Ele completou 45 anos no mês passado, tendo sido eleito para o primeiro mandato (período de 2017 a 2020) com 85% dos votos, sendo um dos mais jovens prefeitos de sua geração. Foi reeleito em 2020, para o mandato que termina esse ano.
Desde que se formou em Geografia, há 25 anos, Jean Sergio Clavisso Fogaça exerceu diversas funções, principalmente na área educacional: professor, diretor de escola e sindicalista, como presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Simted) de Douradina.
A Folha de Dourados entrevistou o prefeito douradinense e descobriu que o sucesso na carreira educacional foi o principal responsável pelo seu ingresso na política, e que a decisão de ser professor contrariou os desejos do pai, que o queria advogado, mas não da mãe, que o aconselhou: “seja o que você quiser ser, mas procure ser o melhor e o mais competente que puder”.
Leia, a seguir, a íntegra da entrevista, na qual Jean Fogaça fala dos desafios que encontrou, das conquistas e das perspectivas para o desenvolvimento de Douradina, nos próximos anos.
Folha de Dourados – O senhor está a cinco meses de concluir a sua administração. Qual o balanço que faz dessa gestão que está terminando?
Jean Fogaça – Olha, primeiro é o sentimento de dever cumprido. Eu sempre encarei que estar prefeito é uma missão que Deus confiou para mim. E quando eu entrei, há sete anos e meio, a gente tinha muitos sonhos e muitos objetivos, mas eles eram muito distantes da realidade. Mas no dia 31 de dezembro, quando se encerrar o meu mandato, poderei dizer, com certeza, que conseguimos fazer muito mais do que eu sonhava quando era pré-candidato. Eu tenho certeza de que o legado que a gente vai deixar de trabalho, de modernização, de obras no município de Douradina, vai ficar por muito tempo na história. Mas mesmo assim vou torcer para que o meu sucessor consiga fazer muito mais do que eu fiz.
“Vamos deixar obras para serem entregues por quem me suceder, ainda por uns três ou quatro anos”
O que o senhor destaca como marcas da sua administração?
Nós não temos uma única marca, dizer que em determinado setor a gente se destacou mais do que aquele. No geral, todas as pastas e áreas prioritárias tiveram avanços muito grandes. Mas eu acredito que mais do que qualquer pedra, mais do que qualquer prédio, do que qualquer asfalto, qualquer obra que a gente tenha feito no município de Douradina (e foram centenas ao longo desses últimos anos), a gente deixa um legado de respeito às pessoas, a gente deixa um legado de valorização dos servidores municipais, um legado de trabalho árduo, trabalho obstinado, a certeza de que ninguém faz nada sozinho e que com parceiros a gente consegue fazer muita coisa.
“Conseguimos fazer muito mais do que eu sonhava quando fui pré-candidato, há oito anos”
Mas no conjunto das suas realizações, houve alguma área que se destacou?
A da saúde. Nós fizemos uma revolução na área da saúde, com melhorias no transporte de pacientes, com novos veículos, ambulâncias, e atendimento de qualidade. Douradina nunca tinha tido médico especialista, hoje você tem cardiologista atendendo no posto, você tem pediatra, você tem neurologista, você tem vascular, você tem psicólogo, você tem psiquiatra… Na divisão de tarefas do SUS, Douradina é responsável pela atenção básica, então a gente não precisava ter esses atendimentos, mas temos. E aí, na área de infraestrutura, asfalto e drenagem, vamos entregar o mandato com cem por cento da cidade asfaltada, cem por cento dos distritos asfaltados, bem como as rodovias Douradina-Itaporã, Douradina-Panambi, e Douradina-BR-163, uma obra parada havia mais de 20 anos. Na verdade, estou muito feliz pelo legado que vamos deixar.
“Vamos deixar um legado de respeito às pessoas, de valorização dos servidores, de trabalho árduo; e a certeza de que ninguém faz nada sozinho”
Fazendo uma comparação entre o mandato anterior e esse, qual dos dois o senhor considera melhor?
