O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, interrompeu a visita inédita que realizava à África do Sul e retornará mais cedo à Ucrânia, depois de um violento ataque russo a Kiev, na noite desta quarta-feira (23). Em Washington, o presidente Donald Trump pressiona para que o líder ucraniano aceite um projeto de acordo de paz desenhado pelos americanos.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, interrompeu a visita inédita que realizava à África do Sul e retornará mais cedo à Ucrânia, depois de um violento ataque russo a Kiev, na noite desta quarta-feira (23). Em Washington, o presidente Donald Trump pressiona para que o líder ucraniano aceite um projeto de acordo de paz desenhado pelos americanos.
Um dos mais pesados bombardeios à capital ucraniana desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, matou ao menos oito pessoas e deixou mais de 70 feridas, entre elas ao menos seis crianças. As forças russas dispararam 70 mísseis e 145 drones em seis regiões do país, de acordo com a Força Aérea Ucraniana, que afirmou ter interceptado 112 projéteis.
Várias cidades foram alvos, incluindo Kiev. O ministro ucraniano do Interior, Igor Klymenko, disse que provavelmente o número de mortos na capital aumentaria, já que ainda havia corpos “sob os escombros”.
O exército russo garantiu, em comunicado, que tinha como alvo e “atingido” apenas empresas ucranianas ligadas ao complexo militar-industrial. No distrito de Sviatochynskiy, no oeste de Kiev, entretanto, um prédio residencial foi destruído. Os moradores ainda se recuperavam do susto nesta manhã.
“As janelas foram quebradas, as portas foram arrancadas das dobradiças”, contou à AFP Olena Davydiouk, uma advogada de 33 anos, ainda em choque. “Tenho sorte de ainda estar viva”, afirmou.
Em frente ao seu prédio, com as janelas quebradas, Anna Balamout, outra moradora, acredita que somente um “milagre” salvou a vida dela e de seus dois filhos.
Zelensky permanece irredutível sobre a Crimeia
Em meio à intensificação da ofensiva, Zelensky cancelou parte da viagem que fazia à África do Sul, logo após uma reunião com o presidente Cyril Ramaphosa. O líder ucraniano retornaria “imediatamente” à Ucrânia nesta quinta-feira.
Em uma coletiva de imprensa em Pretória, Zelensky reiterou que não reconheceria a Crimeia como russa. A questão da península, anexada por Moscou em 2014, está no centro das tensões com Washington, que tem buscado costurar um acordo de paz favorável a Moscou.
“Estamos fazendo tudo o que nossos parceiros propuseram, exceto o que contradiz nossa legislação e a Constituição”, que estipula que a Crimeia é parte da Ucrânia, indicou Zelensky.
A presidência ucraniana acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de ter “apenas o desejo de matar”. Nas redes sociais, Zelensky pediu para Moscou cessar seus ataques “imediata e incondicionalmente”.
Trump volta a acusar presidente ucraniano de bloquear acordo
Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou Zelensky de bloquear um possível acordo com a Rússia. Em uma nova série de declarações, o líder norte-americano acusou o presidente ucraniano de fazer comentários “inflamatórios” sobre a Crimeia.
Trump insiste que um pacto com Moscou estaria “muito próximo” e retomou elementos da retórica do Kremlin sobre as causas do conflito. Para o presidente americano, a Crimeia está “perdida” para a Ucrânia há “anos”.
“Isso está completamente de acordo com nosso entendimento e com o que temos dito há muito tempo”, declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, em seu briefing diário, acrescentando que “apreciou a mediação de Washington”.
Na terça-feira, Volodymyr Zelensky havia sido firme sobre o assunto: “Não há nada a discutir (…) Este é o nosso território”, reiterou.
Putin mantém condições para a paz
Vladimir Putin parece considerar que o tempo está do seu lado. Seu exército avança lentamente no leste da Ucrânia, contra forças de Kiev menos equipadas e em menor número. Assim, o líder russo mantém inalteradas as suas exigências para um cessar-fogo: uma capitulação da Ucrânia, que o país abandone o projeto à adesão à Otan e que as cinco regiões ucranianas atualmente controladas pela Rússia sejam oficialmente anexadas.
Para Kiev e seus aliados europeus, essas condições são inaceitáveis. A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, respondeu aos ataques da noite desta quarta-feira, denunciando a Rússia como o “verdadeiro obstáculo” à paz.
Neste contexto incerto, o enviado americano Steve Witkoff deve visitar a Rússia esta semana, pela quarta vez desde a reaproximação diplomática de Washington com Moscou.
Presidente da África do Sul deve se encontrar com Trump
A viagem de Zelensky é mais um sinal da mudança de tom de Pretória em relação ao conflito. A visita ocorre dois meses após a aprovação inédita, pela África do Sul, de uma resolução da ONU que descreve a guerra como “uma invasão total da Ucrânia” pela Rússia e “reafirma seu comprometimento” com a “integridade territorial” do país.
Historicamente, os sul-africanos defendem as posições da Rússia. Na última cúpula do Brics, em outubro, Cyril Ramaphosa ainda descrevia Moscou como um “valioso aliado e amigo”.
Durante a visita de Zelensky, Ramaphosa anunciou pela rede social X que havia falado sobre a guerra na Ucrânia com Donald Trump e que deveria se encontrar “em breve” com o líder americano. “Ambos concordamos que a guerra deve terminar o mais rápido possível para evitar mais mortes desnecessárias”, escreveu o presidente sul-africano.
(Com informações da AFP)
(Terra)