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Retrocesso das escolas cívico-militares em Dourados

Reinaldo de Mattos Corrêa (*) –

Recentemente, a cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, tem sido palco de debates calorosos em torno da implementação das escolas cívico-militares. Esse modelo, que combina a disciplina militar com a educação tradicional, tem sido visto por alguns como um remédio para os problemas crônicos de indisciplina e baixo desempenho acadêmico. No entanto, uma análise filosófica mais profunda revela que a aprovação dessas escolas significa um retrocesso significativo em termos de educação e cidadania à sociedade douradende.

A Educação como Instrumento de Libertação

O filósofo brasileiro Paulo Freire, na obra “Pedagogia do Oprimido”, argumenta que a educação deve ser um processo de libertação, permitindo que os indivíduos desenvolvam uma consciência crítica de sua realidade. As escolas cívico-militares, com sua ênfase na disciplina e na obediência, parecem contrárias a essa visão. Essas promovem uma educação bancária, onde o aluno é um receptor passivo de informações, em vez de um agente ativo no processo de aprendizagem.

Dialética da Disciplina e da Liberdade

Jean-Jacques Rousseau, em “Emílio, ou Da Educação”, nos lembra que a verdadeira educação deve equilibrar a disciplina com a liberdade. A imposição de um modelo cívico-militar pode sufocar a criatividade e a autonomia dos estudantes, elementos essenciais para a formação de cidadãos críticos e participativos. A disciplina, quando excessiva, pode gerar conformismo e medo, em vez de respeito e responsabilidade.

Ilusão da Ordem

O argumento a favor das escolas cívico-militares frequentemente se baseia na promessa de ordem e segurança. No entanto, Michel Foucault, em “Vigiar e Punir”, alerta-nos sobre os perigos de uma sociedade que valoriza excessivamente a vigilância e o controle. A ordem imposta pode criar uma falsa sensação de segurança, mas à custa da liberdade individual e da diversidade de pensamento.

Educação e Democracia

John Dewey, um dos maiores filósofos da educação, defendia que a escola é um microcosmo da sociedade democrática. A implementação das escolas cívico-militares em Dourados pode representar um afastamento dos princípios democráticos, promovendo uma cultura de obediência cega em vez de participação ativa. A democracia exige cidadãos que questionem, que debatam, que participem; não meros seguidores de ordens.

Conclusão: Caminho da Educação Emancipadora

A aprovação das escolas cívico-militares em Dourados deve ser vista com cautela, e essa medida revista. Embora a disciplina e a ordem sejam importantes, elas não devem ser alcançadas à custa da liberdade, da criatividade e da participação democrática. A verdadeira educação deve emancipar, não subordinar. Deve inspirar o questionamento, não a conformidade. Em última análise, a educação cívico-militar pode representar um retrocesso, impedindo o desenvolvimento pleno do potencial humano e a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa.

Assim, cabe a nós, como sociedade, refletir profundamente sobre os objetivos da educação e os meios para alcançá-los. Devemos buscar formas de educar que promovam a autonomia, a crítica e a participação, em vez de aceitar soluções simplistas que prometem ordem, mas oferecem, em troca, a perda da liberdade.

(*) Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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