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Tiago: ‘Se Marçal for capaz de diálogo, Elias e Franklin podem ajuda-lo junto ao governo Lula’

Juliel Batista –

O professor universitário e advogado, Tiago Botelho (PT), se tornou nome conhecido na política sul-mato-grossensse pelas duas recentes performances eleitorais: Senado, em 2022, onde conseguiu 13,07% do eleitorado de MS, e no ano passado, na disputa à prefeitura de Dourados, quando teve a maior votação do PT, desde os tempos do ex-prefeito Laerte Tetila – 2001-2008.

Em entrevista exclusiva à Folha de Dourados, e de volta à Superintendência do Patrimônio da União (SPU-MS), Tiago fez balanço de seu desempenho eleitoral e do PT nas eleições de outubro de 2024, analisou o governo Lula e as expectativas políticas para o futuro.

Sobre a eleição municipal passada, Tiago Botelho enxergou com bons olhos o desempenho de seu partido em Dourados. “Saímos fortalecidos com várias novas lideranças. O diretório do PT de Dourados e a militância mostraram sua força”, disse.

Quanto a conduta da bancada petista na Câmara Municipal (Elias Ishy e Franklin), Tiago Botelho defende posicionamento “de forma independente e crítica. Marçal foi eleito, ainda que não acreditemos no projeto dele, acreditamos em Dourados, portanto, tudo aquilo que for bom para nossa cidade, enquanto vereadores, tenho certeza que vão trabalhar incansavelmente apoiando o novo prefeito”.

Mas, faz uma ressalva: “Marçal, se tiver humildade, maturidade política e for capaz de diálogo, terá em Franklin e Elias dois quadros importantes para defenderem Dourados em Brasília junto ao presidente Lula. Mas, para isso, terá que romper o extremismo e colocar Dourados em primeiro lugar”.

Ao analisar as críticas feitas ao PT e a esquerda em geral, Tiago salientou que apesar de o discurso petista não ter envelhecido, a comunicação continua falhando, pois não consegue mostrar todos os feitos realizados junto à população.

Em relação ao futuro, Tiago e seu grupo trabalham por candidatura à Câmara Federal, em 2026.

“Há um desejo do meu grupo politico que construamos a candidatura a deputado federal. (…). O interior de MS precisa de um deputado que seja e entenda do interior.”

Confira a entrevista na íntegra:

Folha de Dourados – Nas eleições municipais passadas, o senhor conseguiu 17.845 votos – 14,78 % do eleitorado. Na disputa para o Senado, em 2022, teve 21.708 votos, apenas em Dourados. Como analisa a queda no desempenho em sua cidade base em 3.863 eleitores?
 
Tiago Botelho – Não teve queda. São votações muito próximas, apesar de eleições muito diferentes. Na eleição de Senado era o único candidato ao senado de Dourados. Na eleição de prefeito disputei com 7 outros douradenses. É importante destacar, também, que Marçal e Alan tiveram mais que o dobro de financiamento eleitoral público e isso impacta diretamente. Das viáveis, fomos a candidatura com o menor recurso financeiro e, mesmo assim, obtivemos uma expressiva votação. É a maior votação do PT depois do ex-prefeito Tetila. Saio animado e certo de que não vamos desistir. Agradeço aos quase 18 mil douradenses que acreditaram em nosso projeto.

“É a maior votação do PT depois do ex-prefeito Tetila. Saio animado e certo de que não vamos desistir.”

Folha de Dourados – Ainda no debate sobre as eleições municipais, que consagrou o candidato do PSDB, Marçal Filho, como prefeito da cidade de 2025 a 2028, a Câmara Municipal continuará, majoritariamente, à direita. Qual sua avaliação sobre o desempenho da esquerda e do PT, em Dourados, e em Mato Grosso do Sul?
 
Tiago Botelho – Em Dourados, o desempenho da esquerda obteve avanços e vejo um cenário positivo para o futuro. Saímos de um vereador para dois, elegendo Franklin, com a segunda maior votação; tendo Cris Terena, uma mulher indígena, como a primeira suplente de vereadora; e, na majoritária, a melhor votação para prefeito desde o pleito que elegeu Tetila. Saímos fortalecidos com várias novas lideranças. O diretório do PT de Dourados e a militância mostraram sua força.

“a esquerda obteve avanços (…) na majoritária, a melhor votação para prefeito desde o pleito que elegeu Tetila. Saímos fortalecidos com várias novas lideranças.”

Folha de Dourados – O discurso do PT envelheceu e a estratégia de marketing do partido está superada?
 
Tiago Botelho – O discurso do PT não envelheceu e jamais envelhecerá. O PT é um partido de massa que representa trabalhadores, indígenas, LGBTs, evangélicos, microempresários, negros, sem-terras, mulheres e tantos outros. O PT luta pela melhoria da vida de todos, do grande ao pequeno, do agronegócio à agricultura familiar. Nós não perseguimos ou excluímos, como faz o bolsonarismo.

