranja, mexerica e poncã para vender na feira livre.
Foi nessa nossa conversa, que me fez recordar dos tempos em que eu ainda criança, morava na Rua Santa Catarina, próximo a feira que era na Rua Maranhão!
Quando me mudei para a Rua Paraíba, a feira desceu para a Rua Santa Catarina. A feira começava em frente ao Grupo Escolar Joaquim Murtinho, onde eu estudava, sendo seu percurso obrigatório para mim, eu ia e vinha pela mesma calçada da escola. No terreno onde foi construído o Fórum, havia vários pés de cedro, e ainda hoje resta um! Era na sombra daquelas árvores que ficavam as carroças e animais.
A feira tinha o percurso de duas quadras, até a Rua Sergipe, onde na esquina havia outro terreno baldio, local em que ficava guardada as bancas.
Ao lado, antecedendo este terreno, ficava a tinturaria do Sr Décio Capilé, casa construída um pouco afastada para que sobrasse o espaço para estacionar a sua canoa de pesca, seu hobby preferido. Dizem até que ele era o pescador mais constante do Rio Dourados.
Do outro lado da rua, havia com destaque, o primeiro comércio de alimentação, onde os feirantes Yossi Myagui, Seikiti Myagui, Kio Kanashiro, Massa Kanashiro, com a ajuda das filhas Noemia e Margarida Myagui, montaram um quiosque para vender espetinho com mandioca, salgados e o cafezinho e até uma cachacinha “esquenta peito” que era servida discretamente para atender aos feirantes em tempos de frio e chuva. Esse local acabou se transformando em ponto de convergência para quem saia dos bailes nos clubes da cidade.
Assim se tornou hábito aos passeantes noturnos, em final de festas irem à feira para comer espetinho com mandioca amarelinha, e tomar cafézinho.
Essa historia me faz recordar quando nas madrugadas frias de garoa, eu via os feirantes passando em suas carroças e charretes, na penumbra da noite se ouviam o bochechar, e o som ritmado das patas dos cavalos no chão molhado. Para garantir uma iluminação eles traziam um lampião tipo “marinheiro” pendurado no varão.
Em uma conversa que tive com a Margarida ela me contou que os seus pais acordavam meia noite para preparar os produtos para levar a feira. Disse que o Sr. João Libório, responsável pelo transporte das mercadorias, tinha que chegar na casa deles, as duas horas da madrugada com sua charrete, pois as três horas começava o atendimento no quiosque na feira.
Essa feira palco de muitas histórias reforça a ideia que tinha Dona Geralda, quando em uma das nossas conversas me dissera que uma das coisas mais importante para o sucesso da feira livre, além da boa gestão colaborativa do poder público, era a união, o bom trato e o respeito, entre os feirantes e freguesia, que garantia e sustenta essa harmonia e o sucesso da feira livre!
Para mim que transito até hoje com muitos dos personagens dessa nossa feira e convivi com esse saudoso casal, Valdemar e Geralda, relembro com saudade e deixo aqui mais essa história da nossa feira livre e suas memórias.