Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –
Dourados, a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, é reconhecida pela relevância econômica e cultural na região, mas também é conhecida por rotina de altas temperaturas, agravadas com a urbanização crescente e a falta de áreas verdes adequadas. No centro dessa discussão está a Praça Antônio João, um espaço emblemático da cidade que, atualmente, mais se assemelha a um deserto de concreto do que a um refúgio público para encontros, lazer e descanso. Para transformar essa realidade, é preciso unir esforços de diferentes áreas do conhecimento e da gestão pública, promovendo o plantio de árvores e um redesenho que torne o local confortável, atrativo e funcional para as famílias e para a população douradense.
Praça e Problema do Deserto Urbano
O cenário atual da Praça Antônio João é alarmante. Poucas ou quase nenhuma árvore de porte significativo fornecem sombra suficiente para amenizar as altas temperaturas que castigam a cidade, especialmente nos meses de verão. O espaço, revestido em grande parte por concreto e materiais que absorvem calor, transforma-se em um verdadeiro “inferno térmico” em dias quentes, afastando a população e comprometendo sua função como um espaço público inclusivo e acolhedor.
De acordo com estudos geográficos e ambientais, a falta de vegetação em áreas urbanas não apenas aumenta a sensação térmica, mas também contribui para a formação de ilhas de calor, fenômeno que torna as regiões centrais das cidades mais quentes do que as áreas periféricas. A Praça Antônio João, que deveria ser um centro de convivência e lazer, tornou-se um espaço inacessível para muitos, especialmente crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida, que sofrem ainda mais com a falta de conforto térmico.
Por Que o Poder Público Municipal Deve Agir?
O espaço público deve ser um reflexo do bem comum. A praça não é apenas um espaço físico, mas um símbolo de convivência, pertencimento e igualdade. Quando o Poder Público negligencia a manutenção e requalificação de um espaço tão central quanto a Praça Antônio João, ele falha na responsabilidade essencial de garantir o acesso à cidade para todos os seus cidadãos.
O direito ao meio ambiente equilibrado, estabelecido na Constituição Federal de 1988, inclui o dever dos municípios de promover áreas verdes urbanas que sejam acessíveis e benéficas à população. A praça, como um espaço público, deve atender às necessidades coletivas, sendo um local seguro, confortável e ambientalmente sustentável.
A revitalização da Praça Antônio João com o plantio de árvores e um planejamento paisagístico eficiente traria impactos positivos diretos e indiretos para a economia local. Um espaço mais atrativo e confortável incentivaria o comércio ao redor, aumentaria o fluxo de turistas e criaria novas oportunidades para eventos e atividades culturais.
Árvores como Solução Multidimensional
O plantio de árvores na Praça Antônio João resolve muito mais do que o problema do calor. As árvores têm um papel crucial na melhoria da qualidade do ar, na redução da poluição sonora e na regulação do clima local. Espécies nativas e adaptadas ao clima da região não só garantiriam sombra, mas também contribuiriam para a biodiversidade urbana, atraindo pássaros, insetos polinizadores e promovendo um equilíbrio ecológico.
O planejamento deve priorizar árvores que forneçam copa densa e sombra ao longo do ano, como ipês, jacarandás e paus-brasil, que são espécies adaptáveis ao clima de Dourados. Além disso, é essencial que o projeto inclua arbustos e plantas menores para enriquecer o ecossistema local.
O redesenho da praça deve levar em consideração a interação entre o espaço urbano e as dinâmicas climáticas locais. O mapeamento das áreas mais expostas ao sol, a escolha estratégica de locais para o plantio e a criação de corredores verdes conectando a praça a outras áreas arborizadas da cidade são medidas indispensáveis para um planejamento eficaz.
Função do Urbanismo e da Arquitetura
A Praça Antônio João é uma oportunidade de transformar o espaço público em um local esteticamente agradável, funcional e sustentável. Além do plantio de árvores, é essencial repensar o mobiliário urbano, como bancos, iluminação e fontes de água, que tornem a praça mais convidativa. Pergolados, áreas de descanso e espaços interativos para crianças podem ser integrados ao projeto, criando um ambiente dinâmico e diverso.
A engenharia civil pode ser importante nesse processo, garantir que o redesenho da praça seja viável e durável. Materiais permeáveis podem ser utilizados no piso para evitar alagamentos e permitir a infiltração da água da chuva no solo, enquanto sistemas de irrigação automatizados podem ser instalados para garantir o crescimento saudável das árvores.
Impactos Sociais e Históricos
A Praça Antônio João não é apenas um espaço físico, mas também um local carregado de memória e identidade coletiva. A requalificação com o plantio de árvores e a criação de um ambiente acolhedor ajudariam a resgatar sua função como ponto de encontro e convivência. As praças sempre foram lugares de trocas sociais, manifestações culturais e expressão popular. Devolver a Praça Antônio João à população é devolver a ela um pedaço da história e da alma.
Conclusão: Praça Como Bem Comum
A necessidade de plantar árvores e requalificar a Praça Antônio João transcende questões estéticas ou pontuais. Trata-se de um compromisso ético, jurídico, social e ambiental com a população de Dourados. O Poder Público Municipal deve assumir a liderança desse processo, mobilizando recursos e parcerias para transformar o local em um verdadeiro oásis urbano.
Em tempos de mudanças climáticas e urbanização descontrolada, investir em áreas verdes não é um luxo, mas uma necessidade. A Praça Antônio João pode e deve ser um espaço onde as famílias se reúnam, as crianças brinquem e a população encontre um refúgio do calor e do caos urbano. Com árvores, sombra e planejamento, o que hoje é um deserto pode se tornar o coração pulsante de Dourados, um local de conforto, convivência e orgulho para todos os douradenses.
(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.