Todo mundo fala que no segundo mandato o prefeito, o governador, ou o presidente trabalha menos do que no primeiro, ou faz menos. Porque dizem que ele se cansa. Mas por incrível que pareça, nós somos exceção. No primeiro mandato realmente plantamos as bases, organizamos a casa, construímos parcerias e formatamos uma base sólida de apoio com deputados federais, deputados estaduais, senadores e o governo estadual, organizando tudo que tinha que organizar. Para você ter uma ideia, no primeiro mandato a minha primeira obra demorou um ano e quatro meses para acontecer. Para se ver como é a dificuldade de estabelecer essas parcerias e fazer as coisas andarem. E agora, no segundo mandato, vamos de vento em popa. Toda semana tem uma novidade, toda semana tem um anúncio a ser feito. Então, com certeza, o segundo mandato foi melhor do que o primeiro.
“A administração pública é um desafio enorme. Todo dia você tem um problema para ser corrigido”
Quais as entregas que sua administração fará até 31 de dezembro próximo?
Dizem que oito anos de Prefeitura é bastante tempo, mas nós vamos deixar obras para serem entregues pelo meu sucessor ainda por uns três, quatro anos. Mas deveremos concluir, ainda esse ano, o recapeamento da Presidente Vargas, cem por cento de asfalto no Distrito de Cruzaltina, no Distrito de Bocajá, o recapeamento da Presidente Dutra, e a conclusão da casa de passagem. Vamos dar início às obras de asfalto do Abraão Nunes, do José Félix, do Maroca, e do Polo Industrial, que é um projeto de R$ 5,1 milhões. Vamos iniciar também a construção de 50 casas populares. São obras que vão ultrapassar o mandato. Realmente, grande parte delas não vão estar prontas para inaugurarmos esse ano. Resta-nos torcer para que quem me suceder dê continuidade a essas obras e que elas sejam entregues para a população, porque é pela população que nós trabalhamos. Independente de nome na placa ou de descerrar a placa, o importante é que o resultado chegue lá na ponta, no morador da cidade.
“O nível de política feito pela oposição em Douradina é muito baixo, com denúncias vazias e falta de respeito”
Parte desse sucesso seria consequência da parceria com o governo do estado?
Olha, eu diria que nenhum município com menos de 20 mil habitantes consegue fazer um bom trabalho se não tiver uma parceria sólida com o Governo do Estado. Muito se fala em municipalismo, mas você precisa realmente ter credibilidade. Não adianta o governador falar: olha, eu vou colocar 20 milhões no município de Douradina se a administração não tiver credibilidade, porque você não terá as portas abertas do secretariado do governo. É preciso ter projeto, ter equipe técnica, ter um corpo de pessoas que trabalham para entregar tudo lá na ponta e fazer isso chegar à administração estadual. Então, a parceria com o Governo do Estado é fundamental. Mas não é só em relação ao governo do Estado, é preciso estar bem relacionado também com a bancada federal e com os deputados estaduais.
“Não adianta o governador falar: vou colocar tantos milhões no município, se a administração não tiver credibilidade”
Então tem que haver uma parceria política com os diversos níveis da administração pública…
Eu sempre falo: ninguém consegue construir nada sozinho. Se você não tiver os parceiros, e aí nós não podemos ser hipócritas, porque os deputados estaduais, federais, eles têm a sua base eleitoral. E o deputado, quando ele vai destinar as emendas, ele vai olhar lá e vai dizer: escuta, quantos votos eu tirei lá em Douradina? Quantos votos eu tirei em Dourados, em Itaporã, em Fátima do Sul, em Rio Brilhante? Ele vai olhar, e a destinação das emendas vai ser proporcional a isso. Falar diferente é hipocrisia. Governo do Estado é a mesma coisa. Ele também tem as suas prioridades. Então, parceria é fundamental para tocar um município.
Como está sendo construído o seu grupo político, visando a sua sucessão?