“Um governo é o que ele comunica. Precisamos melhorar a forma como comunicamos nosso feitos”

Um governo é o que ele comunica. Precisamos melhorar a forma como comunicamos nosso feitos. Por exemplo, a taxa de pobreza caiu para mínima histórica de 27,4% e a taxa de miséria caiu para a mínima histórica de 4,4% , mas não estamos conseguindo transformar tais dados, extremamente positivos, em comunicação que reverta em capital político.

É um erro do governo federal, que se replica em nível estadual, não ter uma comunicação que consiga expressar a grandeza do governo Lula. O diretório estadual do PT e nossa bancada precisam se apropriar das grandes obras do governo Lula.

Folha de Dourados – Depois do embate eleitoral, onde ficou em 3º lugar na disputa pela prefeitura de Dourados, na sua opinião, como os vereadores do PT (Elias Ishy e Franklin) devem se posicionar em relação ao prefeito Marçal Filho?

Tiago Botelho – Elias e Franklin, na minha opinião, devem se posicionar de forma independente e crítica. Marçal foi eleito, ainda que não acreditemos no projeto dele, acreditamos em Dourados, portanto, tudo aquilo que for bom para nossa cidade, enquanto vereadores, tenho certeza que vão trabalhar incansavelmente apoiando o novo prefeito. Todavia, fazendo oposição necessária e cobrando mais transparência e diálogo, pois, Dourados não aguenta mais gestões inertes e incompetentes. Marçal, se tiver humildade, maturidade política e for capaz de diálogo, terá em Franklin e Elias dois quadros importantes para defenderem Dourados em Brasília junto ao presidente Lula. Mas, para isso, terá que romper o extremismo e colocar Dourados em primeiro lugar.
 
Folha de Dourados – Atualmente o senhor ocupa um cargo de alta relevância na administração pública, o de superintendente do Patrimônio da União em Mato Grosso do Sul. Como está sendo essa experiência, principalmente quanto a relação com os prefeitos do estado.
 
Tiago Botelho – Quando assumi a SPU, era um órgão desconhecido e pouco expressivo no estado. Mudamos essa realidade, construindo ações concretas com prefeitos e o governador, independente do partido político que o gestor pertença. Tiramos a SPU da décima colocada em nível nacional de entrega do patrimônio federal para municípios e estado para primeira. Fomos destaque na Marcha dos Prefeitos pela ministra Esther Dueck, na governança do patrimônio federal. A SPU, hoje, está presente em várias frentes, como na Casa da Mulher Brasileira, nas escolas, nas creches, em casas populares, na delegacia, em órgãos públicos, em fórum, na regularização fundiária urbana e em tantas outras. Nossa meta é terminar o terceiro mandato do presidente Lula com, ao menos, uma ação efetiva da SPU nos municípios que o governo federal tenha patrimônio.

“A SPU, hoje, está presente em várias frentes, como na Casa da Mulher Brasileira, nas escolas, nas creches, em casas populares, na delegacia, em órgãos públicos, em fórum, na regularização fundiária urbana e em tantas outras.”

Folha de Dourados – No próximo ano ocorrem as eleições para a direção do PT, inclusive aqui em Dourados. Qual é o seu prognóstico dessa disputa? O senhor pretende disputar a presidência do partido em Dourados?
 
Tiago Botelho – Defendo a unidade interna do PT, pois temos que estar unidos na reeleição de Lula em 2026. Não dá para intensificar uma disputa interna no primeiro semestre de 2025, para, só em 2026, organizarmos o partido nos 79 municípios.

Por onde ando, digo: o PT precisa se renovar. O PT precisa ampliar suas novas lideranças. Não falo de jogar fora os antigos quadros. Pelo contrário, sei da importância do Zeca, do Vander e do Pedro, mas precisamos ter prioridade em construir novas lideranças. Quando digo prioridade, me refiro à garantia de destinação do fundo eleitoral nas campanhas, à abertura de espaço no diretório e ao empoderamento das novas lideranças nas discussão das emendas.

A extrema-direita tem valorizado mais as novas lideranças que a esquerda, basta ver o quanto de políticos novos de extrema direita tem no MS. Estou à disposição do PT tanto em nível estadual quanto municipal em sua eleição interna. Quero ajudar a construir o PT. A eleição municipal nos exige capacidade de crítica. O PT é uma potência no MS, mas só elegeu 37 vereadores e nenhum prefeito. Precisamos investir mais tempo organizando o nosso partido. Tenho disponibilidade, interresse e competência para fazer isso.

“Estou à disposição do PT tanto em nível estadual quanto municipal em sua eleição interna. Quero ajudar a construir o PT. A eleição municipal nos exige capacidade de crítica.”

Folha de Dourados – O senhor já é visto como uma liderança jovem e um dos quadros mais fortes do PT em Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, lideranças partidárias já pensam nas eleições de 2026 em âmbito estadual e federal, e a pergunta que muitos opositores e do seu mesmo campo questionam: o senhor vai disputar algum cargo em 2026, se sim, qual seria?
 