Desde quando eu assumi o segundo mandato, estamos trabalhando a construção, não apenas de um nome. Achar um candidato é muito fácil, mas além disso nós construímos um modelo que possa dar continuidade a tudo aquilo de bom que foi feito nesses oito anos, para que o sucessor conserte, também, os problemas que não conseguimos sanar. É muito fácil a gente falar só das realizações, mas a administração pública é um desafio enorme. Todo dia você tem um problema para ser corrigido. E não será diferente, o sucessor terá muita coisa que não conseguimos fazer e que esperamos que ele consiga. Nós deixamos sempre aberta a porta para as pessoas do nosso grupo político que se dispuserem a assumir uma candidatura e isso fluiu naturalmente. Assim, surgiu o nome do professor Lúcio, que é o pré-candidato a prefeito pelo PSDB aqui, do nosso grupo político. O nome dele foi crescendo, fomos fazendo avaliações e pesquisas, ouvindo as pessoas. Porque não adianta impor um nome, a política já mostrou isso. Não adianta o prefeito, o vice-prefeito, ou o presidente da Câmara escolher quem ele quer que seja o candidato ou a candidata. Esse nome tem que vir da voz das ruas, da voz das pessoas. E o nome do professor Lúcio foi se tornando consenso, e ele tem o total apoio do nosso grupo político para enfrentar esse desafio que se inicia nos próximos dias.
E a oposição? Como ela se comporta no atual cenário político em Douradina?
Até o pessoal da justiça eleitoral fala que não tem um município que pega tanto fogo em época de eleição como Douradina. Infelizmente, o nível da política aqui, por parte da oposição, é muito baixo, e eu digo uma coisa como professor, como geógrafo, como democrata: qualquer pessoa tem o direito de ficar do lado A ou do lado B, de colocar o seu nome à disposição como candidato a prefeito, a vice-prefeito, a vereador. Isso é da democracia. Tem gente que num mandato está de um lado, e lá na frente está em posição oposta. E isso é natural. O que ninguém tem direito de fazer, é de ofender as pessoas, é julgar as pessoas sem conhecimento, é condenar as pessoas pelo que ela acha. E nessa época de ascensão das redes sociais, a oposição faz um desserviço para o município de Douradina, fazendo denúncias no vazio, prejudicando as pessoas, atrapalhando o andamento da Prefeitura, das obras, e num total desrespeito às pessoas. Volto a dizer: ser candidato ou candidata é um direito de qualquer um. Agora, atacar ou ofender as pessoas sem nenhum tipo de respeito, eu considero isso de um nível muito baixo, acho desprezível, e tenho certeza de que grande parte da população de Douradina também vê dessa forma e avalia que esse tipo de pessoas não têm condições de administrar o município. Porque quando você vê um irmão atacando outro irmão por causa de política, uma irmã atacando uma irmã por causa de política, um cunhado atacando uma cunhada por causa de política, ofendendo, achincalhando, jogando o nome no lixo, isso não é política. Se alguém faz isso com um parente, imagina o que pode fazer com o cidadão comum.
Qual que é o seu futuro depois que deixar a prefeitura? Vai atuar em qual área?
Eu sou professor de carreira do Estado de Mato Grosso do Sul, e não tenho problema nenhum de voltar a trabalhar na minha função como professor. Estive muitos anos em sala de aula, fui diretor de escola, presidente de sindicato, e minha vida toda é ligada à área da educação mesmo. Mas tenho alguns convites do Governo do Estado para trabalhar em algum órgão estadual, como também tenho convites para atuar na Assembleia Legislativa, e estou avaliando o que é melhor, não para a pessoa do Professor Jean, mas avaliando o que é melhor para o município de Douradina, ou seja, onde eu poderei contribuir mais. Se eu puder continuar, mesmo fora do cargo, contribuindo e ajudando o município de Douradina em algum lugar no Governo do Estado, eu acho importantíssimo. Se for na Assembleia Legislativa, estarei lá também. Mas o futuro a Deus pertence. Vamos terminar o mandato focado cem por cento nesses cinco meses e alguns dias que ainda tenho. E depois, em 2025, vamos decidir nosso futuro.
“O prefeito escolher quem ele quer como candidato não é garantia de vitória. O nome tem que vir da voz das ruas”