Tiago Botelho – Quem tem sonho e constrói projeto coletivo não desiste com as derrotas. Antes de ser político partidário, sou advogado e professor concursado da universidade. Isso me coloca em local muito confortável. Meu grupo político e eu entendemos que tivemos derrotas eleitorais, mas vitórias políticas. As eleições de senado e de prefeito mostraram que nossa política se faz coletivamente e que perder eleitoralmente de forma honesta é ganhar. Há um desejo do meu grupo politico que construamos a candidatura a deputado federal. Estou muito propício e, com a ida do Vander como candidato ao Senado, vejo como viável nossa candidatura enquanto deputado federal do interior. Quase todos os deputados federais ou são de CG ou se mudaram para lá e esqueceram do interior. O interior de MS precisa de um deputado que seja e entenda do interior.

“Há um desejo do meu grupo politico que construamos a candidatura a deputado federal. Estou muito propício e, com a ida do Vander como candidato ao Senado, vejo como viável nossa candidatura”

Folha de Dourados – No plano nacional, o PT está no poder com o presidente Lula. O senhor acredita que o partido estará forte para a disputa legislativa federal e à própria presidência, em 2026? E em MS, qual é o seu prognóstico para o partido?
 
Tiago Botelho – Reconstruir o Brasil não é tarefa fácil. Bolsonaro destruiu tudo e nosso governo está provando que incluindo o povo no orçamento o país começa a melhorar. Salário-mínimo com alta de 7,5% (acima da inflação), Aumento real da renda de 2,1%, Menor inflação em quatro anos, Menor índice de desemprego da série histórica (6,1%). Quem aposta contra o governo Lula vai se dar mal. 2025 será um ano ainda melhor. Expandimos o mercado internacional e o mundo olha o Brasil com bons olhos. Tenho absoluta certeza que reelegeremos Lula e ampliaremos nossa bancada de deputados e senador.

“Tenho absoluta certeza que reelegeremos Lula e ampliaremos nossa bancada de deputados e senador”

Folha de Dourados – O senhor foi um dos articuladores para a solucionar a falta d’água na Reserva Indígena de Dourados. Como está essa questão? Terá alguma solução definitiva?
 
Tiago Botelho – Quem conquistou água nas aldeias foram os indígenas a partir da luta e do fechamento da rodovia. Sou apenas um apoiador da causa indígena e não vou aceitar que um governador que se elegeu com voto indígena bata com truculência em seres humanos que lutavam por água. Só o PT é capaz de resolver a questão da água nas aldeias. Quem levou água para os indígenas no passado foi o Tetila e, agora, quem vai levar é o Lula.

“não vou aceitar que um governador que se elegeu com voto indígena bata com truculência em seres humanos que lutavam por água”

Folha de Dourados – Internamente, dentro do PT, tem defendido a saída do partido do governo Riedel. Por que?
 
Tiago Botelho – O governo Riedel precisa parar de esconder o PT. Quem deu a vitória para ele no segundo turno fomos nós, pois temos responsabilidade política. Não apostamos no “quanto pior, melhor”. Ao dar subsecretarias esvaziadas para o PT quem perde é a gestão dele. Nós temos um acúmulo de políticas públicas e profissionais que sabem resolver os problemas sociais que afetam nosso estado. Não adianta se preocupar apenas com PIB, precisamos desenvolver o IDH. MS ainda está no mapa da fome, por exemplo.

“Não adianta se preocupar apenas com PIB, precisamos desenvolver o IDH. MS ainda está no mapa da fome, por exemplo”

Lula o trata com dignidade e respeito. Mas em nível estadual sinto desdenho por parte dele. Fora as atitudes inaceitáveis, como bater em indígenas que lutam por água.
Ou Riedel melhora sua relação com o PT, inclusive abrindo secretarias para o partido e dando mais atenção às questões sociais no início de 2025, ou defendo que saiamos do governo e façamos uma oposição ferrenha. O PT não é um “partidinho”. Riedel precisa ser mais respeitoso conosco. Temos 5 deputados e o governo federal. Lula investiu 18 bilhões só em 2024 no MS. Desafio ele falar quanto o Bolsonaro investiu na gestão do PSDB por ano.

“Ou Riedel melhora sua relação com o PT, inclusive abrindo secretarias para o partido e dando mais atenção às questões sociais no início de 2025, ou defendo que saiamos do governo e façamos uma oposição ferrenha”

Folha de Dourados – Saída agora do PT do governo Riedel não comprometeria os avanços na questão da agricultura familiar, por exemplo?
 
Tiago Botelho – Quem tem mais a perder com a saída do PT do governo Riedel é ele, mesmo porque, hoje, o PT ocupa espaços sem orçamentos próprios e mesmo com muita dificuldade nossos companheiros tem se deixado ao máximo. Não tenho mandato, mas minha sugestão é que os 5 deputados e as duas ministras de MS que ocupam espaço no governo Lula (Simone e Cida) se reúnam com Riedel e repactuem a relação política e social no início de 2025. Politicamente, temos que ter mais espaço no governo, com secretarias, e socialmente o governo Riedel precisa ter práticas mais humanas e menos conservadoras.

“Quem tem mais a perder com a saída do PT do governo Riedel é ele, mesmo porque, hoje, o PT ocupa espaços sem orçamentos próprios e mesmo com muita dificuldade nossos companheiros tem se deixado ao máximo”

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